Maldives || l.h. (Completa)

•25•

Margot

- Fala, Margot, onde você estava? - Michael insiste, os braços cruzados sobre o peito.

Eu engulo em seco. O que vou dizer? Michael acabou de confirmar minha mentira e desfazê-la bem na minha frente. O que eu faria?

- Eu... eu estava com a Clair.

Ele bufa e balança a cabeça.

- O cacete! Liguei pra ela depois de ver que você não estava com o Ross. - diz. Meus olhos se arregalam.

- O que você disse ao Ross?! - fico instantaneamente nervosa.

Ele fica em silêncio, analisando meu rosto, até eu explodir com a ansiedade.

- Fala, Michael! - grito.

- Disse que você estava no laboratório. Que foi mais cedo. - disse numa voz contida. - Eu não sou imbecil, Margot. Mas você tem que me dizer, onde passou a noite?

Faço silêncio. Não sei o que responder. O que vou dizer a Mike? A verdade? Uma mentira que pode ser ainda pior? Eu não tinha coragem para isso, não agora, não tão de repente. Eu não estava nem um pouco preparada para isso.

- Por que mentiu pra mim? O que estava fazendo que não podia me contar?! - insiste.

Sinto meus olhos arderem. A respiração estava prejudicada pela minha garganta que se fechava. Eu não conseguia pensar numa palavra para dizer. Michael me encarava com preocupação e frustração, enquanto eu derramava as lágrimas que se formavam nos meus olhos, me entregando.

Sim, eu fiz algo de errado.

Talvez não com você, mas com o Ross.

Sim, foi errado não ter te contado, mas eu não podia.

Era o que eu pensava dizer, mas nada saia. Então apelei para a única coisa que conseguiu sair da minha boca.

- Eu sou maior de idade, Michael. Posso ir aonde eu bem entender sem sua permissão e sem o seu conhecimento. - digo entredentes.

- Margot, se você estiver encrencada de alguma maneira, por favor, me conta, eu posso ajudar...

- Encrencada? - então era isso que ele ficou pensando? Que eu estava fazendo coisas... ilegais? - Não, eu não estou.

- Porra, Margot, então me fala onde você estava, pelo amor de Deus! - ele fica impaciente, passa a mão pelo rosto e cabelo. Me sinto péssima por favor Mike passar por isso. Ele não merecia. - Caramba! Sabe como fiquei preocupado com você?

Isso me fortalece para dizer as próximas coisas que tinha em mente, que eu sabia que o afastaria de mim e que acabaria com a discussão.

- Preocupado comigo? - arfo. - Bom, Michael, deve ter sido a mesma sensação de quando você saiu de casa, sem dar a mínima satisfação pra ninguém, por anos. Anos! Você mudou totalmente o rumo dessa família naquele dia, então não me venha falar sobre preocupação!

Seus olhos mudam instantaneamente. Há certa culpa na suavidade com que me encara. A sua postura nervosa se endireita e seus ombros caem. Ele mantém a boca entreaberta, como se estivesse pronto para falar alguma coisa, mas se cala.

Aquilo dói no meu peito.

- Eu não... não quis... - tento dizer, mas já é tarde. Sem dizer mais nada, Mike se vira e segue para o seu quarto.

Eu sou deixada sozinha, me sentindo o pior dos lixos. Michael foi a primeira vítima de toda confusão que criei, o primeiro a sofrer com isso sem sequer saber o que está acontecendo. Eu fiz isso. Ironicamente, tentando uní-lo à família de novo.