Night Shadow |Peter Parker|

Capítulo 19

- Quem é você? - a voz de Peter era exasperada, seu olhar era como navalhas, me cortavam, me machucavam. Eu sabia que depois de hoje provavelmente ele nunca mais olharia para mim com os mesmos olhos, talvez, ele nem mesmo me olhasse novamente e eu não posso julga-lo.

- Meu nome verdadeiro é Savanna Mbachu, meus pais eram... mercenários e eu fui treinada para ser como eles. - respiro fundo medindo minhas palavras, eles saberiam a verdade mas não toda ela.

- Por que nós? Você tem algum tipo de missão? Você foi mandada pra matar alguém? - Richard pergunta horrorizado com a idéia, neguei com a cabeça ferozmente fazendo alguns cachos caírem sobre meu rosto.

- Eu nunca quis ser uma assassina, mas, eu não tive esse direito de escolha. - dei de ombros juntando minhas mãos. - Então, eu fugi. Eu só queria uma vida normal. Sem mortes. Eu não escolhi vocês, vocês me escolheram. E eu agradeço muito por isso, por alguns meses eu pude experimentar o que eu sempre desejei.

- Aquele, Ivan, é seu pai?

- Não, ele ajudou a me treinar. A me tornar quem eu sou. - Por alguns segundos meus olhos se conectaram com os dos meus pais mas logo eu desviei, era demais para mim.

- E onde estão seus pais? - a pergunta foi como um soco em meu estômago e senti o olhar de Stark pesar sobre mim. Apertei os olhos junto a meus punhos soltando o ar lentamente pela boca.

- Mortos. Eu matei-os. - Chris levou a mão até a boca horrorizado e seus olhos se inundaram em lágrimas e pavor. - Era a única forma. Era o único jeito para eu conseguir fugir.

- Então, todos esses meses foram uma ilusão? Era você fingindo ser outra pessoa. Eu me...Eu me apaixonei por uma farsa? - Peter teve um rompante, as veias em seu pescoço saltavam enquanto ele andava de um lado para o outro, seu olhar magoado, decepcionado, machucado. - Nada daquilo foi real?

- Não, Peter, foi real pra mim. Eu não estava fingindo, só estava querendo ser normal como todos. Eu não pedi pra nascer numa família de assassinos. - Meu coração dóia, uma dor que me angustiava. Ele nunca me perdoaria.

- Como eu vou saber se isso não é mais uma de suas mentiras? Pelo visto você é muito boa nisso. - jogou enfurecido e Stark tentou interferir mas eu fiz um sinal para ele se manter quieto. - Você mentiu pra mim por meses, permitiu que eu me apaixonasse por você, matou todas aquelas pessoas e não sei mais quantas durante sua vida. Você matou os seus próprios pais. Que ser humano faz isso? - meus olhos arderam mas não permiti que as lágrimas escorressem.

- Sim, eu matei muitas pessoas, mais do que se possível contar em duas mãos. Mas, eu não espero que você entenda como é crescer sendo treinado incansavelmente, como é crescer tomando tanta porrada que você prefere morrer porque sabe que no outro dia vai acontecer tudo de novo. - respirei fundo, minhas mãos tremendo, caminhei lentamente ficando cara a cara com ele. Dessa vez eu não abaixaria a cabeça, eu queria que ele visse que as palavras dele me machucaram. - As marcas nas minhas costas não foram causadas pelos vidros do acidente, foram chicotadas que levei na única vez que falhei em uma missão. E eu tenho muitas outras marcas para me lembrar quem eu fui, quem me forçaram a ser. - o choque era perceptível em todos na sala, porém, eu mantia meus olhos firmes nos de Peter. - Mas, não, eu não espero que você entenda.

Assim como me aproximei afastei-me, Peter me olhava assustado e meus pais com um misto de tristeza e pena.

- Não se preocupem, amanhã mesmo irei sumir da vida de vocês. Não terão mais que olhar para uma assassina. - e com essas palavras me retirei da sala, meu coração batendo tão forte que doía em meu peito, eu não sabia para onde estava indo só sei que precisava sair dali.

***

Stark emprestou-me um quarto para que eu pudesse descansar, mas essa era a última coisa que eu conseguiria fazer. Sentada no chão eu observava a grande janela tentando traçar meus próximos passos, porém, tudo que me vinha a cabeça era o olhar decepcionado daqueles que eu amava.

Estava tão submersa em meus pensamentos que levei um susto quando um corpo se projetou ao meu lado, mas reconheci o braço de metal e voltei ao meu lugar.

- Se você disser "Eu avisei" juro que corto sua garganta. - falo entre dentes, eu não precisava de sermão.

- Não, eu vim pedir para que não fuja novamente. - Bucky diz calmamente mas isso não impediu que eu o olhasse incrédula. - Você não pode fugir do seu passado para sempre Núbia, ele sempre irá te encontrar. Mas, você pode ficar e enfrenta-lo.

- De que livro de auto-ajuda você tirou isso? - acabei rindo e ele também me empurrando de leve com o ombro. - Eu já aceitei que não posso ter uma vida normal, foi bom enquanto durou. Mas, também não posso ficar.

- Você realmente gosta daquele garoto né? - seu sorriso é provocativo e eu reviro os olhos. - Pode falar, ficará entre nós. - ele usa minha língua materna e meu coração salta no peito com a familiaridade. As raras memórias boas que eu tinha voltaram a tona e eu soltei um sorriso.

- Não importa o que eu sinto. Ele não quer mais olhar na minha cara, para ele eu sou apenas uma assassina mentirosa. - respondi em iorubá, mesmo tendo ficado anos sem falar a língua as palavras deslizaram pela minha boca com extrema facilidade.

- De um tempo para ele digerir isso tudo, é muita informação. - ele me empurra de leve com o ombro. Era diferente ver Bucky assim, sem estar em seu modo soldado. Acho que até poderíamos ser amigos. - Enquanto isso fique aqui, Stark não irá se incomodar em te emprestar o quarto por mais tempo. Você pode nos ajudar.

- Ser uma vingadora? Vocês realmente devem estar com desfalque. - ri com deboche e observei os prédios através da janela. Era noite, portanto as luzes dos prédios acesas causavam uma bela vista. - Eu mato pessoas, Bucky, não as salvo.

- Você não precisa ser aquilo que foi feita para ser. Pode usar as habilidade que te deram para o bem. - como isso ele se levantou e me deixou sozinho com meu turbilhão de pensamentos.

Eu estava perdida. Não sabia quem eu era nem quem eu queria ser. Não sabia se fugia ou ficava.