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Margot

- Mas que cacete você tá fazendo?

- Olha, eu-

- Como assim? Pensei que era o que você queria!

- O Ross e eu-

- Que se foda o Ross!

- Você sabe que não é simples assim.

- Porra, Margot! Aquele babaca tá feliz lá com os terninhos dele, deixe esse cara pra lá!

- Quer parar por um segundo?! Mas que merda!

Respiro profundamente, fechando os olhos e apertando ainda mais o celular nas minhas mãos. Evito olhar para os lados, gritei tão alto que tenho certeza que o saguão inteiro estaria olhando para mim.

- Parar? Você saiu daqui falando que gostava do Luke e agora que vocês dois estão bem, quer voltar pro Ross? - Michael argumenta, a voz indignada.

- Eu não estou voltando para o Ross, Michael. - digo entredentes.

- Então por que você tá voltando, idiota?

Mike raramente usava esse linguajar comigo. A última vez que me recordo dele falar assim fora há anos atrás, quando eu ainda estava na faculdade, surtando por quase reprovar uma matéria e ligando para ele duas vezes por dia.

- Porque eu preciso resolver-

- ... resolver as coisas. Tá, tá, tá. Agora fala o motivo real. - ele me interrompe bruscamente. - Eu sei que você sabia que teria que resolver tudo isso desde o dia em que saiu do país, então por que agora?

Suspiro. Michael me conhecia bem demais para poder escapar do seu julgamento da situação.

- Eu quero fazer as coisas do jeito certo, Mike. Eu e Luke, de um jeito que nós dois possamos ter orgulho de contar depois, pra todo mundo. Sem precisar esconder mais nada. - digo com sinceridade. - Ele merece isso. Nós merecemos isso.

- Então deixa eu ver se entendi... - ele faz uma leve pausa dramática. - Você está deixando o cara que você gosta pra poder fazer de conta que nunca traiu o cara com quem você está, e começar tudo de novo, só pra poder dizer que se conheceram de uma forma mais bonita do que realmente foi?

Rolo meus olhos.

- Não, Michae-

- Porque é isso que está parecendo.

- Mas não é!

Sinto o soluço querendo se formar e tenho que me interromper antes que comece a chorar. Tenho a absoluta certeza de que ele não entenderia isso, que ninguém poderia entender, mas havia um senso de culpa gigante pesando sobre mim. Isso poderia não mudar a situação no final, eu já tinha mentido para Ross, mas eu não conseguiria viver com aquela sensação. E mesmo que houvesse a possibilidade daquela culpa nunca mais passar, eu tinha que tentar.

- Eu não espero que você entenda... Na verdade, eu ficaria feliz se você nunca tivesse uma experiência que o fizesse compreender. - suspiro pelo telefone. - Michael, não há sentimento pior que a culpa. E eu sei disso agora.

- E por que só agora? - ele insiste depois de segundos de silêncio entre nós dois.

Dou de ombros, embora ele não pudesse me ver.

- Às vezes demora um pouco para a ficha cair e a culpa pesar nos ombros.

Disse aquilo com toda a sinceridade. Havia uma parte de mim que queria ignorar esse fato, essa culpa, dizer que estava tudo bem, contanto que, no fim, as pessoas que eu amava saíssem intactas; mas outra parte dizia que eu deveria fazer o correto e isso seria pegar aquele avião e partir para Washington. Se Luke me amava como ele dizia, iria me perdoar, iria entender os motivos pelos quais fiz o que fiz.

Maldives || l.h. (Completa) Onde histórias criam vida. Descubra agora