25- É você

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Quando acordo, estou sozinha na cama e logo vejo que no quarto também. Harry saiu e não deixou nem um bilhete dizendo onde ia. Emergência de trabalho, talvez?

Mando uma mensagem, esperando que ele me responda quando puder.

Penso no seu comportamento estranho ontem a noite e não acho nenhuma explicação plausível para ele ter ficado distante de repente. Talvez eu tenha dito algo errado? Mas eu não lembro de ter dito nada demais.

Deixando isso de lado por ora, vou lavar o rosto e escovar os dentes antes de sair para visitar a minha mãe outra vez.

Ver que ela ainda está na mesma, é o que me motiva a ir para casa e começar a planejar nossa viagem para o Canadá. 

Consigo marcar consulta com o doutor Mason pro começo da próxima semana e começo a ver passagens quando a campainha toca.

Eu realmente espero ver qualquer pessoa antes de abrir a porta, menos Nathan.

— O que você quer? Eu vou chamar a polícia.

Ele tem um olhar de cachorrinho, que sempre usava quando queria me dobrar. Agora esse olhar está acompanhado de uma bela cicatriz no queixo, causada pela minha faca.

— Calma. — ele segura a porta quando tento fechar. — Eu só quero conversar. 

— Não temos nada pra conversar. DÁ O FORA DAQUI.

— Calma, Astrid. Eu te devo desculpas.

— Desculpas? — dou uma risada debochada. — Você tem sorte de eu não ter te denunciado.

— Eu sei, eu sei. Fiz merda. Eu estava bêbado e... Acredite ou não, eu amo você.

— Eu não acredito que você veio aqui pra repetir toda essa mer...

Ele parece magoado.

— Não. Não vim. Realmente só queria dizer que sinto muito por ter... 

— Quebrado meu quarto? Me atacado? 

— É. — diz e parece envergonhado. — Desculpa, Lili.

— Tchau, Nathan. — bato a porta na cara dele.

Era só o que me faltava. Como se eu já não tivesse problemas o suficiente, ainda tenho que lidar com um ex namorado com dupla personalidade.

A campainha volta a tocar horas mais tarde. Torço pra que dessa vez seja Gina. Ela me mandou uma mensagem falando que está na casa do namorado, mas precisamos conversar e eu sei que devo desculpas a ela.

Para minha surpresa, é Harry quem está ali.

— Ah, oi. — dou espaço pra ele entrar. — Você saiu cedo hoje.

Ele não me responde, também não me encara.

— Você tá bem?

Ele finalmente me olha, não consigo decifrar seu olhar, mas continua calado. Começo a ficar preocupada.

— Aconteceu alguma coisa? 

Harry suspira e parece triste ao dizer:

— É você, não é?

— Que?

— Eu não queria acreditar. Mas a sua tatuagem... E...

— Do que você tá falando? — digo me perguntando se ele andou bebendo ou algo assim.

Harry tira o celular do bolso e mexe nele antes de virá-lo pra mim. Demoro um segundo pra entender que estou encarando a minha tatuagem vista de uma câmera de segurança. Em um elevador. Enquanto estou usando uma peruca. Puta merda.

— Não entendi. — digo, contendo o nervosismo.

— Essa é uma imagem de uma câmera de segurança. 

— Eu sei, mas...

— Do local onde a assassina que estou procurando matou pela última vez. — continua. — E essa é ela. É a sua tatuagem, não é?

— É uma tatuagem bem comum.

— Não, não é. 

Faço cara de confusa.

— E o que quer dizer com isso? Ta me acusando de assassinato com base...

— Não é só isso. — ele me corta. — O caderno que você tirou da minha mão naquele dia? Tinha o nome da vítima. Não tinha percebido isso até parar pra pensar hoje cedo. 

Meu coração começa a acelerar. Não acredito que está acontecendo. Não acredito que fui tão imprudente.

— Eu não...

— Eu pesquisei sobre você. Seu pai era Steven Raven. Não era? Assassino de aluguel, morto pela polícia há alguns anos. Em San Diego, não é sua cidade natal? Por isso você não falava sobre ele. Sempre imaginei que tivesse um motivo triste por trás, mas nunca pensei que... — ele não consegue continuar. Parece perturbado. 

As lágrimas começam a cair. Não tenho mais nem força pra desmentir. Não que ele fosse acreditar, ele está certo. E sabe disso.

Harry me olha com um misto decepção, raiva e tristeza. Nunca pensei que ele algum dia me olharia dessa forma.

Sem dizer ou esperar que eu diga mais nada, ele me dá as costas e sai, batendo a porta. 

E não me resta nada pra fazer, além de chorar e esperar pelas consequências do meu descuido.

Sim, meu pai era assassino de aluguel também.

Ganhava menos, pois a maioria das pessoas que matava, eram de menor importância. Diferente de mim,  não tinha um critério. Matava quem pedissem pra matar. Pai de família ou traficante, homem ou mulher, bom ou ruim.

Seu trabalho não era segredo pra família. Minha mãe e eu sabíamos, mas não falávamos sobre isso em casa.

E então ele morreu. Uma emboscada. Policiais o encontraram e ele foi baleado.

Foi a pior fase da minha vida. Eu o culpei. Como ele pôde fazer isso com a própria família? Porque não arrumou um emprego normal como pessoas normais? Culpei minha mãe também. Ela era muito compreensiva. "Não foi culpa dele" nada era.

Na mesma época, os pais de Gina voltaram para a Colômbia e deixaram um dinheiro para ela, que usou para comprar o lugar onde atualmente moramos.

Saímos de San Diego, pois não havia mais nada lá para nós. Viemos pra Vegas, conhecemos Paul e nossa vida começou aqui.

Jurei que esqueceria meu passado conturbado, mas então a minha mãe ficou doente e precisei trazê-la para cá, o que me levou a ter que fazer o que meu pai fazia.

Que é o que me trouxe a esse momento. Prestes a ser presa pelo cara por quem estou apaixonada.

A Assassina de Vegas | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora