Crush Supremo

Primeiro Dia De Luta

   — Pai, tô saindo. — Passei correndo pela porta do seu quarto.
   Ele não respondeu, acho que nem ouviu,acho que ele nem sabe que eu tenho aula hoje.

   Estudo numa escola chamada Hasgos, é eu sei, é tipo: Rasgo,Rasgado,Rasgação, tem um rasgo na sua roupa...mas não, é o sobrenome do fundador, pelo menos eu acho,sou preguiçoso demais pra procurar saber sobre isso.

    Escola.Estadual.Hasgos de Oliveira.
É um puta de um nome horrível, eu sei, mas dá pra relevar. A escola é bonita apesar de tudo,uma das poucas escolas públicas no Brasil que tem armários, é um pequeno luxo, eu acho bem chique. As paredes tem tons de azul e branco, cores da escola, o uniforme é só branco com a marca da escola no lado esquerdo do peito, é uma escola normal, mas se as coisas por aqui fossem normais, eu não estaria escrevendo isso.
Eu moro perto da escola de certa forma, venho andando, mas antes ia de carona com uma das minhas melhores amigas, a Jheniffer, mas ela começou a namorar nesse verão, com o Lucas, líder do conselho estudantil(é oque seria o capitão do time do futebol americano, mas no Brasil não temos isso, oque temos é o conselho estudantil, e se você faz parte dele, parabéns, você é popular).

   Machista, misógino, homofóbico e preconceituoso. Lucas agora dirige o carro de jheniffer,é ela tem um carro, eu sou meio que adiantado, o único do 3° ano que tem dezessete anos, os outros são de 18 a cima, isso é estranho.

   —Cã! — Jheniffer deu um grito exagerado assim que me viu entrar na sala, feliz por sermos da mesma sala de novo. Essa é Jheniffer, loira com pontas rosas, fã de k-pop e funk, olhos verdes meio amarelados e extremamente exagerada, mas eu a amo, mesmo com seus 1.76, sim ela é maior que eu. Jamanta. — Achei que não chegaria nunca — ela disse assim que me sentei na cadeira atrás dela.

     — bom,eu não tenho carro né.

     — Eu disse que te daria carona tranquilo — ela rebateu.

     — Acontece que eu não vou com a cara do Lucas, você e a metade da escola sabem disso.

     — Mas é só uma carona, não significa que você tem que ser melhor amigo dele, até porque, o Eric já faz esse papel muito bem por sinal. — ela disse olhando para Eric do outro lado da sala, perto da porta, que conversava com Lucas que graças a Deus não seria da minha sala esse ano, oque não faz tanta diferença assim já que Eric faz cosplay de Lucas o tempo todo, mesmo sendo negro, acaba soltando algumas piadas racistas e isso me irrita, ele é lindo pra cacete assim como Lucas, mas seu jeito, te deixa feio.

   — Credo. — Eles parecem a mesma pessoa as vezes. — Lancei com cara de nojo, olhando para os dois que com toda certeza riam de alguma coisa que não teria graça pra mim.

    — Alice! — Jheniffer gritou de novo, quase estourando meus tímpanos, assim que viu Alice com uma cara nada boa na porta da sala, ela não vai ser da nossa sala esse ano, e acho que é por isso que o sol ainda não apareceu.

     — Que merda cara! — Alice disse se jogando na mesa de uma desconhecida no meu lado, que havia chegado e colocado apenas a mochila e saído logo em seguida.

     — A gente ainda pode se ver no recreio. — Tentei acalmá-la segurando sua mão.

    — Vocês sabem que não é a mesma coisa. — Ela me olhou ainda chateada, e pra piorar, o sinal bateu, e fomos obrigados a nos despedir, de forma melancólica e dramática. — Somos muito gays.

   Todos estavam em seus lugares e a sala estava silenciosa, menos as pessoas que já se conheciam, mas a maioria era novata ou mudou de sala.           A professora de inglês entrou na sala,e alguns alunos(como eu e Jheni)gemeram pois já conhecíamos ela e seu método de aula que quase me fez reprovar.

   Ela se apresentou para os novatos e para os que não a conhecia,o mesmo blá,blá,blá de primeiro dia de aula e logo começou com a matéria, no mesmo momento me subiu o ódio, eu já havia nomeado todos os cadernos e o de inglês estava em casa, ou seja, teria que copiar e depois recopiar tudo, um saco de primeira aula, deve estar ainda pior pra Alice.

   — Licença Sheila.— Vi a cabeça da vice-diretora na porta da sala, chamando a professora e todos os alunos olharam para a porta, como se fosse com eles, inclusive eu.

  Depois de um minuto eu acho, a professora voltou, e junto a ela um garoto, um raio de luz, meu Deus.
   Era um garoto alto,com uma calça jeans rasgada nos joelhos e uma camisa de mangas longas, cabelos negros com mechas platinadas e olhos castanhos, algumas manchas pintavam seu rosto e a parte exposta do joelho pela calça rasgada. Ele tinha vitiligo. Sua sombrancelhas um pouco arqueadas, tinham as pontas brancas assim como o cabelo, uma mancha branca mais clara que a pele, saia pelo seu rosto deixando um rastro branco por seus pêlos faciais, como sobrancelhas e cabelo, eu estava hipnotizado e sai do meu transe quando ele olhou pra mim.