Capítulo 18

3.9K 462 74
                                    

Talvez fosse a adrenalina correndo pelas minhas veias, anestesiando e impedindo que eu sentisse qualquer tipo de dor, pois eu só percebi que o segundo disparo havia sido para mim quando vi Ivan apontando a arma na minha direção. Ele atirou novamente mas com um mortal chutei a arma de sua mão e com outro golpe chutei seu rosto. Eu era ágil, mas ele também e mesmo com a mão ensanguentada seu soco em meu rosto foi potente.

- Eu te treinei. Eu fiz de você o que é hoje. - sussurrou em russo enquanto seu braço apertava meu pescoço. Meus olhos caíram sobre meus pais no canto da sala, suas feições sujas e assustadas, seus braços e pernas amarrados com cordas. Peter agora tentava se soltar de suas grossas correntes mas todo seu esforço parecia em vão.

- Sim! E me treinou muito bem. - com apenas um golpe eu estava sobre ele, minha bota esmagando seu pescoço e uma arma apontada para sua cabeça. - Mas eu não pertenço mais a vocês. - por mais um segundo olhei dentro daqueles olhos que tanto me torturou, parte de mim sabia que mata-los não mudaria nada, mas, a outra parte queria impedir que Ivan fizesse com outras o que fez comigo.

O som dos dois disparos fez eco pelo prédio silencioso, algo dentro de mim se acalmou e por um segundo eu não senti como se toneladas estivessem sobre meus ombros. Porém, logo as toneladas voltaram e com o dobro do peso, três pessoas me olhavam horrorizadas no canto do cômodo e tal olhar me machucou mais do que eu esperava. Me aproximei devagar mostrando que não iria machuca-los, eu nunca iria machuca-los.

- Está tudo bem. Eu vou soltar vocês. - peguei um canivete da minha bota e cortei as cordas, revistei o corpo de Ivan e achei as chaves das correntes de Peter. - Eu sei que vocês devem ter muitas perguntas e vou responder todas que puder, mas primeiro preciso tirar vocês daqui.

- Você está sangrando. - Chris aponta para a minha cintura, a bala havia atravessado e o sangue escorria pela minha roupa.

- Está tudo bem, vamos sair daqui. - tentei me aproximar de Peter para ajudá-lo mas seu olhar magoado me fez parar no meio do caminho. Respirei fundo e catei uma arma no chão. - Vamos.

Richard e Christopher se apoiavam um no outro enquanto me seguiam, a arma pronta para eliminar qualquer um que se aproximasse. A cada andar que descíamos eles ficavam mais aterrorizados vendo o rastro de corpos que deixei para trás e eu tentava manter meu foco fingindo não me importar com os olhares que eles me lançavam.

- Você...matou todos eles? Sozinha? - foi Richard que perguntou quando chegamos no carro, sem ter mais como mentir apenas confirmei abaixando a cabeça, sem coragem de olhar o provável desprezo em seus olhos.

Já no carro enviei uma mensagem para Stark avisando que estava chegando na Torre. A viajem inteira foi feita em silêncio, meus pais, nem sei se posso chama-los assim ainda, se abraçavam enquanto Peter olhava pela janela. Seu lábio estava machucado e o olho esquerdo roxeado. Meu coração dóia mais que os machucados em meu corpo, dóia mais que a bala que levei. Os machucado poderiam ser curados. Mas o que eu tinha com as três pessoas sentadas atrás de mim talvez nunca se curaria.

Assim que estacionei frente ao prédio Stark apareceu, Peter o olhou com um misto de surpresa e indagação. E mais mentiras iriam por ralo abaixo. Em segundos ia se desmoronando a vida que eu demorei meses para construir.

- Você está bem, garoto? - ele foi direto em direção a Peter o olhando de cima a baixo.

- Deixem o papo pra depois. Vamos entrar, lá dentro é mais seguro. - caminhei em direção a entrada mas no meio da escadaria minha perna falhou e meus joelhos foram de encontro ao chão.

- Filha. - escutei meus pais gritarem mas minha visão havia ficado desfocada e meu corpo fraco. Senti mãos me segurando e o sangue escorrendo pelos meus machucados. Minha cabeça parecia pesar quilos.

- Eu to bem. - minha fala saiu arrastada, minha mão ensanguentada marcou o chão. - Eu tô bem.

As forças foram de esvaindo do meu corpo assim como minha consciência e em segundos eu já não ouvia nem enxergava nada.

***

O barulho dos aparelhos foi a primeira coisa que captei assim que recobrei meus sentidos, agulhas perfuravam meus braços e a claridade do quarto confirmou que eu estava na ala hospitalar da torre Stark. Todo meu corpo doía mas não era algo que me incomodava, já senti dores piores. Alguns segundos depois Stark entrou no quarto, seguido do doutor Banner, sua cara não era uma das melhores provavelmente Peter havia brigado com ele em busca de informações. Porém, só eu poderia dar essas informações, Stark sabia de coisas mas não de tudo. Ninguém nunca saberia tudo.

- Que bom que acordou, tem pessoas esperando por explicações. - fala ficando distante enquanto Banner me analisava.

- Por quanto tempo fiquei apagada? - ignorei seu comentário, não precisa que ele me lembrasse o que me esperava. Eu tinha noção.

- Apenas um dia. - doutor diz surpreso e eufórico ao mesmo tempo. - Eu fiz exames enquanto você dormia e encontrei algo muito peculiar no seu DNA, gostaria de continuar estudando, se me permitir é claro, mas a forma como você se curou tão rápi-

- Doutor. - Eu o interrompi, sua animação não me surpreendia sempre fizeram experimentos comigo, com certeza algo de anormal poderia ser encontrado em meus exames. - Eu adoraria doar sangue para o senhor se divertir com as modificações que fizeram em mim, mas isso vai ter que ficar pra depois. Tenho problemas para resolver agora.

- Sim, Claro! Eu não queria soar indelicado. Desculpe-me! - ele se afasta assim que termina de me examinar.

- Me leve até meus pais. - dessa vez me direciono até Stark, seu olhar era de reprovação mas não fez objeções.

Troquei de roupa, mesmo que alguns machucados ainda doessem não era algo com que eu já não tivesse lidado milhares de vezes, e segui Stark pela Torre. Subimos alguns andares e paramos na mesma sala onde Tony me desmascarou. Assim que me viram se assustaram, talvez imaginassem que eu não acordaria tão cedo e muito menos estaria andando, meus pais pareciam travar uma luta interna com suas emoções e Peter me olhava como se não me reconhecesse  havia mágoa em seu olhar.

- Eu prometi que responderia suas perguntas e aqui estou eu. - sentei no sofá de frente para eles.

Naquele momento eu não sabia quem eu era. Savanna, a assassina treinada ou Núbia, a filha adotiva? Acho que nenhuma das duas e isso era algo que me assustava também.

Night Shadow |Peter Parker|Onde histórias criam vida. Descubra agora