Capítulo 14 - Memórias

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Finalmente, eu conseguia entender o que Bakugo quis dizer quando me acusou de atrapalhá-lo. A ironia me atingiu como uma lâmina fria: agora era ele que me atrapalhava. Sua presença era uma distração sufocante, um peso que me desequilibrava, que me fazia hesitar quando eu deveria ser inabalável. Era estranho perceber o quanto sentimentos — algo que parecia tão simples — podiam interferir naquilo que me tornava forte. Meus sentimentos, confusos e sem forma, me enfraqueciam, me deixavam vulnerável. Pela primeira vez, entendi as palavras dele com uma clareza dolorosa.

Eu precisava enterrar tudo aquilo. Fechar as portas da confusão que habitava meu coração e seguir em frente, sem olhar para trás. Seria melhor, muito melhor, se eu não sentisse nada.

Eu seria Naosu, a heroína da cura, impenetrável. Nada — nem ninguém — ficaria entre mim e meu sonho.

As semanas passaram sem que eu percebesse. Treinei mais do que nunca. E Bakugo? Ele se tornou um espectro na minha mente, sua imagem desaparecendo como poeira ao vento. Eu queria acreditar que ele também havia me apagado de sua vida.

— Hoje, vocês terão um treinamento de resgate — a voz de Aizawa me arrancou da minha bolha. Toda a sala se animou instantaneamente.

— Será em uma cidade artificial no USJ, nossa parceira para esse tipo de exercício. Sairemos em 15 minutos. Vistam seus uniformes de heróis.

O caos tomou conta da sala enquanto todos se preparavam. Resgate era uma das áreas em que eu me sentia mais à vontade, onde eu realmente me conectava com minha individualidade. Combate era importante, mas no resgate eu sentia que fazia a diferença. Estava ansiosa para mostrar as novas técnicas de cura que vinha praticando com Yukio.

**

Acordei com um peso esmagador sobre a cabeça, minha visão embaçada e o som de batidas e gritos distantes. O chão era áspero sob mim, e as pedras pequenas machucavam minhas costas. Cada detalhe ao meu redor parecia fora de lugar — o cheiro de pólvora, o gosto metálico de sangue na minha boca, a poeira cobrindo minhas roupas.

Onde estou? A pergunta ecoou na minha mente, mas uma ainda mais terrível a seguiu imediatamente: quem sou eu?

Meu coração disparou, o pânico surgindo como uma onda. Minha identidade, meu propósito, tudo tinha desaparecido, deixando um vácuo que ameaçava me engolir. A única coisa que eu sabia era que estava perdida — perdida de uma maneira que não envolvia apenas o espaço ao meu redor, mas também dentro de mim.

Seis figuras surgiram de repente das árvores. Entre elas, um garoto de cabelos bicolores, branco e vermelho, que me encarou com olhos arregalados. Algo nele parecia... familiar, mas estava distante, como um sonho que você não consegue lembrar ao acordar. Ele se colocou ao meu lado, suas mãos envoltas em gelo, como se estivesse me protegendo. Eu não sabia por quê, mas sua presença trouxe uma sensação de segurança.

Quando um dos homens avançou, algo dentro de mim despertou. Sem pensar, uma aura verde translúcida emanou do meu peito, e meu corpo começou a se mover por conta própria. Senti uma onda de adrenalina, como se algo primordial estivesse despertando em mim. Cada movimento parecia uma memória enterrada em minhas fibras, uma coreografia secreta gravada em minha carne.

Os movimentos eram fluidos, precisos. A dança entre ataque e defesa era algo tão enraizado em mim que parecia automático. Eu bloqueava golpes, desviava, contra-atacava com uma precisão que parecia impossível. Quem quer que eu fosse, meus reflexos de luta estavam intactos, armazenados em cada músculo, cada fibra do meu corpo.

O garoto de cabelos bicolores — que eu não reconhecia, mas que claramente estava do meu lado — usou gelo para prender os outros vilões. Quando olhei de novo, ele havia desaparecido entre as árvores. Não havia tempo para ir atrás dele; eu precisava sair dali. As árvores se abriam para uma pequena cidade em ruínas, com prédios desmoronados e carros virados.

Quando as cerejeiras florescem - Imagine Bakugou KatsukiOnde histórias criam vida. Descubra agora