Capítulo 5 - Sincronia

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As semanas seguintes ao primeiro dia de aula passaram voando, e eu saboreava cada minuto com um apetite voraz por conhecimento. Cada aula teórica era um deleite, cada treino uma nova descoberta. Quando chegava em casa, Yukio não me dava trégua, e continuávamos a treinar como se não houvesse amanhã. Voltei ao café com Uraraka em outros dias, cuidando para não exceder meus limites físicos como da primeira vez. Rapidamente, nos tornamos próximas, e, mesmo com a agenda sempre ocupada, Midoriya aparecia com frequência, acompanhado por Iida. Até Todoroki se juntou a nós em alguns dias. Quando estava com eles, eu podia ser eu mesma, o que me deixava feliz e com mais expectativas sobre o futuro.

Bakugo, por outro lado, era impossível de ignorar. Sentado na cadeira logo atrás da minha, todos os dias eu tinha que lidar com seus resmungos e xingamentos, mas tentava me concentrar em ignorá-los, para manter minha sanidade intacta. No trem, o silêncio entre nós se instalava, constante, quase sufocante. Ficávamos lado a lado durante todo o percurso, caminhando até a sala de aula em um mudo acordo de que era melhor não trocar palavras. Aos poucos, aquele silêncio se tornava algo confortável, uma interação não dita, mas profunda. Parecia estranho, uma proximidade sem palavras, mas a verdade é que, se começássemos a conversar, provavelmente acabaríamos discutindo. Às vezes, o silêncio diz mais do que qualquer palavra.

Nos treinos, ele era especialmente insuportável, e nenhum de nossos colegas aguentava mais as provocações que trocávamos. Aizawa, por algum motivo que eu ainda não conseguia entender, insistia que éramos uma boa dupla para treinar. Ele dizia que eu era resistente o suficiente para suportar os ataques de Bakugo, e o garoto bomba tinha força o suficiente para me empurrar ao limite. Claro, eu sabia que Aizawa estava se divertindo com nossa rivalidade disfarçada de "estratégia pedagógica".

— EXTRA, NÃO ME FAÇA PERDER TEMPO! — Bakugo gritava do outro lado do ginásio, impaciente, enquanto eu caminhava deliberadamente devagar até nossa área de treino só para saborear o gostinho da irritação matutina.

Naquele dia, no intervalo, algo estava diferente. O peso da frustração se abateu sobre mim de uma forma que eu não experimentava há tempos. Apesar de estar animada com as técnicas de combate que havíamos aprendido na aula conjunta da manhã, eu simplesmente não conseguia colocá-las em prática. Meus golpes estavam errados, lentos e descoordenados. Senti a frustração crescer dentro de mim, acumulando-se em uma pressão que não sabia como liberar. Decidi me afastar e treinar sozinha atrás dos ginásios. Era um lugar afastado, onde o pátio estava coberto por árvores e raramente alguém passava por ali. Coloquei os fones de ouvido no volume máximo, tentando afogar meus pensamentos na música e nos batimentos do meu coração.

Comecei lentamente, refazendo os passos ensinados pelo professor, mas logo a pressa tomou conta. Cada golpe era uma tentativa de liberar a frustração que eu sentia. Respirei fundo, deixando a música e a raiva me guiarem. Meus músculos, cansados e tensos, pareciam implorar por um alívio que não chegava. Quando tentei um chute alto e explosivo, senti de repente uma dor aguda no tornozelo, como se tivesse acertado em cheio uma árvore próxima. Quando olhei para meu alvo descobri não se tratar de uma árvore...

— MAS QUE DIABO?! — ouvi Bakugo gritar, enquanto arrancava meus fones de ouvido com fúria. Eu havia acertado seu ombro.

Congelei no instante em que me dei conta. Bakugo segurava o ombro, onde o golpe tinha atingido. Seus olhos brilhavam de raiva, mas, ao mesmo tempo, havia algo mais perverso em sua expressão. Eu, por outro lado, estava em choque.

— Eu não te ouvi chegar — tentei me justificar, a voz falhando por causa da adrenalina ainda correndo nas veias.

— CLARO QUE NÃO, COM ESSA DROGA NO OUVIDO! — ele vociferou, jogando meus fones no chão com desprezo. E foi nesse momento que, sem conseguir evitar, uma risada escapou de mim. A expressão feroz dele, com os cabelos espetados e o corpo tenso de raiva, me lembrou de algo, algo cômico. às vezes ele se parecia com um goblin irritado. E claro que ele notou a minha risada. — TÁ RINDO DO QUÊ, SUA EXTRA?! — Será que ele ficaria muito bravo se eu contasse o motivo de estar rindo?

Quando as cerejeiras florescem - Imagine Bakugou KatsukiOnde histórias criam vida. Descubra agora