Você sabe muito bem que isso não é infalível!
É o único pensamento que consigo formular enquanto sinto o padrão da calçada contra a pele da minha bochecha.
Um zumbido horrível que se instala em minha cabeça à medida que a escuridão de dissipa um pouco. Através dele, o medo se espalha e assume o controle. Meus pensamentos ficam mais claros com a raiva. E volto a me perguntar porque meus instintos falharam.
Por que você não previu isso? Como não percebeu que havia perigo? Está surda por causa desses sentimentos humanos! Esta paixonite nos coloca em perigo! Teo, onde está Teo? Ah, meu Deus!
Eu ia encontrá-lo um pouco depois do meu expediente, quando terminasse o show que ele estava fazendo em outro bar. Por isso fiquei aqui até tão tarde. Ele tinha acabado de me ligar dizendo que estava chegando, então vim até o estacionamento dos funcionários para encontrá-lo. Isso foi antes de tudo ficar escuro.
Confusa de novo, tento me levantar para procurá-lo, mas uma dor aguda se propaga pela minha cabeça de forma tão possessiva que não me deixa pensar ou me mexer. Alguém se aproxima de mim e eu penso em pedir ajuda, mas qualquer coisa no jeito como aquela sombra começa a se curvar sobre meu corpo dispara um alarme em minha cabeça.
Ele não vai te ajudar!
O medo me inunda de adrenalina e consigo me virar um pouco e estender meus braços, tentando me defender, embora eu mal enxergue minhas mãos, tamanha é a dor que me escurece as vistas e faz com que eu pareça não ter controle sobre meus movimentos. Só consigo saber que aquelas são minhas mãos, porque elas são claras e contrastam com as luvas pretas que a sombra está vestindo.
Em algum canto de meu cérebro, aquele onde me sinto segura e não consigo acreditar que algo assim possa realmente estar acontecendo, me pergunto como alguém pode suportar usar luvas neste calor. Então minha parte mais alerta grita uma resposta apavorante: Alguém que queira cometer um crime sem deixar vestígios.
Imagino os dedos negros se fechando em minha garganta antes mesmo que aconteça, mas então uma das mãos dribla as minhas e um dedo indicador faz o contorno de meu maxilar, e é a coisa mais estranha que já vivi.
Ele parece hesitante, com pena e, em meio a todo meu pânico, também sinto pena dele.
Por que está lutando tão ferozmente contra seus instintos? Por que me matar quando parece não querer realmente fazer isso? Deve doer tanto se sentir dividido dessa maneira! Sentir-se compelido, sabe-se lá pelo que, a fazer algo verdadeiramente mau, quando tudo em você diz para não fazer.
Aquele meu outro lado está gritando comigo, dizendo que quer que ele, seja lá quem for, se exploda em mil pedacinhos com sua dor. Que a única dor que interessa é aquela que faz minha cabeça palpitar e minha garganta parecer se fechar, mesmo que aquela mão não a esteja realmente apertando.
Tudo isso se desenrola em poucos segundos e eu mal tenho tempo de entender o que está acontecendo quando nossa pequena e bizarra conexão se rompe. Apenas vejo as mãos se afastarem de mim, formando garras como se pudessem me puxar consigo por cordas invisíveis. Apoio meu antebraço no chão e consigo erguer o corpo o suficiente para encostar as costas na lateral do carro, então vejo o braço forte que me tirou das mãos das sombras.
Teo está atrás do estranho encapuzado, segurando-o pelo pescoço. O outro homem se debate, mas Teo é mais alto do que ele, parece ser mais forte também, e o estranho não está conseguindo escapar. De repente, faz um movimento de se dobrar para frente, fazendo com que o corpo de Teo, tão impiedosamente aferrado ao dele, se dobre também. Em seguida, ele se joga para trás num impulso potente e Teo se desequilibra um pouco, afrouxando o aperto por tempo suficiente para que o estranho lance o cotovelo com toda força em suas costelas. O primeiro golpe do estranho acerta em cheio e é seguido de outro ainda mais impiedoso.
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Entre a Luz e as Sombras
ChickLitClara é um anjo que vive na Terra com um corpo humano. Um anjo solitário, mas nem tanto. No bar de roqueiros onde trabalha, ela bem que tenta ajudar o próximo e proteger seu coração divino ao mesmo tempo, afinal, já conhece os perigos de se apegar m...