Prólogo:

70 3 0
                                    




Música: Chris Norman - For You.

***


Não sei se é sonho, se realidade,

Se uma mistura de sonho e vida,

Aquela terra de suavidade

Que na ilha extrema do sul se olvida.

É a que ansiamos. Ali, ali

A vida é jovem e o amor sorri

Talvez palmares inexistentes,

Áleas longínquas sem poder ser,

Sombra ou sossego dêem aos crentes

De que essa terra se pode ter

Felizes, nós? Ali, talvez, talvez,

Naquela terra, daquela vez,

Mas já sonhada se desvirtua,

Só de pensá-la cansou pensar;

Sob os palmares, à luz da lua,

Sente-se o frio de haver luar

Ah, nesta terra também, também

O mal não cessa, não dura o bem.

Não é com ilhas do fim do mundo,

Nem com palmares de sonho ou não,

Que cura a alma seu mal profundo,

Que o bem nos entra no coração.

É em nós que é tudo. É ali, ali,

Que a vida é jovem e o amor sorri.

(Não sei se é sonho ou realidade – poema de Fernando Pessoa)

***

Três anos antes.

Victor Sanders chegou ao apartamento que dividia com sua esposa, Fernanda, e estreitou os olhos ante o estranho silêncio que tomava conta de seu lar. Não é como se esperasse uma festa, mas sua esposa sempre esteve lá na ampla sala esperando por ele.

Ela devia ter saído, pensou extremamente irritado. Ele detestava quando ela fazia isso, não que ela tivesse feito isto muitas vezes ou fosse sua prisioneira, mas não gostava de pensar nela sozinha pelas ruas da cidade quando estas guardavam perigos de todos os tipos para uma mulher jovem, ingênua e delicada como ela.

Será que ela não se dava conta dos perigos que poderiam estar à espreita em cada esquina que atravessasse? Ele mesmo não a tinha seduzido?

Inalou profundo e foi até o bar num canto da sala, então se serviu de uma dose de uísque apreciando a queimação da bebida quando desceu por sua garganta.

Era um tolo, esta era a verdade. Um tolo porque sabia que, embora ele a enxergasse como uma flor delicada que merecia os cuidados mais sutis de um homem, Victor sabia que todo aquele senso de proteção sobre ela ia além de seu zelo por sua adorável mulher... Era por ele próprio.

A verdade desagradável é que se sentia temeroso dela algum dia dar-se conta do erro que cometera ao aceitar se casar com ele. Envergonhava-se ao admitir para si mesmo seus receios pela diferença de idade.

Dezoito anos era muito, até mesmo para um cara multimilionário como ele.

E talvez fosse por isso que não conseguia tratá-la de maneira diferente, ser mais amável como desejava, entregar-se de peito aberto, porque se abrindo daria a ela a chance de feri-lo e fazer sólido os seus medos.

Sonho ou RealidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora