22- Wake up, you need to make money

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— Não sei, ela está com febre e… — começo a dizer à Gina, do outro lado da linha.

— Eu tô indo aí.

— Não, não precisa. Ela tá dormindo, não há nada que possamos fazer aqui agora.

— Você vai vir pra casa? 

— Sim, sim. Já tô indo. 

Desligo o telefone e seguro a mão da minha mãe, que aparenta muita fragilidade em cima da cama.

O médico disse que poderia ser apenas um resfriado forte, torço pra que realmente seja só isso.

Beijo sua testa antes de sair do quarto.

Harry está me esperando na sala de visitas. Ele insistiu em vir comigo e foi bom, eu estava morta de preocupação e ele me acalmou um pouco.

Ele se levanta assim que me vê.

— O que houve? Está tudo bem?

— Aparentemente é só um resfriado. Tá tudo bem. — suspiro, mas sei que minha cara ainda é de preocupação.

Harry me abraça.

— Calma. — diz — Se o médico diz que é só isso. Então é isso.

Me permito ficar mais algum tempo ali e não falamos nada enquanto ele faz carinho no meu cabelo e me sinto melhor por um momento.

— Melhor irmos. Vou voltar amanhã cedo pra ver se ela melhorou.

Ele entrelaça nossas mãos e caminhamos para fora.

— Vou pedir um táxi.

— Quer que eu te acompanhe?

Sorrio.

— Não, vá descansar. Obrigada por vir comigo.

Ele beija minha testa.

— Quando precisar, meu bem.

— Aqui está a ração. 

— Você lembrou disso?

— Lembrei, nossa filha não vai passar fome.

Gina me olha preocupada.

— Ela tá bem mesmo?

Suspiro.

— Sim, acho que sim. Vou voltar lá amanhã.

— Okay. Eu vou com você.



Uma semana depois

Pneumonia.

Foi o diagnóstico feito.

O médico diz estar fazendo o possível para fazê-la melhorar, discuto com ele várias vezes, pois sei que não está. Se estivesse, ela já estaria bem a essa altura.

Mas continua fraca e sem conseguir sair da cama, fora a tosse incessante, febre alta e agora também tem crises de falta de ar. 

Ele não está fazendo o possível!

Minha cabeça parece que vai explodir enquanto tento achar uma solução.

— Você precisa comer algo. — Gina me entrega um prato.

— Obrigada. — pego o sanduíche que ela preparou pra mim e dou uma mordida, sem desviar o olhar da minha pesquisa.

Depois de várias e várias horas, a única coisa relevante que encontro é algo sobre um médico pneumologista, aparentemente o melhor atualmente, o único porém é que ele mora e atende exclusivamente no Canadá.

Tomo a decisão de levá-la até ele, então. Farei o que for preciso, até alugo avião só pra isso se necessário. Mas não deixarei minha mãe morrer, o que claramente acontecerá se eu não fizer nada e ficar esperando pelos médicos daqui, que pelo tanto que pago, deveriam ser incríveis.

Só há mais um problema sobre isso tudo… Preciso pagar a viagem, as consultas, a internação que obviamente terá, fora hospedagem e as coisas básicas como comida… E eu não tenho todo esse dinheiro.

O que me leva a minha única opção:

Voltar ao trabalho.


— O que é tudo isso? — Gina entra em meu quarto sem bater e há vários jornais pela cama, mais meu notebook e um caderno para anotações.

Olho pra ela e não preciso responder sua pergunta, é bem óbvio.

— O fbi já foi embora?

— Não, mas eu tô precisando de dinheiro.

— O que? Pra que? Quanto?

— Eu te falei sobre médico.

— O canadense?

— É. Eu vou levá-la. 

— O que? Mas…

— Me dá outra solução agora que eu não faço isso.

Gina se cala.

— O que eu ganho no Paul não dá pra nada. Eu preciso fazer alguma coisa, Gin. — sinto meus olhos enchendo de lágrimas. — Não posso perder ela.

Minha amiga vem até mim e me abraça.

— Tudo bem, tá tudo bem. — ela segura meu rosto. — Promete que vai tomar todo o cuidado do mundo?

— Sempre.

Robert Brooke.

Acusado recentemente por tentativa de assassinato à esposa. A vítima tinha lesões sérias de violência doméstica. Mas ele foi absolvido e ainda conseguiu processá-la por injúria. 

Tudo é questão de conhecer as pessoas certas, e ter dinheiro, é claro.

Ele tem uma única rede social, o que posso esperar é que seja ativo, ou tornará mais difícil meu trabalho.

A primeira vez que matei alguém foi a mais difícil. Cometi erros, nada que me colocasse numa cadeia, mas levou um tempo para me aperfeiçoar.

Naquele dia, depois de ter completado o serviço, chorei até o amanhecer.

O que eu estava fazendo? Tirar a vida de alguém assim? Isso me tornaria igual a ele?

Mas decido que não, não seria igual meu pai. Eu não deixaria isso acabar com a minha família, usaria isso para protegê-la. No caso, para proteger a minha mãe.

Durante muito tempo, foi difícil, mas lembrar que eu não estava fazendo isso por mim, ajudava. 

E com o passar dos anos, foi ficando mais fácil. Principalmente porque as pessoas que matava, eram pessoas horríveis. E isso me fazia sentir que estava fazendo algum bem não só para mim.

Sabe qual é a sensação de ter nas mãos a vida de alguém que por muito tempo causou tanto mal pra outra pessoa? É bom. É poderoso.

Contar pra Gina foi a parte realmente difícil. Ela não sabia dessa parte da minha vida, não sabia como tenho que lidar com isso desde criança, só que agora, mais diretamente.

Mas ela me apoiou. Não que tivesse escolha, ficava, e ainda fica, horrorizada ao pensar no que eu faço, e nas consequências que poderiam ter, mas sabe que é a única coisa que posso fazer.

E eu sou muito boa no que faço.

A Assassina de Vegas | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora