Circunstância

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Os passos ecoavam pela noite silenciosa, e se Byun não estivesse tão aflito, estaria apreensivo. Não costumava circular pelo campus tarde da noite, apesar de ter noção da frequência com que isso acontecia. Era um caipira novato, mas nem tanto assim. Os estudantes circulavam pelos prédios dos dormitórios sem preocupação alguma, apesar do toque de recolher, que não era levado muito a sério. Tinha consciência de que era um cara certinho demais, e que quebrar regras não fazia parte da sua conduta – principalmente no âmbito acadêmico – mas, segundo seu colega de quarto Oh Sehun, a melhor forma de socializar era daquele jeito: comparecendo às eventuais reuniões secretas no prédio de dormitórios maiores, verdadeiros apartamentos com mais de um quarto, sala e cozinha. Esse prédio era chamado de Budapeste, porque, por algum motivo, cada prédio de dormitórios tinha o nome de uma capital do mundo. Pelo menos era fácil de gravar. De Manila para Budapeste em vinte minutos, nunca imaginaria que fosse possível. Ali, era.

- Quem vai estar nisso, afinal? – Byun sussurrou enquanto subiam algumas escadarias. Budapeste era o prédio mais em cima no morro onde ficava o campus. Além dele não havia mais nada, ao contrário de Manila, bem no começo, perto da rua que levava até a cidade. A sorte era que os prédios onde ocorriam as aulas ficavam na metade do caminho, assim Byun não cansava tanto. Não costumava ter muito preparo físico, para ser sincero.

- Ah, você sabe... o pessoal – Sehun explicou, dando de ombros. Byun franziu o cenho, insatisfeito com a resposta. Já estava cansando de subir aquilo tudo. Esperava que o esforço valesse a pena.

- Que pessoal, Sehun? Você sabe que não conheço ninguém, sou calouro. E sou do interior, pra piorar tudo – insistiu. Podia imaginar que Sehun apenas o aturava, porque eram colegas de quarto e acabava sendo natural fazerem algumas coisas juntos. Se Sehun fosse em algum lugar dentro do campus, o convidava para lhe fazer companhia e vice-versa. Não sabia se poderiam chegar a se considerar amigos. Não ainda. A impressão ainda era de uma relação de pura conveniência.

- Você acha que o pessoal se conhecia antes? Está na capital, Byun. É uma cidade muito grande, e gente do mundo todo estuda aqui. São uns amigos meus, amigos deles... amigos dos amigos deles... sabe como é. Relaxa, a galera é massa.

Observou o colega de quarto tirar um maço de cigarros do bolso e acender um. Estavam perto de Budapeste agora, e Sehun teria de apagar aquilo quando chegassem, porque era proibido fumar dentro dos dormitórios. Das regras, Byun sabia todas. Fora criado daquele jeito, sempre muito regrado.

Estava ansioso, mas ao mesmo tempo curioso. Era sua primeira festa universitária – poderia chamar aquilo de festa? – e não queria parecer o típico garoto deslocado do interior. Só queria se enturmar e ser apenas mais um estudante comum, nada especial, nada chamativo.

Ao alcançarem o Budapeste, percebeu de fora as luzes de vários apartamentos acesas. Parecia que aquele dormitório era muito mais ativo que o deles, mas não sabia explicar o motivo. Alguns estudantes fumavam na entrada, perto das portas do saguão, e Sehun cumprimentou os mais próximos enquanto apagava o seu toco em um cinzeiro de lixo. Byun inclinou-se para frente, sendo educado, e o casal sorriu sem interesse.

O apartamento dos amigos de Sehun ficava em um andar deveras elevado, e teve a impressão de que aquele prédio era bem mais alto que o seu. Tudo no Budapeste era maior e mais ativo, e ele até se sentiu um pouco intimidado. Relativamente cheio, era exatamente como Byun havia visto nos filmes e dramas na televisão... jovens reunidos, música alta, iluminação precária e risadas exageradas. Foi apresentado por Sehun para alguns garotos e garotas, mas eles pareciam entretidos demais em assuntos que Byun não entendia, porque falavam de pessoas que ele não conhecia. Esperava um dia poder fazer parte daqueles assuntos e entender as referências e piadas internas.

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