Capítulo 24 - Jogos de Paixão

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Passo as duas horas seguintes sem ter certeza se sou eu que estou evitando Eric ou o contrário. Felizmente, mesmo que terça-feira esteja longe de ser o dia mais movimentado da semana, as promoções de happy hour atraem um fluxo razoável de clientes tentando relaxar um pouco depois do trabalho, e isso nos mantêm ocupados. Entretanto, não acho que seja esse o motivo de estarmos nos repelindo como pólos iguais de dois imãs.

Estou me mantendo longe dele o quanto possível e, mesmo quando vou até o balcão passar ou recolher os pedidos, ele também não tenta trocar comigo nada além das palavras necessárias. Seus olhos não me abandonam nenhum instante, porém, enviando-me perguntas dardejantes que não quero responder mais do que ele deve querer responder as minhas. No entanto, ainda que eu não queira que a noite de hoje marque o fim de nosso delicado equilíbrio entre fascinação e mistério, acho que não consigo e nem quero conversar com Eric por enquanto.

A verdade é que não o quero chegando perto de mim e embotando meus sentidos com sua dualidade abrasadora. É difícil demais pensar com clareza quando ele parece precisar me tocar tanto quanto precisa respirar, mas no minuto seguinte age como se toda essa eletricidade fosse coisa da minha cabeça.

— E aí? Vocês vão ficar nesse climinha o tempo todo? — Paty me questiona em certo momento, quando se cansa de observar minha "dança" com Eric. — Porque, assim, eu também acho que ele pisou na bola e merece um gelo, mas eu consideraria mais útil uma explicação.

— Eric não me deve explicação nenhuma, Paty. Já falei que ele não é meu namorado. Além disso, você mesma disse que ele não estava beijando aquela... — Surpreendo-me com o quanto é difícil pronunciar o nome dela, e a constatação faz a raiva anterior voltar a borbulhar dentro de mim outra vez. — Só não estou a fim de falar com ele agora. É só — concluo, percebendo meio amargamente que esse é bem o tipo de coisa que Eric diria para encerrar uma conversa. Com a diferença de que ele consegue, de fato, encerrar alguma coisa. Talvez porque essas conversas tenham sido comigo e não com minha tão adorável quanto insistente amiga.

— Só acho que você não está fazendo favor algum a si mesma demonstrando o quanto está enciumada! Você devia dar uma de superior igual fez lá dentro e mostrar a ele o que está perdendo. Não é por eu ser sua amiga nem nada, mas do jeito que ele te olha, se você quiser, a competição acaba hoje.

— Tudo bem, vou pensar no que você disse. — Não, eu não vou, mas essa conversa está tão boa quanto encerrada para mim.

— É bom mesmo — retruca Paty, afastando-se para atender um cliente que a chama.

Apesar de dizer a mim mesma que não vou pensar no assunto de verdade, é o que acabo fazendo, porque o ciúme e a irritação estão começando a ceder e embora eu esteja com o orgulho ferido, outro sentimento inédito para mim, não quero voltar para casa com esta sensação de estômago embrulhado que coisas mal resolvidas me causam. Mesmo assim, não consigo me decidir sobre como iniciar a conversa e decido esperar até o fim do expediente, quando não der mais para adiar, para tomar alguma atitude.

Também não é como se Eric estivesse fazendo algum movimento no sentido de resolver isso, e eu realmente me questiono sobre quem deveria tomar a iniciativa aqui. Não tenho nenhuma experiência neste jogo, mas me parece que a bola está no campo dele, não no meu. Enfim, por um motivo ou por outro, mantenho minha postura distante, mas lá pelo meio da noite, porém, quando o movimento do happy hour se reduziu aos que estão muito alegres ou depressivos demais para voltarem para casa, Eric finalmente parece perder a paciência com nosso silêncio hesitante:

— O que foi que você ouviu? — ele pergunta à queima-roupa, segurando meu pulso livre quando estou prestes a me afastar do balcão com uma porção de batatas fritas na outra mão.

Entre a Luz e as SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora