Fabrício acabou sendo levado pelo humor do jovem e também ocupando o espaço com sua risada, embora mais comportada que a de Saulo, o qual, naquele instante, apreciou o momento pacífico.
Os balanços da viatura graças aos buracos, passaram a gerar um leve sono no mais novo, trazendo o bocejo disfarçado e olhos já querendo lacrimejar. Saulo quis subir o vidro, mas se conteve, optando por somente apertar os braços sobre o peito.
Aquele jaleco não estava mais servindo para afastar o frio.
— O carpinteiro mora ali. — Apontou à casinha de madeira, rodeada por árvores e uma cerca baixa; logo estacionando o carro. O que ajudou a amenizar o sono de um Saulo esfregando os olhos.
Portas batidas em coro antecederam os passos dos dois rumo ao pequeno portão ligado à cerca. A segurança daquele local era nula; além do cercado frágil, as finas ripas de madeira formando o portão, não possuíam muita resistência. Fabrício ganhou a frente, tomando a liberdade de erguer o arco de borracha o qual servia de fecho e, abriu passagem.
— Não tem problema ir entrando assim? — Continuou parado. Ao olhar para o céu, não gostou muito da visão.
Fabrício também parou, virando-se para trás.
— Sou o delegado, esqueceu? Entro onde eu quiser. Se preferir, fique aí.
Entre ficar do lado de fora e entrar naquela propriedade, Saulo preferiu seguir o oficial; apesar de sua vontade ter sido, ficar dentro do carro tirando um cochilo.
"Agora entendi a certeza do menino ser filho dele", constatou após pôr os olhos no sujeito trajando um macacão amarelado, que decerto um dia foi branco. Seus cabelos eram igualmente cacheados e a pele repetia o mesmo tom de bronze, além de a semelhança nos traços faciais serem muito evidentes.
— Aconteceu algum problema, delegado? — quis saber, limpando as mãos na roupa enquanto se aproximava de ambos.
— Essa pergunta só mostra que sim. Seu filho está no posto, caso queira saber.
O espanto na face do homem veio junto da espiada à sua volta, como se procurasse alguém.
— Achei que ele estivesse brincando. Está tudo bem, né?
— Agora está. — Quem respondeu foi Saulo. — Mas, poderia não estar se não fosse socorrido a tempo.
Uma intensa trovoada ecoou.
O carpinteiro passou rapidamente os olhos em Saulo, que devido ao jaleco, pensou ser um enfermeiro novato na cidade, mas permaneceu encarando apenas Fabrício.
— Seu filho sumiu a tarde toda e você nem se deu conta? Que baita paizão! — Fabrício pôs as mãos nos quadris, intensificando a postura ameaçadora.
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Órbita do Destino - 2043 [COMPLETO]
Mystery / ThrillerLivro vencedor do prêmio The Wattys 2020 em Mistério e Suspense 💡 O ano é de 2043 e despertar misteriosamente em uma cidade desconhecida é o menor dos problemas de Saulo. Primeiro, esse estudante de Física precisa saber o que os números e a pomba b...