Capítulo 2 - Feliz Aniversário

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O choro preso na garganta, o ar que me faltava nos pulmões e a angústia daquela situação se misturavam com a sensação nojenta da boca daquele sujeito beijando meu pescoço. Eu já não conseguia mais escutar a música que tocava ou notar as luzes piscando, só ouvia um zumbido dentro da minha cabeça e olhava tonta para todos os rostos à minha volta que me ignoravam enquanto eu tentava chamar por alguém, sem voz. Mas no segundo seguinte, senti que todos se afastaram subitamente, abrindo um círculo ao nosso redor, os olhos arregalados em uma expressão assustada.

Por uma fração de segundos, as mãos do sujeito se afrouxaram, seu corpo se afastou alguns centímetros e então eu pude finalmente me mexer. Não hesitei em rapidamente elevar meu joelho com toda a força que me restava, acertando em cheio aquele bêbado entre as pernas. Ele soltou minha cintura e levou as mãos à virilha, os olhos arregalados me olhando incrédulo, pálido, boquiaberto.

Foi quando notei o motivo das pessoas se afastarem subitamente: o garoto irritado estava parado bem às minhas costas, faíscas estouravam freneticamente das palmas de sua mão. Sua expressão era voraz, mas não para mim, para o cara que estava à minha frente segurando as bolas doloridas.

O garoto avançou, se colocando à minha frente, suas costas como uma muralha. Estendeu uma das mãos para trás, tocando meu braço, como que para ter certeza de que eu ficaria ali, com a outra mão criou mais e mais faíscas, a fechou em punho e explodiu certeira sobre o rosto do bêbado que soltou um ganido apavorado caindo para trás.

Em algum momento entre socos e explosões, eu parei de prestar atenção. O choro preso na garganta começou a subir e transbordar pelos olhos. Não era assim que eu queria a noite do meu aniversário, não quando eu havia dito que pela primeira vez na vida não queria ser uma criança que passa o aniversário com os pais comendo bolo de morango. Ainda podia sentir a sensação daquele bêbado me segurando, o cheiro de álcool, a boca dele na minha pele, me dando náusea, me sentia suja, invadida, não conseguia sequer processar tudo que estava sentindo.

Quase me afoguei nas lágrimas, quase não podia mais respirar. Então senti algo pesado e quente cair sobre meus ombros, uma capa vermelha. Olhei para cima, minha visão embaçada e molhada e vi o garoto. Sua feição era séria, mas não irritada, ele parecia um pouco consternado. Ele puxou o capuz sobre minha cabeça e me senti grata, porque parecia que finalmente todos os olhares ao redor estavam de fato vendo o que estava acontecendo, só agora, só quando eu havia começado a chorar, não quando eu realmente havia precisado de ajuda.

O garoto não disse uma palavra, nem "tudo bem?" ou "fica calma", que é o mínimo que uma pessoa normal faria nessa situação. Mas de certa forma fiquei feliz por isso, não queria a pena dele, como se ele soubesse que não havia nenhuma palavra de conforto que pudesse remediar o que eu senti.

Ele me guiou para próximo da parede, aos poucos as pessoas voltaram a fechar o buraco que havia ficado na multidão e seguiram a festa como se nada tivesse acontecido. Sua mão permanecia em meu ombro, pressionando levemente, era quente e tinha cheiro de açúcar queimado. Levantei o olhar debaixo do capuz para ver seu rosto, seus olhos eram incrivelmente vermelhos, seu nariz arrebitado lhe dava um ar arrogante. E os cabelos loiros eram arrepiados e espetados para todas as direções de uma forma engraçada.

Ainda sentia meu coração batendo descompassado, minha respiração parecia não voltar ao normal de jeito nenhum, meus joelhos começaram a fraquejar até cederem. Antes que eu caísse, sem aguentar ficar de pé, o garoto me segurou agilmente, as mãos encaixadas nas minhas axilas para me sustentar ereta. Agora sua expressão não era mais tão séria, vi a preocupação crescendo em seus olhos, mas logo minha visão começou a ficar turva e não tive certeza de que feição ele estava fazendo. Os sons se tornaram zumbidos, ouvi uma voz próxima, mas era impossível identificar o que dizia. Meu coração batia mais forte e mais forte, mais, mais, mais. Tum, tum. Tum, tum. Tum, tum. Eu só escutava as batidas ecoando nos ouvidos, minha respiração ofegante não provendo ar suficiente para respirar, meu peso pendendo sobre as mãos que me seguravam e uma inquietação angustiante no meu peito.

Quando as cerejeiras florescem - Imagine Bakugou KatsukiOnde histórias criam vida. Descubra agora