Saulo até diria que foi acordado pelos feixes de sol adentrando do alto — pela minúscula janela protegida por grades —, isso se ele tivesse ao menos pregado os olhos. Somente conseguiu tirar um cochilo, o qual não passou de quinze minutos. A maior parte por preocupação, e também, culpa do cheiro horrível; uma mistura de mofo com fezes junto à urina dele e de terceiros; odor que sentira já ter impregnado nele.
Barras de ferro sacudiram-se, o que se assemelhou a um estrondo.
— Arreda! De pé!
Em meio à careta, gemido e o respirar profundo graças às dores no corpo por ter ficado horas sentado na mesma posição, Saulo se pôs de pé. Ouvir o som arranhado das barras enferrujadas conforme Alan abria a cela, fez-lhe sorrir internamente, acreditando que tudo havia sido apenas um mal-entendido. Calado, o policial o levou até a mesa de Fabrício, o qual naquela manhã, usava uma bela camisa social azul marinho, durante a análise de alguns papéis com a ajuda de seus óculos de leitura.
A barba recém feita do oficial, completou a visão de Saulo.
— Bom dia, Nick. Dormiu bem? — perguntou, sem se dar ao trabalho de encará-lo.
— Melhor impossível. — A amargura em seu tom irônico foi palpável. — E se vai começar a me dar apelidos, escolha um que combine com meu nome. Saulo.
Fabrício riu; Alan fez o mesmo.
— Vou te chamar do jeito que eu quiser, mauricinho. — Tirou os óculos, enfim encontrando os olhos amarelados e abatidos, enquanto tentava disfarçar a sensação embaraçosa por ter se utilizado daquele apelido. — Vamos precisar das suas digitais.
Saulo não conseguiu disfarçar a forte decepção em não só ouvir tais palavras do delegado, como também, assisti-lo empurrar sobre a mesa o leitor e coletor biométrico digital.
Mirando a abertura oval iluminada no centro do aparelho, ele se deu conta de que não foi um mal-entendido.
— Mas... pra quê? Já não pegaram meus documentos? — argumentou. Às suas costas, Alan se aborrecia em silêncio com a cena.
— Quem me garante que são seus? — Fabrício manteve a expressão rígida, a qual destacou as sutis rugas em sua testa. — Quem não deve, não teme. Anda, agiliza!
Sem alternativa, Saulo fez o que lhe foi pedido e registrou com desgosto dedo por dedo, no aparelho que piscava a luz em azul neon toda vez que o leitor era tocado.
— Pronto.
— Ótimo! Agora sai logo daqui e vai tomar um leitinho quente; você tá péssimo, Saulo. — Concluiu lhe devolvendo a mochila. — Ah! O multímetro fica com a gente.
O estudante aceitou a mochila sem dizer nada no primeiro momento, fazendo a seguir, menção de ir embora antes que Fabrício mudasse de ideia, contudo, voltou-se novamente ao delegado.
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Órbita do Destino - 2043 [COMPLETO]
Misteri / ThrillerLivro vencedor do prêmio The Wattys 2020 em Mistério e Suspense 💡 O ano é de 2043 e despertar misteriosamente em uma cidade desconhecida é o menor dos problemas de Saulo. Primeiro, esse estudante de Física precisa saber o que os números e a pomba b...