Cílios preguiçosos se separaram com dificuldade, revelando devagar as brilhantes íris douradas enquanto seu dono, ganhava o foco de várias cabeças sobre si e a clareza do falatório intraduzível. Assim como a sensação de rigidez na qual se encontrava deitado.
— Gente, sai de cima! Ele está acordando! — Embora em tom suave, a única garota da turma começou a ajudar Saulo a se levantar. — Você está bem?
— Tô bem... eu acho. — Riu um tanto sem graça, sentando-se na cadeira escura. — O que aconteceu? — perguntou, momento em que enrugou o cenho ao prestar atenção no ambiente.
Estava na sala de aula.
— Você desmaiou.
Confuso, Saulo olhou para os lados, à procura da Bobina de Tesla, a qual nem sinal encontrou. Foi então que mirou suas próprias roupas: camiseta cinza e calça jeans clara. Nada de jaleco.
— Égua... não lembro de nada! — Alisou a cabeça, sentindo uma pequena dor na têmpora.
— Depois da aula, dê uma passadinha na enfermaria. — Sendo assim, a garota retornou ao seu lugar.
— Vou sim, obrigado! Uhm... Hoje não é dia de laboratório? — questionou, olhando para trás.
— Não, é amanhã.
— Bom dia, pessoal! — A chegada do professor interrompeu aquele diálogo.
"Tenho certeza que era hoje!", ainda um pouco zonzo, puxou o zíper da mochila, topando sem surpresa com o jaleco amarrotado entre livros, caderno e computador. "Ixi! Será que o jaleco está aqui desde a última aula?" Puxou o caderno, reservando-o na mesa. Saulo era um dos poucos naquela universidade a não aderir ao caderno digital. Na sua opinião, nada substituiria a maciez do papel de verdade.
Logo, os slides em 3D ganharam os olhos da sala.
— Pensei que a gente ia ter uma folga da matemática no final do quinto semestre — reclamou o aluno à esquerda de Saulo.
— Humanas fica pra lá — rebateu, o outro.
O jovem sentado ao lado da parede não riu em alto som com tal resposta igual os outros, mantendo os olhos âmbar, baixos enquanto deslizava com o dedo, as telas do computador embutido no tampo da mesa, à procura da matéria daquela aula. Em compensação, o homem à frente da turma, que por sua vez, também soltou uma risadinha, não esqueceu do beijo no ar ao aluno reclamão.
— Já que gostam tanto de números, vamos falar do nosso maluco favorito, Nikola Tesla, e sua obsessão pelos números 3, 6 e 9 — disse o professor, ganhando alguns risos. — Como sabem, ele tinha gostos peculiares em relação a números. Só entrava em quartos de hotéis com números divisíveis por 3; dava 3 voltas numa quadra antes de entrar no local... O que mais?
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Órbita do Destino - 2043 [COMPLETO]
Mystery / ThrillerLivro vencedor do prêmio The Wattys 2020 em Mistério e Suspense 💡 O ano é de 2043 e despertar misteriosamente em uma cidade desconhecida é o menor dos problemas de Saulo. Primeiro, esse estudante de Física precisa saber o que os números e a pomba b...