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Maravilhosa dor de cabeça misturada com sono e gritaria vindo do andar de baixo: meu pai brigando com meu irmão por minha causa, e agora ele está subindo as escadas e seus passos pesados e amedrontadores agora estão na minha porta.

- não foi culpa dele- falei me sentado na cama, ainda com a roupa da noite anterior.

- não importa de quem foi a culpa, ele é o mais velho, é responsabilidade dele cuidar de você e não deixar você ir a festa sozinho, você disse que não beberia e olha como você está, eu achei que conseguiria cuidar de vocês sozinhos, mas eu falhei e vocês também falharam comigo.- gritou.

- não era a intenção, eu saí do controle foi só isso- disse de cabeça baixa.

- saiu do controle!? Como assim!? As pessoas não saem do controle.-

- não saem!? O senhor sai do controle quase toda noite, vive de pensão do governo e vende discos de uma banda antiga, meus exemplos não são dos melhores - disse com raiva.

- Cainã, presta atenção! Você não é mais um garoto filhinho de mamãe! E vai aprender a me respeitar.- só ai eu senti o cheiro da bebida, eu sei que eu estava errado pelo que eu tinha feito e falado, mas ele não poderia simplesmente sentar e conversar?

- o senhor precisa crescer, e aprender que ela não vai voltar- ele já estava se virando para sair do quarto, mas assim que eu terminei de falar, seu rosto se virou e junto com seus passos pesados eu senti sua mão, aberta e áspera atingindo meu rosto, minha única reação foi colocar a mão sobre o local ardido.

- ela não está aqui, porque você está- ele falou baixo perto do meu ouvido e saiu do mesmo trancando a porta.

Me levantei rápido assim que vi oque ele havia feito, ouvi Roni reclamando e som da porta da sala batendo forte.

- socorro!!- eu batia na porta como louco, com as forças que eu não sei de onde tirava.

Me arrastei até o chão e apenas chorei, minha cabeça explodia e eu apenas adormeci ali, no chão, sentindo vergonha, culpa e raiva.
Do chão, a carcaça do meu corpo observou o retrato da minha mãe, a mulher que eu não havia conhecido, junto com Roni e o meu pai, a família perfeita, sem mim.
Me levantei e caminhei até o retrato na moldura de madeira com detalhes com flores e uma proteção de vidro sobre a foto. Arremessei o mesmo ao chão observando o vidro se partir em pedaços, me joguei no chão ali mesmo perto da foto e segurei firme um pedaço de vidro, eu só queria que aquilo acabasse, aquela mistura de triste, raiva,culpa e ódio que me fazia desejas a morte a cada momento ali naquele quarto.
Eu já havia ouvido sobre a automultilação, sobre a dor que alivia a outra dor, mas eu não senti nada, apenas os sentimentos de antes, o sangue escorria pelo braço e eu observava o corte fundo mas perfeito, quase cirúrgico, me acalmei e só deixei meu corpo ali, sobre o chão e sobre o vidro, implorando para que alguém me salvasse daquele dia e daquela vida, mas eu levaria comigo a cicatriz, da dor e da raiva, que eu escondia em um sorriso falso ou um militância na escola.

- Cã? - a voz de Roni me acordou, eu estava zonzo mas consciente, o sangue havia parado de sair mas a ferida estava evidente, havia sangue na minha roupa e no chão, observei o resto do quarto, a cama bagunçada e a porta arrebentada, Roni segurava o machado com força e verificava minha pulsação, vi o sol brilhando forte pela janela, um sol que iluminava o dia bom de alguém, mas aquele não era o meu sol, pelo menos não o sol daquele dia, naquele dia eu via apenas chuva e tempestade, raios que chicoteavam no céu fazendo jogos de luzes e iluminando a ferida no meu braço. Roni soltou o machado e me carregou para fora do quarto, na sala observei o relógio e vi as horas: 14:23, ainda era cedo para uma morte triunfante, Roni apareceu com água e um pedaço da pizza, provavelmente da noite anterior, eu estava com tanta fome e fraqueza que recusei, mas ele me forçou dizendo que eu tinha que comer.

- não deveria se importar, eu tirei ela de você e agora ela vai me levar também- falei provavelmente sem expressão.

- você é meu irmão e eu me importo, só beba e coma, eu vou pegar ulguma coisa pra fazer um curativo no seu braço.- Roni saiu e voltou logo depois com Henrique e uma garota loira que eu não conhecia.

Henrique praticamente se jogou em cima de mim, me enchendo de perguntas enquanto Roni fazia um curativo com as coisas que pegou com Henrique.

- o que aconteceu?- Henrique perguntou segurando meu rosto com uma das mão e a loira segurava sua outra mão, aquilo me encheu de ódio. Como ele pôde me fazer de trouxa desse jeito?

- quem é ela?- perguntei forçando uma cara de nojo.

- eu sou Eduarda, ou Duda se preferir, prazer- ela estendeu a mão.

- desculpe querida, mãos ocupadas-

- quem é ele- ouvi ela tentando cochichar com Henrique.

- eu sou Fulano de tal- sorri.

- qual é o seu problema?- Henrique perguntou me deixando indignado.

- qual é o seu probleba!? Você me beija e depois aparece na minha casa de mãos dadas com uma garota, você não presta.-

- an? Eu...- o interrompi.

- não tenta se explicar, sai da minha casa- falei

- eu estou tentando te ajudar-

- já ajudou demais, obrigado pelos curativo e manda um beijo pra sua mãe.- ele me olhou por mais um tempo e saiu sendo seguido pela songa monga da Eduarda.

- sua vida tem sido bem agitada maninho- Roni disse terminando o curativo se sentando do meu lado.

- desde quando você me chama assim? - falei.

- eu sei lá, só acho que depois do que rolou, você precisa de mais antenção, eu sei oque isso significa- apontou para o meu braço- precisa de ajuda e eu sou seu irmão, mesmo que estejamos afastados mas somos irmãos e eu vou estar com você.

- pelo menos alguém que não vai me abandonar ou me trocar por outra pessoa-

- as coisas passam, vai chegar um dia em que você vai olhar para o dia de hoje e só perceber o quarto você aprendeu com a dor e com a perda, têm chuvas que vêm pra limpar-

Tem chuvas que vem pra limpar.

Bom gente, desculpem pelo capítulo pesado mas foi oque saiu, beijos e espero que gostem, nesse momento eu só quero pegar o e colocar num pote pra sempre.


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