Capítulo 17 - Nesses Braços

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Dizem que a poesia precisa da dor*. Eu li isso em algum lugar ou escutei em alguma canção, mas não sei se é verdade. O que sei é que o sofrimento existe puramente, e a beleza não costuma estar entre suas companhias.

Por isso, embora a dor tenha muitas vezes estado ao meu lado ao longo do caminho, ela nunca tornou a paisagem mais bonita. Exceto por hoje.

Esta noite, estou mergulhada em ambas, beleza e dor, uma indissolúvel da outra, e tudo é doce e amargo ao mesmo tempo.

Eu a vi. Marina. Ela esteve comigo. E eu senti tanto a falta dela! Ansiei por esse momento como um viajante anseia por seu lar. Então, quando o momento chegou, parecia mais com o fim da linha.

Meu Deus, não foi nada bonito.

Tanto amor em meu coração e só o que eu senti foi medo. E dor. Tanta dor.

Eu quase poderia rir da ironia disso se neste exato momento me lembrasse como, mas claro que o riso não acha o caminho até meus lábios. Risos requerem sons e os sons estão temporariamente mortos. Quase como me sinto.

Todos os sons de minha alma, menos um.

A Minha Canção.

Eric.

Estou nos braços dele e isso faz minha dor se encher de poesia.

Como é possível? Dentro de mim, um foco de luz nasce na escuridão de minha tristeza e eu me lembro do que decidi agora há pouco. Que quero ser feliz. Que quero isto aqui. Este momento. Ele.

Eu quero Eric. O pensamento se liberta num impulso de onde quer que esteve contido e se aninha no vazio dolorido de meu coração. E é bom.

— Ei? — ele sussurra.

Gosto de ouvir o som da voz dele quando estou encostada em seu peito. Em meio a todas as coisas de que gosto na vida, acho que tenho uma nova preferida. O mundo me chega através dele e isso me faz sentir protegida. Salva. Viva de novo.

— Hmm? — eu me obrigo a responder. Não é realmente um som, mas é o máximo que posso fazer.

Não quero falar, não estou preparada para as palavras. Elas machucam e o silêncio é mais seguro. É minha punição e ao mesmo tempo meu refúgio.

— Como você está? — ele me pergunta, uma de suas mãos acariciando meu cabelo levemente e a outra esfregando a pele do meu braço, tentando me aquecer um pouco na noite que começa a ficar fria.

Estamos sentados no chão no canto mais isolado do estacionamento, onde eu tinha trazido Marina para conversar. Em algum momento que eu não registrei, ele esticou as pernas atrás de mim e me acomodou em seus braços de um jeito que eu quase estou em seu colo. Agora que o turbilhão de emoções violentas se acalmou, percebo isso e fico um pouco envergonhada, ao mesmo tempo em que nossa proximidade faz alguma coisa estranha com o ritmo das batidas de meu coração.

Exceto por isso, estou no mais completo silêncio há algum tempo, desde que parei de chorar. Primeiro meus soluços se acalmaram, sufocados no peito dele, depois as lágrimas foram aos poucos diminuindo até deixarem de cair. Eu queria ficar assim por quanto tempo pudesse, com medo de me mover ou de dizer qualquer coisa que quebrasse o encanto, mas preciso dizer algo que responda à pergunta. A voz dele é tão suave e cautelosa ao romper meu silêncio, que eu me sentiria ingrata por deixá-lo sem uma resposta.

"Péssima", quero responder, mas na mesma hora em que a palavra se forma em minha mente sei que isso não é mais verdade. Há certos tipos de dores que ou se tornam parte de você ou te matam e, bem, eu não estou mesmo morta, estou? Embora esteja me sentindo assim, sei que posso, em algum momento, me levantar daqui e lidar com isso.

Entre a Luz e as SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora