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Margot

Coloco minhas mãos atrás da nuca, entrelaçando meus dedos. Sinto o suor que começa a escorrer da pele quente, mas não ligo. Minha cabeça, apoiada no encosto do banco do carro, está com um princípio de dor.

Sinto o olhar de Luke sobre mim, vagando entre a rua à sua frente e meu rosto apreensivo. Sei que quer comentar alguma coisa e provavelmente luta para encontrar as palavras certas, mas eu não me manifesto - procuro me concentrar em como vou falar com aquele homem hoje.

- Você está bem? - Luke finalmente pergunta, mantendo uma das mãos no volante e a outra na minha perna.

- Sim. - minto, só então percebendo a secura da minha garganta.

- Sabe que não precisa fazer isso hoje, não sabe? - diz.

Eu o olho, balançando a cabeça. Eu não precisava fazer isso realmente, mas não dava esse passo por mim nem por Luke. A situação me cobrava isso, mesmo que eu estivesse convicta do casamento ainda hoje. Eu precisava adiá-lo pela situação do meu pai, já que cancelar não era uma opção viável.

- Sei. - respondo por fim e me viro de novo para olhar a rua. Estamos a uma quadra do prédio de Ross.

Passei praticamente a noite toda pensando em como faria isso. Não era o fim do mundo, nem o fim da promessa da nossa união, então seria, provavelmente, a parte mais fácil disso tudo. Não sei o porquê de estar sendo uma covarde agora, mas era possível que isso se devesse ao fato de que, no fundo, eu sabia minhas reais intenções.

Me perguntava se Ross também sabia. Havia dias que não falava com ele pessoalmente, dias sem lhe dar brechas para que ele pudesse se conectar comigo. Desde a chegada de Luke na minha vida, minha relação com Ross mudou, e a única chance dele não ter percebido seria por estar ocupado demais para isso.

Luke para seu carro na frente do prédio que eu tanto conhecia. Levo alguns minutos, parada dentro do carro, para me preparar psicologicamente.

Eu não queria mostrar essa fraqueza na frente de Luke, não queria dar a entender que sentia algo por Ross que não o amor de dois amigos. Mas era inevitável. Imaginar causar dor para alguém que nunca fez nada contra mim me deixava fraca. Diante disso, eu me viro no banco do carona, ficando de frente para Luke.

Ele não tira os olhos dos meus quando tomo seu rosto em minhas mãos. O observo, olho todos seus traços, os olhos azuis, alguns cachos que caiam sobre seu rosto. O contorno da sua boca e o desenho perfeito do seu nariz. O canto de sua boca se quebra num pequeno sorriso.

- O que foi? - pergunta, confuso.

- Estou só... me preparando. - respondo. Eu queria manter a exata imagem de Luke na minha cabeça enquanto caminhava para dentro daquele apartamento, queria me lembrar um dos motivos pelo qual, mais tarde, eu teria que romper com Ross. Queria imaginá-lo quando me sentisse fraca.

Luke me fazia sentir um conforto que raramente eu sentia. Era difícil de explicar, nem mesmo com Ross eu havia sentido isso. Com Luke, meu corpo e coração caminhavam juntos, enxergavam a mesma pessoa. Eu sentia algo, assim como minha pele sentia ao seu mero toque.

Eu sentia algo.

Me dar conta desse pensamento o fez ecoar dentro da minha cabeça. Observando-o por mais um tempo me fez perceber que havia algum sentido nele também, embora eu não soubesse qual ainda...

Maldives || l.h. (Completa) Onde histórias criam vida. Descubra agora