O Irmão do meu Melhor Amigo

Passado

Passei o dia com Henry e Luka no meu cangote. Eles não me deixavam sozinha nem por um minuto se quer. Eu sabia o motivo. Luka estava preocupado comigo, por causa do Bryan e do que ele havia me feito no passado, e de algum modo ele havia convencido o Henry a me vigiar. Sempre que um não estava por perto, o outro estava. Eu fiquei três dias desse jeito, de manhã com o Henry na escola, atarde com o Luka, e a noite com os dois, ou com um ou com outro.

Luka, Henry e eu estávamos na minha casa assistindo a sequência de filmes de O Senhor dos Anéis. Eu já estava cansada de ficar sentada o dia todo, e tinha certeza que eles também. Por quê? Bom...

Eles parecem dois anjinhos. Nem parece que quando estão acordados só faltam arrancar a pele um do outro e jogar sal.

Se eles descobrirem que eu tenho essa foto eu tô ferrada. Mas a vida foi feira pra viver intensamente e correr riscos. Joguei uma coberta sobre eles e fui para a sacada. Precisava tomar um pouco de ar, e sabia que se eu saísse pela porta eles iriam me matar de tanto falar, então estar ali era a minha única opção. Eu estava feliz namorando com o Luka, feliz com a volta da minha amizade com o Henry, feliz por ter os dois em minha vida, estava feliz com tudo, então por que o Bryan tinha que aparecer? Por que ele tinha que voltar? Já não era o suficiente me maltratar? Me torturar? Me...

As lembranças me machucavam. De cinquenta pensamentos que eu tinha em um dia, trinta e cinco deles chegavam naqueles dois dias de dor, tristeza, solidão e desespero. Por grande parte dos meus dias, eu tinha vontade de chorar, mas me controlava o máximo possível. Quando não conseguia me controlar, eu me arranhava, me beliscava, oi até mesmo me mordia, em lugares não visíveis, para que ninguém perguntasse, para me concentrar na dor externa e não interna.

Aproveitei que estava sozinha para esvaziar um pouco do meu armazém de água. Aprendi com a Lena Luthor, da série Supergirl, a colocar todos os meus problemas, dores, e coisas que pudessem me atrapalhar no dia a dia, em pequenas caixas na minha mente. Mas as caixas estavam ficando cheias e não havia mais espaço em minha mente para mais caixas. Então decidi esvazia-las.

Uma de cada vez as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto, até que se formou um riacho que lágrimas incessantes. Me segurei na grade e abaixei a cabeça. Cerrei meus dentes, contendo um grito que lutava para sair de dentro de mim. Cada lágrima era a lembrança de uma dor, a lembrança de um toque cruel e repuguinante, a lembrança dos piores dias da minha vida, a lembrança do dia que mesmo eu gritando com todas as minhas forças, ninguém me escutava, o dia que foi tirado de mim a força, o que me era de mais preciso.

Luka on

Acordei no sofá da sala de Safira, olhei para os lados e ela não estava lá. Vi apenas o Henry encostado em meu ombro, babando que nem bebê. O empurrei para o outro lado e ele deitou sua cabeça no braço do sofá e puxou a coberta até os ombros. Me levantei e fui atrás da Safira. Fui para a cozinha, ela não estava lá, fui para a biblioteca e nada dela, decidi ver em seu quarto então subi as escadas. Assim que eu cheguei no segundo andar, antes de ir para o quarto de Safira, pelo canto dos olhos vi uma sombra, na direção oposta a que eu iria seguir. Olhei em sua direção e vi Safira apoiada na grade da sacada com a cabeça baixa. Me aproximei lentamente. Ouvi ela fungar, suspirei, inspirar e expirar de maneira pesada. Ela estava chorando.

Cheguei mais perto dela e a chamei, ela não me escutou, chamei novamente e nada. Coloquei minha mão sobre o seu ombro e foi então que ela reagiu, mas não da maneira que eu esperava. Ela seu assustou, se afastou de mim, se jogou no chão apavorada e abraço as penas.

-Por favor, não me toca. - disse ela assustada - Me deixa em paz, por favor. Eu imploro, me deixa em paz.

-Safira, sou eu. - disse me abaixando perto dela. Seus olhos estavam fechados - Safira meu amor, sou eu Luka. Fica calma, você está bem, eu não vou te machucar.