Dentro do ambiente iluminado, o homem descamisado se entretinha com o seriado policial e aproveitava o sabor forte da sua cerveja artesanal; cabelos ondulados soltos nos ombros deram uma nova perspectiva daquele escrivão civil. Instante em que, cismado, pausou o episódio ao ouvir as batidas na porta. Fazia tempo que não recebia visitas; no máximo, Fabrício passava ali vez ou outra, contudo, este não precisava bater.
Após não só apanhar a pistola de baixo do sofá, como também descer a trava e acomodá-la atrás, no cós da bermuda, enfim foi atender a porta.
Paralisação.
Foi a primeira sensação, junto ao ar frio chocando em seu rosto e torso, que tomou seu corpo com a revelação. De todas as pessoas em Irazal, aquela era a última que esperaria em sua casa.
Limpou a garganta, afastando a mão da pistola.
— Luana?
— Posso entrar?
— Pode! Claro! Entra!
A recepcionista não fez questão de dar muitos passos casa adentro, na qual perdera as contas de quantas vezes dormiu nos seus tempos de criança, mantendo-se a uma pequena distância da entrada. Iria ser breve. Alan, que fechou a porta sem tirar os olhos da dona dos cabelos longos, perdera momentaneamente as palavras de tanta surpresa.
Ela só não esperava ficar tão sem jeito diante daquele policial sem camisa; culpa da evidente musculatura bem trabalhada, também daquela quantidade de pelos espalhada no centro e principalmente, das cicatrizes abaixo dos peitos. Virou o rosto, mirando a TV pausada; Alan não demorou a entender o motivo. Depressa, correu ao sofá, no qual se encontrava a regata preta; ato que deixou a pistola em sua cintura totalmente visível à Luana.
— Foi mal por atender a porta assim. — Rapidamente, vestiu a peça durante os passos de volta. — O T me deixa com um calor desgraçado! — Riu, exibindo aquele sorriso que Luana conhecia melhor do que ninguém. Tudo estava diferente, físico, voz, andar... menos o sorriso; este era o mesmo.
— T?
— Testosterona — explicou.
— Ah, sim! — Cruzou os braços, o que fez Alan recuar. Ele sabia que aquele era um comportamento defensivo. — O tratamento está... Você está muito... Parece estar bem. — Era difícil formular uma simples frase.
Ele assentiu.
— Sim, mas eu poderia estar melhor.
De imediato, Luana correu seus olhos escuros ao redor. Aquela situação seguia um rumo complicado; era melhor fugir.
— Você guardou o altar em outro lugar? — Essa fora uma das explícitas mudanças naquela casa.
— Não, eu destruí.
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Órbita do Destino - 2043 [COMPLETO]
Mistério / SuspenseLivro vencedor do prêmio The Wattys 2020 em Mistério e Suspense 💡 O ano é de 2043 e despertar misteriosamente em uma cidade desconhecida é o menor dos problemas de Saulo. Primeiro, esse estudante de Física precisa saber o que os números e a pomba b...