2- Mãe

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— Nome, por favor.

— Astrid Raven. Vim ver minha mãe, Kiara Raven. 

— Assine aqui. — a moça indica no papel.

Depois disso, sou levada ao Jardim do local, onde vários velhinhos tomam sol. Eu costumava ficar triste vindo ali, vários deles mal recebem visitas, os filhos só os jogam ali e não voltam, ainda pagam a mensalidade insanamente cara, mas é tudo. Porém, poderia ser bem pior. Pelo menos estão sendo bem cuidados.

Assim que a vejo, um sorriso se forma em meu rosto.

— Bom dia. — Margot, uma das enfermeiras mais novas ali, me cumprimenta enquanto checa a pressão da minha mãe.

— Bom dia, Margot. Como ela está?

— Odeio que falem de mim como se eu não estivesse presente. — minha mãe resmunga e Margot e eu sorrimos.

— Parece que bem. — A Enfermeira se levanta. Vou deixá-las a sós, estarei ali do lado.

Me sento onde ela estava, de frente para a minha mãe.

— Você pintou o cabelo? — ela pergunta.

Dou risada.

— Não, mãe, sempre foi dessa cor.

— Hmm, tem certeza?

— Absoluta.

Ela assente, mas não parece convencida.

Vez ou outra, ela me faz essas perguntas. "está mais alta?", "Seus olhos sempre foram dessa cor?", "Pintou o cabelo?". Mas isso é uma coisa boa, pois quer dizer que ela sabe quem eu sou. Nos dias ruins, eu me sento aqui e ela chora por sentir saudades da filha. Nos piores, não sabe nem que tem uma. Hoje é um bom dia.

— Como foi sua semana? Me desculpe não ter vindo visitar a senhora na terça feira. Tive que trabalhar.

Ela dá um enorme sorriso.

— Não sabe o orgulho que me dá, minhas amigas amam quando conto histórias sobre a minha filha médica.

Forço um sorriso. Eu não sei de onde ela tirou isso, mas é algo que sempre fala. Ela realmente acha que tem uma filha médica que paga caro pra ela estar ali. Eu não posso contar que ao invés de salvar vidas, eu as tiro e que é assim que pago sua estadia. Então apenas concordo.

— E como têm te tratado? As enfermeiras continuam boazinhas?

— Ah, sim, elas são ótimas. Todo mundo aqui é legal até demais. — ela revira os olhos. — Às vezes me irrita, sabe? Só queria ficar um pouco sozinha, mas sempre tem uma enxerida por perto.

Dou uma gargalhada.

— Só estão fazendo o trabalho delas, mãe. Mas fora isso está feliz? Não gostaria de ir embora?

— Ah, não. — ela sorri. — Estou bem aqui. Só gostaria que viesse me visitar menos pra focar na sua vida. 

— Ah, mãe, não se preocupe com isso.

— Eu me preocupo, Astrid, eu quero um neto. Você tem pelo menos um namorado?

— Não, mãe, ainda não.

— E quando pretende arrumar um e fazer um neto pra mim?

Eu dou risada e prometo que um dia farei isso, mas que ela não pode me apressar e o resto da visita segue assim. Eu adoro quando ela está bem, mesmo quando está me cobrando netos que eu não pretendo dar.

Paro num café pra comer algo, já que não comi antes de sair de casa. Faço meu pedido e me sento em um dos bancos altos em frente ao balcão para esperar. 

A televisão está ligada em mais uma reportagem sobre a morte de Michael West e a assassina de Vegas. Nunca vão parar de falar sobre isso?

Uma entrevista com a agora milionária mulher do morto passa e fico impressionada com a atuação. Kriss West, que em toda foto que vi aparecia impecável, parece acabada agora. Sem maquiagem e um coque mal feito na cabeça, lágrimas reais saindo de seus olhos.

Volto minha atenção para o celular quando chega uma mensagem de Gina perguntando se deve comprar leite. Respondo que comprei duas caixas ontem e então meu pedido chega. Um bolinho de chocolate e um cappucino.

Enquanto como, um homem senta ao meu lado. Seu sotaque britânico me chama a atenção e quando olho pra ele, está focado na tevê com muita seriedade. Antes que fique estranho, desvio o olhar pra lá também, a entrevista com Kriss continua e ela não para de chorar nem por um segundo. Ela é boa.

Estou virando a esquina quando alguém segura meu braço. Me viro pronta pra brigar com quem quer que seja.

— Você esqueceu o celular — diz o britânico que agora está um pouco ofegante por ter corrido.

Minha cara brava se desmancha.

— Ah, caramba, obrigada.

Ele me entrega o aparelho e quando vai dizer algo, provavelmente um " de nada", seu próprio celular toca.

Aceno, agradecendo de novo e vou embora.

Gina está jogada no sofá, quando chego em casa, assistindo algum reality show que não sei o nome.

— Oi. — cumprimento.

— Quer pipoca? 

Me sento ao seu lado e pego um pouco.

— Como ela tá?

— Hoje ela tava num bom dia. — sorrio, lembrando.

— Em breve pretendo visitá-la com você. 

— Ela vai gostar. — afirmo.

— Astrid, sobre a nossa discussão de ontem…

— Eu sei, relaxa, você apenas se preocupa. Eu faria o mesmo se fosse o contrário.

Ela suspira.

— É… eu só queria que você tivesse algum plano, sabe? Não pode viver assim pra sempre.

— Eu sei disso, mas os remédios, a mensalidade, os médicos, tudo é muito caro. Não daria pra pagar e ainda me sustentar nem se eu fosse médica de verdade.

— Ela ainda acha que você…?

— Acha. — digo. — Mas eu não sou a única que precisa de um plano, não é mesmo? Por quanto tempo mais vai trabalhar pro Paul?

Ela fecha a cara.

— Por pouco tempo.

— Okay, eu ouço isso há…

— Ser stripper é tudo o que eu sei, o que quer que eu faça?

— Bom, se me deixasse trabalhar um pouquinho mais, nem trabalhar você precisaria.

— Vou fingir que não ouvi isso. — ela aumenta a tevê, indicando que o papo está encerrado.

Uma pessoa a cada dois meses, esse é o plano. O suficiente para as contas relacionadas a minha mãe e sobra um pouquinho para mim também, mas não o suficiente pra esbanjar, apenas o suficiente para viver. Se Gina não ficasse tão incomodada, eu poderia trabalhar um pouco mais e viveríamos melhor. Mas "quanto mais pessoas você matar, mais chance tem de eles te acharem. " E eu sei que ela está certa.

A Assassina de Vegas | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora