Compreensão

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Da vitrine da padaria Horizonte, Byun conseguia enxergar boa parte do lago cujas montanhas arborizadas onde a pequena cidadezinha se espalhava circundavam. Era uma paisagem muito bonita e, ao horizonte, quando o sol se punha e despejava nos contornos infinitos tons alaranjados, a imagem era perfeita.

Aquele era o último verão no qual Byun iria trabalhar para o pai, para então ficar livre por quatro anos. E, é claro, acabar voltando para o mesmo lugar. Porque não tinha outra opção, ele sempre acabaria voltando para trás do balcão de pães frescos.

- Essa pouca vergonha da cidade-grande chegou até aqui, enfim, não foi? Eu sabia que não iria adiantar nada me preocupar com o que Baekhyun iria ver por lá... já chegou nos canais locais... essa promiscuidade nojenta... é o pecado, mulher, estou te dizendo... se não fosse pelos estudos dele... nunca iria sair daqui, nunca!

O calor daquele verão era sonolento. A padaria ainda não tinha ar condicionado e os ventiladores não davam conta, então, no auge do sufocamento, Byun sentia como se fosse pegar no sono a qualquer momento. Podia sentir o suor acumulado em sua testa e a apreensão era crescente. Em algum momento precisaria levantar os braços. O desodorante era eficaz e ele não tinha muitos problemas nas axilas, mas aquela temperatura era traiçoeira. Talvez o verão mais quente de sua vida.

A televisão estava ligada e uma programação jovem estava passando, com vídeos dos últimos sucessos do pop coreano. Byun não ligava para música, por isso nem sabia do que o pai estava falando, mas deu uma olhadela para a tela do aparelho disposto na mesa atrás do balcão. Duas meninas muito bonitas se tocavam de forma bem... ousada. Nada do que seu pai estivesse acostumado.

A mãe de Byun apenas assentiu, quieta, e continuou anotando no caderno de vendas do dia. Byun estava parado perto da vitrine, suspirando, enquanto tentava se distrair com a paisagem. O sino da entrada tocou e os olhos de Byun acompanharam a figura alta e bronzeada entrar, segurando apenas um pedaço de papel. Seus olhares se cruzaram e Jongin sorriu de canto.

- Garoto! Como está sua avó? – O pai de Byun exclamou ao ver o colega de classe do filho, que se dirigiu ao pai com simpatia.

- Cada dia mais velhinha, senhor Byun – Jongin explicou, fazendo o pai de Byun rir.

- Dê a lista à Baekhyun, ele lhe ajuda – O pai ordenou e Jongin concordou com a cabeça, aproximando-se do balcão de vidro e esticando o papel para Byun. Que, na sua cidade natal, era conhecido apenas como...

- Olá, Hyunnie – Jongin murmurou bem baixo, sua voz agora paralela a conversa dos pais de Byun.

- Oi – Byun corou, pegando o papel das mãos do colega e começando a ler. Odiava ruborizar na presença dele, mas era o que acontecia. E costumava ficar muito tímido também. Mas era só com Jongin, Byun costumava ser muito descontraído com os amigos. Começou a alcançar dentro do balcão de vidro os pães da lista do colega.

- Vai ir embora quando o verão acabar, não vai? Pra cidade... – Jongin perguntou baixo, quase sussurrante. Byun corou ainda mais, deixando o pegador do pão cair em cima da fileira de brioches por um breve momento. Juntou rápido, pigarreando.

- Vou – concordou, nervoso. Jongin sempre o deixava todo desajeitado.

- Bem... vou sentir sua falta. Quatro anos passam rápido, certo?

Por um instante, Byun congelou. Não esperava por aquilo, de jeito nenhum. Jongin sempre era muito gentil consigo e passavam algum tempo juntos na escola, mas não eram íntimos. De forma alguma. Eram apenas... colegas que possuíam laços positivos. Ele era muito bonito e Byun sabia que ficava nervoso por um único motivo, mas não sentia nada além da vontade desconfortável de beijá-lo o tempo inteiro. Os lábios dele eram muito convidativos, mas sabia que seus desejos eram tão insanos quanto a possibilidade de um dia concretizá-los. Era só um desejo, que existia já há um bom tempo, afinal... eram colegas desde sempre.

Noites AcordadoOnde histórias criam vida. Descubra agora