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Acomodo-me no banco do carona. O carro está muito mais confortável que a temperatura lá fora, o que não quer dizer que o clima aqui estava melhor. Minha mente viajava a uma velocidade insana de pensamentos, as inúmeras perguntas surgindo mais uma vez. No entanto, a coisa que eu mais pensava no momento era: como eu vim parar aqui?

Luke se manteve aparentemente calmo, em silêncio. Suas mãos seguravam o volante com leveza e seus olhos pareciam atentos à estrada.

- Onde você mora? - pergunta repentinamente e só então eu percebo que estive encarando sua figura. Levo alguns segundos para me concentrar de novo e responder, mas antes que o faça, ele se vira para mim, sorri com um toque de humor e complementa - Eu tenho que saber para chegar até lá.

Sinto minhas bochechas esquentarem e viro minha cabeça novamente para encarar a estrada a minha frente.

- Daqui a quatro quarteirões, vire a direita. - digo na voz mais calma que consigo. Pelo canto dos olhos, vejo que ele assente. Por alguns minutos inteiros, tudo o que é ouvido no carro é o som das nossas respirações. Queria esticar a mão e ligar o rádio, mas estava petrificada numa posição, como se isso escondesse minha figura dele.

Não sabia explicar meu sentimento agora com exatidão, mas sabia que isso se devia ao fato de que eu estava justamente tentando evitar qualquer contato com o homem que, agora, me levava para minha casa.

- Me desculpa. - Luke murmura de repente, rompendo com o selado silêncio entre nós. Estou surpresa, para expressar o mínimo, tanto que meus olhos se arregalam e meu rosto vira de supetão para encará-lo. Ele mantém a expressão suave, nenhuma surpresa com suas próprias palavras, a não ser pela ligeira ruga que se forma em sua testa por estar franzido as sobrancelhas levemente. Após uns segundos sem resposta da minha parte, pareceu sentir a necessidade de se esclarecer. - Por ter sido rude com você mais cedo.

- Tudo bem. - murmuro de volta, apenas para lhe confirmar que ouvi o que disse, já que minhas próprias palavras soavam muito mais como uma pergunta que uma afirmação.

Ouço um leve suspiro em retorno, não sei se de alívio ou de frustração. Só então percebo o quão lentamente ele dirigia, para tão pouca quantidade de carros na rua. Eu queria que ele acelerasse, para que eu pudesse chegar logo em casa, sair dessa situação angustiante e finalmente encerrar esse dia dormindo. Mas quando ele disse as próximas, não vi muita perspectiva disso acontecer tão rápido assim.

- Por que saiu da festa?

Eu não me surpreendi pela sua pergunta, sabia que mais cedo ou mais tarde ela viria. No entanto, eu ainda não sabia o que responder, e também estava ciente de que, com Luke questionando, me esquivar não era uma opção, ele insistiria até ter sua resposta. Ainda assim, tentei.

- Não era uma festa, exatamente. - dei de ombros.

Um sorriso cínico apareceu no canto de seus lábios.

- O que era, então? - questiona e eu sinto certo alívio por ter conseguido momentaneamente desviar do tópico.

- Uma reunião, acho.

Ele assente lentamente, até voltar a falar, arruinando minhas esperanças recém formadas.

- Por que saiu da reunião, Margot?

Suspiro em derrota, sem necessidade de disfarçar, ele certamente já sabia das minhas intenções de despistá-lo.

- Não estava me sentindo bem. - digo numa voz abafada.

- E por isso decidiu sair andando por uma rua deserta no frio?

A ironia não estava carregada na sua voz, mas eu sabia que estava presente. Afundo um pouco mais no banco, na mesma intenção anterior de me esconder do homem logo ao meu lado. Desejei que a distância até minha casa fosse ainda menor. Luke não se incomodou com minha falta de resposta e isso me preocupou ainda mais. Recordando nossa conversa anterior, no quarto, sei que agora ele tem sua confirmação - eu estava fugindo de algo, e esse algo era provavelmente ele.

Maldives || l.h. (Completa) Onde histórias criam vida. Descubra agora