Sonho ou Realidade

Capítulo 2:

Música: Francisco Cuoco - Soleado, Todo o Tempo do Mundo.

***

Antes que esboçasse qualquer reação, Victor cruzou a pequena sala com passadas largas segurando-lhe o braço, puxou-a para si, fechou a porta, trancou-a e guardou a chave consigo.

—Continua a mesma minha querida esposa, nunca luta quando é prudente fugir.

—Não vou mais fugir Victor, só queria pensar na vida.

Os olhos negros tornaram-se irônicos.

—Pois eu não fiz outra coisa nesses anos todos que não pensar na vida, na minha vida que você deixou um caos.

—Nossa! Eu fiz isso? Achei que você nem tivesse se dado conta de que eu havia partido, já que nunca estava em casa para notar ou deixar de notar minha presença. – ela percebeu que sua resposta o surpreendeu.

—Está ficando experiente? Finalmente cresceu? Será que essa experiência toda estende-se a outros quesitos também?

—Nunca irá saber.

—Já dormiu com Matheus, Fernanda? Foi com ele que adquiriu tanta experiência?

—Não é da sua conta com quem durmo ou deixo de dormir.

—Ah, é sim, já que continua a ser minha esposa.

—Apenas no papel, somente no papel. – enfrentando seu olhar zangado viu que o atingira.

—Dormiu com ele? – ele insistiu.

—Já que são tão amigos, porque não pergunta diretamente a ele?

Tinha certeza de que Victor não faria isso, era por demais orgulhoso.

—Agora, por favor, me entregue a chave e saia, preciso dormir, descansar porque amanhã tenho que trabalhar cedo.

—Essa maneira fria e distante pode funcionar com outros, não comigo minha querida, conheço muito bem o que esconde atrás desse gelo todo, sei que existe um vulcão pronto a explodir e não pense que atravessei o oceano para ser mandado embora sem nenhuma recompensa. – fez uma leve pausa, olhando-a com intensidade, apreciando cada curva do corpo feminino. –Aliás, nós dois sabemos não é verdade?

—Diga logo o que quer Victor e vá embora, me deixe em paz, por favor!

—Não adivinha? Quero-a novamente como a minha mulher que você ainda é.

Novamente ela sentiu a boca seca, alguns anos antes ela teria se derretido toda com essas palavras, na verdade ainda se derretia como a idiota que era, merecia sofrer já que não aprendera nada.

—Só que você esqueceu de uma coisa muito importante Victor. EU não quero mais você.

—Pelo jeito está querendo se vingar, não é mesmo? Lembro-me muito bem que essas foram as minhas palavras naquela manhã.

Tentando se manter indiferente, ela deu um risinho de zombaria.

—Realmente você não me conhece Victor, nunca me conheceu e nunca se deu ao trabalho de conhecer, se engana se acha que meus sentimentos por você são movidos pela vingança, eu quero apenas esquecer tudo o que vivemos, de que um dia eu te conheci, de todo aquele inferno pelo qual passei ao seu lado. Você me destruiu por dentro, por isso me tornei essa pessoa fria que você acha que é só fachada.

Ela notou uma leve palidez no rosto moreno e lhe pareceu que ele ficara mexido com suas palavras, mas logo ele se recuperou e novamente ela achou que estava vendo coisas.