Estávamos brincando sobre o café irlandês, já que eu não tenho uísque em casa, mas ele bem que viria a calhar agora. Talvez tornasse as coisas mais fáceis. Pelo menos para Eric, que olha para a sala pequena como se estivesse enjaulado, estudando o ambiente para se certificar de que deveria estar realmente aqui.
Ele vai até a janela e fica olhando para a noite lá fora por um tempo. Observo seu jeito, as mãos nos bolsos de um jeito que projeta toda sua tensão na linha de seus ombros, a cabeça que se abaixa depois de alguns segundos, parecendo reconsiderar quaisquer que fossem suas certezas de agora há pouco.
Aproximo-me dele e o abraço por trás, trançando minhas mãos em seu peito e apoiando minha testa na curva entre suas omoplatas. Ele segura ambas as minhas mãos nas suas e eu inspiro seu cheiro, esfregando de leve meu rosto em suas costas.
— Vou fazer o café — digo.
— Não — ele responde ansioso, apertando meus braços em torno de si. Por fim, ele se vira para mim e me abraça. — Fique comigo.
Assinto de leve olhando em seus olhos e o beijo, querendo que ele entenda o quanto estou feliz que esteja aqui, o quanto preciso disso tanto quanto ele. O contato é inevitavelmente doce e inebriante, bem mais delicado do que antes, mesmo assim mexe comigo.
— Como vamos fazer isso? — pergunto quando nossos lábios se separam. — Por onde vamos começar?
Eric continua segurando minhas mãos e beija a palma de uma delas antes de pousá-la em seu rosto, tombando a cabeça e descansando ali por um segundo, com os olhos fechados. Depois ele me solta e caminha até a poltrona do outro lado da janela, de frente para o sofá onde costuma se sentar comigo ao seu lado.
— Acho que pelo começo — ele diz, apoiando os cotovelos nos joelhos e me encarando com um sorriso nervoso.
Sento-me no sofá e revolvo meus pensamentos. Não sei nada sobre ele, então, na realidade, qualquer ponto para mim é o começo.
— Onde está Blue? — ele pergunta sem olhar para os lados, como se já tivesse se dado conta dessa ausência há muito, mas só agora estivesse comentando. Talvez para quebrar o gelo.
— Está em um hotelzinho para cães. Eu não sabia quanto tempo ia ficar fora, então achei melhor assim.
Eric assente e continua me olhando, por fim apoiando-se no encosto da poltrona, mas sua postura ainda não parece relaxada.
— Como foram as coisas? Como está seu amigo?
— Fora de perigo. Eu estava assustada, mas foi menos grave do que acreditei de início.
— Bom. — Sinto-o recolher-se um pouco para dentro de si mesmo quando observa a expressão aliviada e terna que não consigo evitar quando falo de Caio. É então que me ocorre a primeira coisa que preciso saber, ainda mais quando ele continua: — Que bom que estão todos bem. Quero dizer, você e ele...
Seus olhos se anuviam e seus lábios se apertam numa linha fina, enquanto ele parece considerar alguma coisa que não diz. Seu olhar se desvia do meu pela primeira vez desde que se sentou, e ele fica imerso em seus próprios pensamentos até que os interrompo.
— Você achou que eu fosse deixar você por ele, não é? Por isso estava aqui.
Eric não responde com palavras, mas seu silêncio é esclarecedor o suficiente.
— Você o ama — ele afirma, como se estivesse explicando a própria insegurança. Sinto meu coração se apertar no peito por tê-lo deixado pensar assim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre a Luz e as Sombras
ChickLitClara é um anjo que vive na Terra com um corpo humano. Um anjo solitário, mas nem tanto. No bar de roqueiros onde trabalha, ela bem que tenta ajudar o próximo e proteger seu coração divino ao mesmo tempo, afinal, já conhece os perigos de se apegar m...