27- Seja forte

1.1K 128 47
                                    

Nathan me puxa pelo braço com força e para minha surpresa, abre a porta. 

Quando saímos por ela, os policiais já estão na frente de casa. 

Sinto a arma contra minha cabeça. 

É difícil acreditar que o cara que um dia amei esteja fazendo isso comigo, mais difícil ainda acreditar que esteja fazendo isso "por amor".

A polícia grita coisas pra ele, que rebate dizendo que vai me matar. 

Me desligo de tudo quando o vejo.

Harry sai do carro, e me olha nos olhos. A preocupação está estampada em seu rosto. Pensando bem, se eu morrer, fico feliz que ele seja a última coisa que eu vi.

Ele murmura um "seja forte", Mas não sei mais se faz tanta diferença assim Nathan puxar ou não esse gatilho.

Penso em minha mãe e sinto as lagrimas caindo, pelo menos eu disse que a amo. Talvez haja um paraíso, afinal de contas, e nos encontremos lá, junto com meu pai. Mas se há um paraíso ele estaria lá? Eu estaria lá?

Penso em Gina, nossa última conversa de verdade foi uma discussão idiota. Mas ela sabe o quanto a amo. Penso até em Tequila, minha filhinha de quatro patas. Ela sentirá minha falta?

Os gritos continuam. Um tiro é disparado. Fecho os olhos com o susto. Mas quando volto a abrir, ainda estou bem. E ninguém mais está segurando meu braço.

Vejo Nathan caído no chão e os policiais começam a se aproximar. Levam ele pra um lado, e me levam pro outro. 

Estou chorando e minha mente não está aqui, não consigo responder as perguntas que a policial me faz enquanto me desamarra.

Estou esperando o momento em que vou ser algemada e levada pro interrogatório, enquanto isso eles vão invadir minha casa, pegando Gina completamente desavisada, e vão achar o meu closet e terão a confirmação de que sou quem sou. Não que eu esteja planejando mentir.

Mas isso não acontece, não sou algemada. A policial me olha preocupada enquanto me leva pra longe da casa.

— Ela está em choque. — diz pra alguém atrás de mim. — Você está bem agora, docinho, ele já foi levado. Não vai mais te machucar.

Docinho?

Ela se afasta e Harry aparece na minha frente.

— Você está bem? — me olha com preocupação.

Assinto.

— Desculpa a demora. Não foi fácil achar o endereço certo.

— Você acreditou em mim. — Digo chorosa. — Obrigada. — me jogo nele, molhando sua blusa com minhas lágrimas. Harry fica tenso, não me abraça de volta.

Quando me afasto, ele diz:

— Eles vão te levar para o hospital pra ver se tá tudo bem e depois te levarão para casa.

Franzo a testa. Para casa?

Antes que eu pergunte ou fale qualquer coisa, Harry já me deu as costas.



— Pelo amor de Deus. O que aconteceu? — Gina entra no meu quarto de hospital.

— Eu tô bem. Calma.

— Bem? O que aquele filho da puta fez com você?

— Ele não me machucou. Só... me trancou e...

— Meu deus, como isso foi acontecer?

Eu precisei contar tudo à polícia depois de fazer alguns exames. Mesmo eu dizendo que estava bem, eles falaram que eu tinha que fazer. Começo a narrar o mesmo para Gina.

— Mais cedo ele foi lá em casa, pedir desculpa pelo que fez da outra vez, mas eu fechei a porta na cara dele. — começo. — Então quando cheguei em casa depois de visitar a minha mãe, a porta estava aberta e eu achei que fosse você. Mas era ele, que me deu uma pancada na cabeça e me levou até a casa dos pais dele.

Ela me olha horrorizada.

— O Nathan... Eu não acredito nisso.

— Pois é. — assinto. — acho que ele usou alguma droga ou...

— Eu também já usei e não saí por aí sequestrando meus ex's. — ela diz indignada.

Dou uma risada alta com isso. Era raro ela admitir as coisas erradas que já fez. Me sinto automaticamente melhor por estar ali com ela.

— Mas como conseguiu pedir ajuda?

— Eu consegui mandar uma mensagem pro Harry.

Seu rosto suaviza.

— Eu retiro tudo o que eu já disse sobre ele. 

Solto um suspiro.

— Eu preciso te contar uma coisa.

— Que coisa?

— Em casa.

Ela me olha desconfiada, mas assente.

Na mesma hora, o médico entra para me dar alta.



— Você não tá grávida, tá? — É a primeira coisa que Gina diz ao chegarmos em casa.

— Tô. São trigêmeos.

— Eu tô falando sério, Astrid.

Me jogo no sofá, respirando fundo. Querendo mais que tudo dormir e só acordar quando estivesse tudo bem.

Minha cabeça ainda dói da pancada, mas a tomografia não mostrou nada anormal.

Gina se senta ao meu lado.

— Gin...

Ela me olha. Sinto que vou começar a chorar. 

— Argh, Não sei como te dizer isso.

— Você só tá me assustando. Fala logo.

— Você tava certa sobre Harry — falo de uma vez. 

— Como assim?

— Ele descobriu sobre... mim.

— O que quer dizer com isso?  — ela me olha alarmada.

Respiro fundo.

— Ele descobriu que eu sou a assassina de Vegas. 

Ela me encara e não fala nada por alguns segundos.

— Diz que tá brincando.

— Queria estar. — olho triste pra ela.

— Puta que pariu, Astrid! Como isso.... Como você... O que você tá fazendo aqui? Precisamos esconder as coisas antes que.... Você precisa fugir. — ela se levanta e faz menção de ir pro quarto. Eu seguro seu braço.

— Para, para. Eu não vou fugir. Não tem porquê.

— Como não tem porquê? Como ele descobriu?

— Não importa. Mas tem outra coisa: ele teve a chance de me prender e não o fez.

Ela me olha, séria.

— E eu não sei porque.

— E seu plano é ficar parada até ele mudar de ideia e vir atrás de você?

— Minha mãe tá morrendo, Gin. — começo a chorar. — Eu fiz tudo que fiz por ela. Se ela não está aqui, que motivo tenho pra...

— Eu? Você mesma? Astrid, pelo amor de deus. Você não pode simplesmente se entregar assim. — ela começa a chorar também e puxo ela pra um abraço. 

— Vai ficar tudo bem, Gin. — repito as palavras da minha mãe. Mesmo sem acreditar nelas.

E no final da noite, quando ligam do Mary's Garden para avisar que ela se foi, eu achei que estava preparada, mas desabo mesmo assim.

A Assassina de Vegas | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora