Capítulo 9

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Hacker

"Shh... Fique bem quietinho, Rodion. Lembra do que eu te falei. Roubar sem ser notado e voltar para a mamãe, ok?" Minha mãe sussurra em meu ouvido, e eu concordo com a cabeça, meus olhos focados na mulher na minha frente, que eu estava a alguns segundos de roubar.

Eu não exatamente gostava do que fazia, mas, pelo que mamãe dizia, era necessário. Não tinha ninguém que cuidaria de nós, e estavamos sozinhos nesse lugar, sem documentos, sem nada. Não era as melhores das situações, e nós tínhamos que dar nosso jeito para ter
comida no final do dia.

Olho para minha mãe uma última vez antes de me afastar dela. Tina Ambramov era linda, e nada parecida comigo. Seus olhos eram de um azul bem claro, quase gelo, e seu cabelo de um loiro muito claro também. Era nova, com apenas vinte e dois anos. Eu tinha sete.

Ela diz que me pareço com meu pai. Não gosto disso, e acho que ela não gosta também, porque mamãe não olha muito nos meus olhos. Como se eu a lembrasse dele. Como se eu fosse ele.

Me afasto de mamãe e vou até a mulher. Esbarro nela e faço meu teatro de criança carente. Não era muito um teatro, que não estava tão longe da realidade, mas mesmo assim. Enquanto ela fala comigo e mostra solidariedade, não percebe quando eu pego sua carteira de seu bolso.

Alguns minutos depois, eu e mamãe estamos contando boas notas, totalizando cem dólares. É mais que o suficiente para hoje, e talvez durasse mais alguns dias.

Pelo menos, a noite, quando encontramos um local em um beco, e eu encosto a cabeça no ombro da mamãe, meu estômago não ronca mais, como antes. Agora, estou satisfeito. Por enquanto.

"Rodion?" Mamãe sussurra, e eu a encaro. Ela sorri para mim, mas seus olhos não encontrando os meus. "Lembra sempre de sobreviver antes, ok? Saímos da Rússia para sobreviver. Fugimos do seu pai por isso. Lembre-se de sobreviver, mas, ao mesmo tempo, seja uma pessoa que você mesmo admire. Não repita os meus erros, ou os do seu pai. Ok?"

Eu a encaro por alguns segundos, e, naquele momento, prometi a mim mesmo que nunca viraria um homem remotamente parecido com meu pai.

Eu concordo com a cabeça.

Abro os olhos de repente, conseguindo finalmente distinguir sonho da realidade. Passo a mão no cabelo, mas encontro meu braço bloqueado. Olho, apenas para encontrar a cabeça de Lexy descansando ali.

De alguma maneira, depois que adormecemos no sofá ontem a noite, acabamos os dois deitados de um lado só, a cabeça dela em meu ombro, uma de suas pernas dobradas sobre meu corpo.

Puta Santa Merda... Tento me convencer que a ereção entre minhas pernas agora é puramente matinal, mas porra... quem eu estou querendo enganar?

Olho para seu rosto, vendo que ela dormia pacificamente, e lentamente tiro sua perna de cima de mim, ao mesmo tempo que deito sua cabeça no sofá ao invés do meu braço. Me levanto no sofá, tomando uns segundos para analisar a menina dormindo ali, sozinha.

Eu já tinha visto muitas cadelas na minha vida... Mas Alexis era um outro nível de linda. Não era o físico em si, era mais a energia que ela transbordava. Um otimismo misturado com uma segurança que cativa.

Suspiro e fecho os olhos, balançando a cabeça para os lados. Tenho que tirar essa garota da cabeça urgentemente, antes que isso me deixe louco para caralho. Tento pensar em outra coisa para fazer, mas...

"Porra..." Murmuro, e imediatamente caminho para meu quarto. O vídeo. Com certeza, até agora, o programa já baixou, e eu posso finalmente ver quem é aquele fodido rato do caralho.

Sento na cadeira em frente ao computador, e suspiro em impaciência conforme ele liga. Estamos a tanto tempo com esse rato no clube, possivelmente desde que o orfanato entrou nas nossas vidas. Provavelmente desde... Ace.

Porra, já se fazem dois anos. Nós temos um rato, um traidor, entre nós a dois anos. E, dessa vez, a sensação que eu tenho é que será muito, mas muito pior do que como foi com os gêmeos.

Assim que finalmente liga, coloco minha senha e abro o arquivo com o vídeo. Dessa vez, a qualidade da imagem era milhões de vezes melhor, e, mesmo se eu desse zoom, parando no exato milissegundo em que o rosto do homem aparece, conseguiria reconhecê-lo.

E eu reconheço. No instante em que meus olhos encontram o rosto mostrado pela tela, minhas mãos fecham em punhos e eu trinco a mandíbula. Filho de uma puta... Vou matá -lo. Devagar. Bem devagar.

Ah, ele estava lá. Estava lá quando enfrentamos todos os primeiros problemas do orfanato, quando Rocket morreu, Barbie foi embora, Ace morreu... Ele estava lá para tudo. E talvez ainda pudesse ter informações que poderiam prevenir qualquer uma dessas coisas de acontecerem.

Procuro pelo meu telefone e disco o número de JP, meus olhos ainda focados na tela do computador.

"Alo?" O Prospecto atende, e eu suspiro, tentando ao máximo me controlar.

"Eu sei quem é o rato." Digo, sem medo da ligação ser grampeada. Eu mesmo tinha esses telefones na palma da mão, sendo checados várias e várias vezes.

Uns segundos de silêncio passam até que JP responde.

"O que quer que eu faça?" Eu suspiro e passo a mão no cabelo, nervoso, mas não culpado sobre o que eu tinha que fazer.

Ratos sofriam as consequências por serem ratos. Ponto.

"Essa é a missão que vai te dar seu Patch, garoto, então escute. Aqui é o que você vai fazer." Digo, então, pelos próximos dez minutos, te passo instruções sobre como lidar com a situação.

Quando desligo, envio uma mensagem para Crow.

H: Pode fazer uma reunião de última hora?

Ele não demora para responder.

C: Depende. Por quê?

H: Achei o rato.

Dessa vez, o período que espero por sua resposta é maior, mas não julgo.

C: Vamos todos estar no complexo em dez minutos.

Eu suspiro e deixo meu telefone de lado, voltando o olhar para a imagem. Fodidamente inacreditável...

Cowboy. Cowboy era o rato.

Hacker - Flaming Reapers 7Onde histórias criam vida. Descubra agora