26- Sem Saída

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Entro no quarto da minha mãe e ela está acordada. 

— Astrid... — chama baixinho, quase não escuto.

Me aproximo e ela tosse antes de continuar.

— Por que tá chorando?

Fico de joelhos, pra ficar da altura dela e seguro sua mão, dando um beijo na palma dela.

— Eu fiz besteira, mãe.

— O que você fez?

Começo a soluçar e escondo o rosto nas mãos.

— Astrid. — sinto seu toque fraco em meu cabelo.

Enxugo o rosto e encaro ela.

— Eu vou ser presa.

— Presa pelo que, filha?

— O meu pai... eu... — fungo — eu segui os passos dele, mãe. Eu não sou médica.

Não sei ler sua expressão, mas o carinho em meu cabelo continua.

— Eu fiz e não me arrependo, mas... você me acha uma pessoa horrível?

— Você teve bons motivos?

— Eu tive ótimos motivos, mãe. Bem melhores que os dele. 

— Astrid, ele só estava tentando manter nossa família. Não era uma má pessoa e você também não é.

— E ao invés disso, a separou. — começo a chorar ainda mais. — Ele não tinha o direito de... ele não... Porque ele deixou que chegasse àquele ponto? Ele podia ter parado.

— Ele cometeu erros. Muitos deles, mas fez o que fez por nós. Assim como você fez o que fez por mim.

Fico surpresa por ela ter conseguido ligar os pontos.

E então outra crise de tosse.

— Vou pedir pra Gina cuidar da senhora quando eu não estiver. Não vai estar sozinha.

— Isso não será necessário.

— Por que não?

— Meu tempo está se esgotando, filha. — Tosse. — Não vou estar aqui por muito tempo.

— Não fala besteira. — falo me sentindo mais angustiada do que antes. — Você ainda vai viver muito.

— Minha mente já era, querida. Quem iria querer viver assim, de qualquer forma?

— Você está bem, mãe!

— Não estou não, Astrid. Essa é a primeira vez em semanas que sei quem você é. E agora meus pulmões também estão falhando.

— Eu encontrei um médico. A Gina pode...

— Eu não quero. Por favor não despedisse esse dinheiro. 

— Eu não ligo pro dinheiro. Só não posso deixar de lutar...

— Querida, eu já deixei de lutar. 

Me sinto uma criança outra vez. Pequena e desprotegida diante das situações incontroláveis da vida. 

— Você vai ficar bem, meu amor. Eu sinto isso. E sentido de mãe não falha.

Não sei como eu poderia ficar bem. Na cadeia, com uma mãe que desistiu de lutar pela própria vida. 

— Eu preciso... preciso encontrar Gina. Não sei quando eles vão aparecer para me...

— Você vai ficar bem, Astrid. — ela repete.

Assinto e a aperto, mais do que deveria, num abraço. 

A Assassina de Vegas | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora