Capítulo 1

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Alexis

Guardo meus livros de álgebra no armário, minha cabeça já doendo com tantos fodidos números e equações. Eu odiava matemática. Não, isso era pouco. Eu detestava matemática mais do que tudo no mundo, incluindo baratas, o que era dizer muito, considerando meu pavor enorme daqueles animais pequenos e estranhos.

Soto um suspiro ao fechar meu armário, mais do que ansiosa para ir para casa. Minha irmã estava no trabalho agora, no salão em que arrumou um emprego um par de meses atrás, então eu teria a casa toda só para mim por algumas horas quando chegasse. O que significava horas e horas de videogame e chocolate. A combinação da felicidade.

Quando me viro para caminhar até o estacionamento, paro e sorrio ao ver a cena um pouco mais a frente. JP estava na frente de seu armário, conversando em voz baixa com sua mais nova melhor amiga. Zoya Fern, se não me engano. Ela sorria para ele, encostada no armário do motoqueiro, cara a cara com o menino.

Não eram muitas pessoas na escola que gostavam de JP. Por dois motivos. Um, ele era um prospecto, e as pessoas morriam de medo de desagradar qualquer um dos Flaming Reapers, mesmo que seja apenas um prospecto. E, dois, JP era diferente. Normalmente, o diferente não era apreciado.

Mas Zoya pareceu gostar dele desde o primeiro dia do menino aqui. De início, podia jurar que iriam acabar tendo algo, mas acho que nenhum dos dois percebeu ainda o que sente um pelo outro. Porque, que eles sentiam, era óbvio na expressão dos dois.

Zoya era muito bonita, e, na minha opinião, eles faziam um casal lindo. A pele da menina era bem escura, cor chocolate, e seus cabelos eram longos e cacheados. Os olhos eram escuros, e ela tinha uma fisionomia linda. Era baixinha, magra, mas bem curvilínea. E, JP era... bem, um gato.

Fingindo não notar, passo por eles, apenas dando um tchauzinho para os dois, e vou para meu carro. Bem, carro da minha irmã, recentemente denominado como meu carro.

Eu sinto seu olhar em mim no segundo em que saio dos portões da escola. Eu acho que ele não sabia que eu havia notado sua presença ali. Mas eu notei. Hacker vem me seguindo a um tempo, e eu ainda não sabia se isso me incomodava ou não. A parte esperta de mim, e não tão grande como eu gostaria, queria mandar o motoqueiro se foder e parar de me perseguir, principalmente depois do que aconteceu.

A outra parte de mim, uma vergonhosamente grande demais, se perguntava se ele não estava me seguindo porque, talvez, lá no fundo, ele sinta algo por mim. Sabia que a ideia era infantil, iludida e bem idiota, mas ainda sim, estava lá.

Então, por isso, eu não dizia nada. Deixava que ele me seguisse para onde quisesse. Eu não ia falar com ele, até porque mal conseguia olhar em sua cara. Não por raiva ou ódio, completamente, mas mais por vergonha. Eu tinha uma vergonha fodida do que aconteceu. Do quão idiota eu fui por acreditar em Hacker.

Entro no meu carro e coloco a chave na ignição, suspirando quando o carro velho ruge a vida. Ligo o rádio em um rock antigo tocando e saio do estacionamento da escola. No meio do caminho até meu apartamento, começa a chover.

E, como o mundo é fodidamente injusto, e eu sou a pessoa mais azarada da face da terra, o carro morre. Tento ligar novamente, girando a chave, mas o fodido motor não ligava.

Suspiro, botando as mãos no volante e encostando a testa nas costas das mãos. Estou prestes a ligar para alguém, quando batem na minha janela. Olho e vejo JP ali, molhado pela chuva, em cima de sua moto. Abro a janela.

"O que tá fazendo aqui?" Pergunto, mesmo já sabendo a verdadeira resposta.

"Estava indo para o clube. Vi seu carro morrer." Diz, e eu quase rolo os olhos com a desculpa. O clube era para o outro lado, não tinha como ele ter me visto.

Eu quase levanto o dedo do meio para onde quer que Hacker esteja, mas não faço. Eu sabia que ele tinha ligado para JP, e parte de mim estava contente com isso. A outra parte estava irada que ele não pode simplesmente vir por si mesmo.

Saio do carro e suspiro.

"O que eu faço?" Pergunto, e ele da de ombros.

"Sobe aqui. Te levo para casa e ligo para alguém, para ver seu carro." Ele diz, e eu sorrio, assentindo. Subo na garupa de sua moto, pegando minhas coisas.

Alguns minutos depois, JP me deixa em casa, e eu suspiro de alívio quando me jogo no sofá, deixando minha mochila no chão. Fecho os olhos e relaxo, desejando apenas alguns minutos de descanso.

Mas, como sempre acontece desde aquela fogueira maldita, começo a pensar naquela noite. As mãos de Hacker pelo meu corpo, seus lábios nos meus, no meu pescoço, peito... Sua cabeça entre minhas coxas.

Porra... Eu odiava e amava pensar naquela noite, tudo ao mesmo tempo. Porque, por mais que eu fique triste e com raiva, não consigo me arrepender. Não me arrependo, porque foi um dos melhores momentos da minha vida. Mesmo que tenha sido seguido por um dos piores.

Abro os olhos e procuro tirar minha mente disso. Ligo a TV e pego o controle do meu PS4, botando no meu jogo do momento, The last of us. Eu não queria pensar em Hacker agora, e o melhor jeito de tirá-lo da minha cabeça era com um videogame.

Enquanto passa a intro do jogo, me levanto e vou até a cozinha, procurando meu pote de sorvete de chocolate. Pego do congelador e volto para o sofá.

Eu sempre amei games, e tudo envolvendo desenho. Minhas partes favoritas dos jogos eram o design, e se um jogo não tinha um design bom, era impossível aproveitar. Jogos, comics, mangás... amava tudo isso. Azura costuma dizer que me transforma em uma nerd fofa.

Bem, que seja. Gostava de ser uma nerd fofa.

Com a colher do sorvete na boca, pego o controle e começo a jogar tirando Hacker da minha cabeça.

Pelo menos por agora.

Hacker - Flaming Reapers 7Onde histórias criam vida. Descubra agora