3- Sabia que te conhecia de algum lugar.

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- E aí. - Paul estica a mão pra eu tocar. - Tá sumida.

- Bom, não há muito o que fazer aqui, não é?

- Como não? Sempre que quiser o palco é todo seu.

Reviro os olhos e ele ri.

- Vou te fazer um drink.

- Por favor.

A música não está tão alta e ainda é cedo, mas já tem uma mulher no pole dance. Imagino que seja nova na casa, já que nunca a vi. O turno de Gina é a partir da meia noite hoje e ela já foi se preparar.

Eu trabalhei aqui algum tempo antes de começar a fazer o que faço. Era assim que eu pagava as contas antes de minha mãe adoecer. Na época era divertido, se eu fingisse que não tinha aqueles homens todos babando em frente ao palco.

O movimento cresce a cada minuto. É uma boate famosa, Paul se dá muito bem às custas dessas garotas.

Paul é um cara de quase quarenta anos. Está envelhecendo rápido e se estressa muito, por isso pinta o cabelo o tempo todo para esconder os efeitos da idade. Na última crise, ele colocou piercings. Tudo para se sentir mais jovem. Se funcionou, não sei. Como chefe, ele é um mala, mas tem um quê de divertido.

- Aqui está. Com bastante gelo. Por conta da casa. - ele me entrega o copo e eu agradeço.

Três homens e duas mulheres entram juntos e no começo me chamam a atenção por parecerem meio deslocados, uns chocados por verem seios de fora a esse horário, outros felizes demais por isso. Mas depois, o que chama a minha atenção é um dos homens. Cabelo nem tão curto, nem tão longo, alto, roupas um pouco formais para o ambiente. Eu o conheço de algum lugar. Mas de onde?

Encaro ele, tentando me lembrar, até que ele percebe e então me viro pro palco, pra não parecer doida.

- Com licença. - ouço um sotaque britânico ao meu lado. - Cinco vodkas, por favor.

Olho pra pessoa que fez o pedido e é um dos homens no grupo que eu observava, mas não o homem que eu acho que conheço, esse está vindo nessa direção agora.

- Liam, pede só um refrigerante pra mim.

- Tá louco? Não estamos trabalhando.

- Liam...

- Eu já fiz o pedido. Para com isso e se diverte.

O homem apenas suspira derrotado e aceita quando seu amigo lhe dá o copo de vodka.

Depois que o tal Liam sai, ele se volta para mim.

- Você não é a garota que esqueceu o celular?

Então era isso!

- Sabia que te conhecia de algum lugar! - digo. - Juro que não lembrar tava me matando.

- Por isso aquela encarada? - Ele diz bem humorado e eu confirmo. - Prazer, Harry.

- Astrid. - aperto sua mão.

Eu também não lembrava dele ser tão bonito. Acho que nem cheguei a reparar em seus olhos claros, ou na tatuagem que aparece pela pequena abertura de sua camisa, que o deixa bem sexy.

Pigarreio.

- Vocês não são daqui, né? - aponto com a cabeça pros seus amigos.

- Moramos todos em Washington. - fala e eu franzo a testa. - Ah, você quer dizer por causa do sotaque? - Assinto. - Eu e o Liam somos da Inglaterra.

- Imaginei. Já estive lá.

- Mesmo? Em Londres, imagino.

- Sim. Foi uma das melhores viagens da minha vida.

- Minha cidade natal fica há umas três horas de lá. Holmes chapel, já ouviu falar?

Nego com a cabeça.

- Não é Londres, mas tem seu charme. Talvez você fosse gostar. - ele me dá um sorriso bonito.

- Quem sabe na minha próxima viagem?

- Você costuma viajar muito?

- Costumava, mas... Bom, agora não viajo mais.

- E tem um motivo pra isso?

- Sim, bom, minha mãe tem Alzheimer. Ela está na casa de repouso Mary's gardens.

- Ah, nossa. - ele me dá um olhar significativo. - Meu pai também tinha. Sei o quão difícil isso pode ser.

- Ela ainda tem dias bons. - forço um sorriso. - Eles cuidam bem dela lá. Mas desde que ela ficou doente, não consigo me afastar por muito tempo.

- Compreensível.

- Estão aqui de férias?

- Estamos a trabalho, mas alguns não levam isso tão a sério. - ele olha indignado na direção do seu amigo, Liam.

- Pensei que ele tivesse dito que não estão trabalhando.

- Nós deveríamos estar.

Esse é o momento da conversa onde uma pessoa normal perguntaria o que ele faz da vida, qual sua profissão tão importante a ponto de ele não poder tirar um diazinho pra beber com os amigos? Mas perguntar sobre o trabalho dos outros dá brecha pra perguntarem do meu e costumo evitar isso.

De qualquer forma, sou obrigada a encerrar a conversa quando Gina, prestes a entrar no palco, me manda uma mensagem pedindo ajuda.

- Minha amiga precisa de mim, mas foi um prazer te conhecer, Harry. Espero que se divirta no resto da noite.

- Foi um prazer também.

Ele dá um sorrisinho e eu saio, entrando pela porta ao lado do palco.

Algumas meninas estão ali, é basicamente o camarim onde se arrumam para o show. Há várias roupas espalhadas pelo lugar, mesmo que não precisem de muitas delas nas apresentações.

- Qual a emergência? - pergunto.

- Preciso que faça aquela coisa com a sombra que só você sabe.

Dou risada pegando o pincel de maquiagem e começo a trabalhar.

- Paul estava perguntando sobre você. Disse que sabe que está desempregada e que pode te empregar quando quiser.

Dou uma risada debochada.

- Claro que ele disse. O que você respondeu?

- Que você tem amor a vida e não vai voltar a isso.

- Inclusive você deveria ter também.

- Eu vou sair daqui, em breve.

Gina entra no palco meia noite em ponto e volto pro lugar onde eu estava antes, pra ver o show. Mas ao invés disso, fico procurando por Harry. Fiquei curiosa pra saber mais sobre ele. Porém não o encontro, o que me deixa meio desapontada.

A Assassina de Vegas | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora