Capítulo 7

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Eu já estava ofegante e o rosto de Peter vermelho com toda a agitação quando começou a tocar uma música mais lenta. Ele se aproximou de mim envolvendo minha cintura com os braços e instintivamente coloquei os meus em seu ombro. Com certeza a bebida havia tirado um pouco da timidez dele, pois certamente Parker não estaria me tocando assim sem estar quase desmaiando de nervoso. Como quando lutamos na aula de educação física e ele pedia desculpas a cada segundo.

- Você vira outra pessoa quando está bêbado Parker. - brinco vendo ele abrir um sorriso exagerado.

- Eu não estou bêbado. Só estou muito feliz. - ele me gira e junta nossos corpos outras vez, dessa vez bem mais próximos.

- E por que você está muito feliz? - digo sorrindo achando as bochechas vermelhas dele adoráveis.

- Porque estou dançando com a garota mais legal que já conheci. - por um momento meu cérebro não processa o que ele disse e o sorriso do meu rosto some. - Você é tão linda, Núbia. - ele afasta alguns cachos caídos no meu rosto e o incômodo no meu estômago volta mais forte.

Seus olhos conectados aos meus, nossos corpos juntos e se balançando pela pista. Eu sabia o que ele ia fazer e eu não podia permitir. Não podia me envolver dessa forma.

- Acho melhor eu ir buscar um pouco de água para você não ficar de ressaca amanhã. - falo me afastando dele e o puxo para senta-lo na arquibancada. Ele tentou relutar mas a bebida havia deixado seu corpo mais mole portanto foi fácil o conduzir.

- Núbia, eu sou um vampiro não bebo água bebo sangue. - Peter fala e ri com a própria piada. Seguro o riso pra não dar confiança e o sento na arquibancada.

- Não sai daqui Peter. - falo séria e vou atrás de um bebedouro.

Os corredores estavam escuros e desertos, com o copo em mãos andei por eles a procura de um bebedouro. Mas no meio do caminho ouvi vozes e barulho de coisas caindo. Diminui o passo e apurei meus sentidos, as vozes pareciam vir de uma das salas.

- Me solta, por favor. Não! Para, por favor.- uma voz feminina dizia e tudo fez sentido.

Peguei o canivete escondido na minha bota e entrei na sala, um garoto prendia uma menina na mesa que se debatia tentando fugir. Agarrei ele pela camisa e o joguei contra a parede, o soco o acertou em cheio na maçã do rosto sem dar-lhe tempo de reação.

- Quando uma garota diz não, é não seu babaca. - preciono o canivete em seu pescoço fazendo um pequeno corte, ele me olhou com os olhos arregalados, assustado. Minha mão tremeu querendo cortar sua garganta e deixa-lo ali, engasgando com seu próprio sangue, mas me controlei. Você prometeu Núbia, avisei a mim mesma. - Espero que aprenda pois da próxima vez você irá perceber o quão afiado é meu canivete. - meu joelho se levanta e acerta o meio de suas pernas, o idiota tomba para o lado e cai no chão gemendo de dor. Dou-lhe mais um chute no rosto só para saciar minha vontade e vou até a garota que chorava em um canto da sala. - Você está bem?

- Obrigada. Obrigada. - ela saltou em cima de mim me abraçando quase me derrubando no chão. Eu não sabia o que fazer. Não sabia consolar alguém. Nunca havia feito isso.

- Errr... calma vai ficar tudo bem. - Eu disse levantando ela e a conduzindo para fora da sala. - Me dá seu celular pra eu ligar para os seus pais virem te buscar. - meio trêmula ela me entregou o aparelho e liguei para seus responsáveis.

Eu ainda queria voltar naquela sala e arrancar cada pedacinho de pele daquele desgraçado mas eu havia prometido a mim mesma que não faria mais isso, e tentei me convencer que ele já tinha recebido a lição que merecia. Porém, se isso se repetisse eu não me importaria em quebrar minha promessa.

Os pais da garota chegaram logo e a levaram pra casa, e como um estalo lembrei de Parker.

Droga.

Corri para quadra o encontrando dormindo na arquibancada, coloquei a mão na boca tapando o riso. O rosto ameaçado pela madeira fazia seus lábios formarem um bico extremamente fofo. Peguei celular e tirei uma foto para zoar com a cara dele depois, liguei para Richard vir nos buscar e deixar Peter na casa dele.

- Ei Peter. Acorda. - o balanço de leve e ele abre os olhos vagarosamente.

- Você parece um anjo, Núbia. - ele sorri sonolento. - Eu gosto de você.

Meu coração acelerou e várias mini explosões aconteceram dentro de mim, e se tornou difícil controlar o sorriso idiota que cresceu em meu rosto

- Nunca mais eu deixo você beber, Parker. - Eu o ajudo a se levantar ainda com um sorriso bobo no rosto, dei um pouco de água para ele e fomos para fora da escola esperar meus pais.

Richard não gostou de ver meu acompanhante naquele estado mas eu expliquei que não era culpa de Parker. Entretanto, o ciúmes paternal dele não diminuiu nem um pouco.

A Tia de Peter quase teve um ataque quando o viu assim e eu tive que repetir a mesma história antes que ela jogasse um balde de água fria no sobrinho. Ela nos agradeceu e até nos convidou para um dia jantar na casa dela, tive vontade de negar na hora. Apesar de ser um pessoa simpática, May não era lá uma ótima cozinheira.

Quando chegamos em casa Richard fez menção em começar um interrogatório mas dei a desculpa de estar com muito sono e ele me liberou resmungando. Eu gostava de toda esse preocupação que ele e Christopher tinham comigo, fazia eu me sentir querida como eu nunca fui, mas eu realmente não queria conversar. Não despois de ouvir o que Parker havia me dito.

Espero que ele não lembre disso amanhã. Mesmo que eu sinta essas coisas estranhas na presença dele ainda não quero me envolver com ninguém assim. Ainda preciso saber lidar com meus próprios demônios e não quero que Parker veja toda essa escuridão que há dentro de mim. Ele é bom demais para uma pessoa quebrada como eu.

Tomei uma banho demorado, esfreguei meu corpo para tirar toda aquela maquiagem e, talvez, também tirar toda aquela podridão de dentro de mim. Se isso fosse possivel certamente a água sairia mais escura do que água de um esgoto.

Quem eu estava querendo enganar?

Eu nunca conseguiria mudar. Eu nunca seria uma garota normal. Não quando havia litros de sangue em minhas mãos. Não quando meu primeiro instinto é matar. Por mais que tentasse, por mais que eu lutasse para não sucumbir sempre havia algo para me tentar.

Por impulso meus punhos foram de encontro com a parede a procura de alívio. Quanto mais eu socava mais sangue escorria e mais aliviada eu me sentia.

Eu queria gritar de raiva. Raiva de tudo e de todos. Raiva por ter sido criada assim. Raiva por não conseguir se uma pessoa normal. E mais raiva ainda daqueles que me transformaram nisso. Talvez mata-los só tenha provado aquilo que eles sempre disseram. Que eu era uma assassina e nada e nem ninguém mudaria isso.

- Eu só queria ser normal. - sussurrei para mim mesma ajoelhada no chão do box. Minha respiração ofegante com o esforço, o sangue escorrendo para o ralo e um bolo dolorido na minha garganta.

Eu estava cansada. Era como se eu corresse sem sair do lugar. Parecia que todo esforço que eu fazia por dias para ser normal evaporasse em apenas um segundo.

Night Shadow |Peter Parker|Onde histórias criam vida. Descubra agora