- Você não se meta, Kaia!! - disse meu pai, se apoiando na mesa de mármore para se equilibrar, tão bêbado que mal conseguia andar. - Quem manda nessa porra ainda sou eu! - gritou ríspido.
Perco o resto de paciência que ainda me resta.
- Você perdeu todo o dinheiro que deveria sustentar essa casa na MESA DE JOGO e ainda acha que está certo? Você não manda em porra nenhuma, não consegue nem sustentar o próprio vício! - grito atordoada.
Ele se cala e me olha em choque.
Sei que minhas palavras foram duras, mas foram necessárias. Meu pai bebe demais, em um cassino aqui perto. Minha mãe, coitada, empregada doméstica, se mata a trabalhar para dividir as contas de casa comigo. Trabalho em um escritório de advocacia no centro da cidade, bem conceituado e ganho razoavelmente bem. Mas já não posso aturar a loucura do alcoolismo de meu pai. Todos os dias ele vem, completamente bêbado e fora de si para dentro de casa. Gritando, muitas vezes quebrando as coisas e mal se aguenta em pé. Hoje foi um dia a parte. Ele recebeu seu salário de aposentado - fora aposentado por invalidez -e perdeu TUDO na mesa de jogo hoje a noite. Eu e minha mãe batalhamos tanto para conseguir pagar o aluguel da casa em dia, por comida na mesa e ele gasta todo o dinheiro assim? Não! Não vou aceitar!
- Vocês não sabem porra nenhuma, eu não vou discutir o que faço ou deixo de fazer do meu dinheiro com vocês. - diz e sai cambaleando para o quarto.
Por um momento, penso em ir atrás dele, mas uma força interior me detém. Será inútil. Ele está em um estado deplorável, não consegue nem se por de pé direito, que dirá levar uma discussão acalorada a diante. Minha mãe está sentada no sofá, tricotando, com a cabeça baixa. Sei que já não aguenta mais toda essa situação. Está mesmo insustentável. Me sento no sofá em frente a ela e a observo. Essa situação me destrói. Amo meu pai, mas odeio o que ele está fazendo com a gente por causa da bebida. Isso está destruindo nossa família.
- Mãe, precisamos conversar. - digo calmamente.
Ela me olha com os olhos marejados e continua a tricotar.
- Não há o que falar, filha. Ele não vai mudar. - diz com ar triste.
- Não é assim que a banda toca, mãe. Não temos que sustentar ele enquanto ele chega todo dia quebrando tudo e gasta todo o dinheiro na farra. Não vou mais aceitar isso e você também não vai. Eu não vou deixar. - digo encolerizada.
- E fazer o que, Kaia? Deixa-lo morrer sozinho embebido em rum? Ele ainda é seu pai e meu marido. Não se esqueça disso. - ela me olha sério.
- Não me esqueci, mãe. Mas pelo visto ele esqueceu de nós. Só servimos para bancar as contas da casa enquanto ele está cagando pra nós. Você se mata a trabalhar em suas faxinas e eu no escritório. Você acha isso JUSTO? - pergunto.
- Kaia, estou cansada. Por favor, deixe isso pra lá filha. Amanhã é outro dia. - pede tristonha.
Não sou tola de negar, morro de pena de minha mãe. Apesar dos apesares ela ama meu pai. Eu também o amo, não quero desistir dele mas a situação está ficando demais para aturar.
A cada dia ele destrói um pouco do meu respeito por ele. E eu perco um pouco da minha esperança de ele melhorar.Vou até meu quarto e separo a roupa para tomar um banho. Deixo a água quente do chuveiro cair sobre minhas costas e lavar a sujeira da minha alma. Tento relaxar mas os acontecimentos recentes abalaram minha estrutura. Acabo o banho e vou até a cozinha. Pego um copo d'água e um pêssego, me dirigindo ao meu quarto. O pêssego está fresco, delicioso.
Leio um pouco do livro 'Orgulho e Preconceito' de Jane Austen que peguei emprestado de Camilla, minha melhor amiga.O sono bate e decido me deitar. Afinal, amanhã tenho mais um dia cheio.
-
Acordo sobressaltada com batidas fortes na porta. Vejo pela fresta aberta da porta do meu quarto que as luzes estão acesas. Saio ás pressas da cama e vou em direção a sala.
Minha mãe e meu pai estão parados na porta, com as mãos pra cima. Avanço um pouco mais e dou de cara com uma cena assustadoramente perturbadora: há um cara apontando uma arma para eles.
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Casamento por Contrato
RomansaKaia Porter é uma garota do subúrbio de Manhattan que trabalha em um grande escritório de advocacia no centro da cidade. Leva uma vida corrida e difícil. O pai é alcoólatra e a mãe empregada doméstica. Kaia se esforça ao máximo para manter o pai nos...