5 - Victo

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Foi próximo a chegada dos meus vinte e um anos, o momento mais leve que transitei por aquele tempo. Até meu padrasto aquietara-se acuado por minha mãe que passou a me defender de qualquer olhada atravessada dele. ELA, a mulher, passou a se impor. E eu senti um mínimo de proteção a partir dela. Um pouco de admiração eu confesso ter sentido por sua bravura. Embora não fosse o ideal do que eu precisava, mesmo assim, representou poder aos meus olhos. 


Finalmente fui chamado para uma nova oportunidade de emprego e que nem era na minha área. Alguém durante as várias entrevistas que fiz, gostou exatamente do meu jeito, convocando-me assim para preencher esta vaga no setor de tele-vendas dentro de uma loja de departamentos. Por mim estaria bom porque o salário não era tão inferior ao que eu recebia antes. Mas era pouco ainda assim, o que adiaria a ideia de morar de aluguel.

Isso tudo me encheu de expectativas. O ambiente da loja pareceu tão convidativo com tantos funcionários, inclusive apresentaram-me aos futuros colegas que cumprimentaram-me aos sorrisos e alguém disse em tom mais baixo: "tu vai gostar de trabalhar aqui". 

Parei de viajar nos pensamentos e por segundos, sonhos irreais e impossíveis se dissiparam. Foi perfeito. Eu tinha nos planos usar essa nova fase para me libertar. Algo no meu âmago implorava por isso. Quando percebi, estava sorrindo e corrigi minha postura imediatamente. Meu medo da vida ficou pequeno que quase caiu para segundo plano. Esse algo dentro de mim, crescia poderoso e de novo fiquei tonto. Associei com o fato de ter que passar pelo médico antes, pois isso me deixa assustado desde a infância. Devia ser apenas uma ansiedade normal. 

Em posse da requisição da empresa, fui apé até o edifício comercial onde o médico do trabalho atendia para realizar meu exame admissional. No mesmo local haviam escritórios de várias áreas como advocacia, engenharia, imobiliária, dentista, massoterapia e outras consultorias. Então, veja só, quando é para o destino agir, ele dá seu jeito e faz as coisas em meio às confusões não entendidas por nós. Na cidade onde moro, que nem é tão pequena assim, esbarrar em alguém pela segunda vez não é coisa comum. E só nos meus devaneios que encontraria aquele homem grande e charmoso com um furo profundo no queixo bastante chamativo. Seu rosto marcante não era fácil de esquecer. Mesmo que eu não estivesse pensando nele, ficara aquela vontade de viver num livro cheio de coincidências deliciosas.

O elevador chegou ao térreo e eu aguardei os quatro elementos saírem, me cumprimentando com educação. Alguém, lá da entrada pede:

— Segura aí. — Exatamente aquele homem que me hipnotizou no mercado, aparece ali e imediatamente eu respondo com uma timidez excessiva e medo. Baixei o olhar quando nos ajeitamos naqueles poucos metros quadrados, apertando o mesmo andar, o sexto. Na verdade ele disse que também subiria ao mesmo andar. E pelos pouquíssimos minutos em que ficou sozinho comigo, esse homem chega dois passos mais perto e diz num descaramento total — Que boquinha carnuda, bicho...

Olha frase que ele me disse! Oh, porque exclamei isso? Que horror se parar para pensar. Totalmente vulgar. Ele era um desconhecido! Eu era moço sério e homens com o aspecto dele para essas circunstâncias queria somente em fantasias molhadas. E mais... ele esperou o elevador parar, segurou a porta e novamente me abordou:

— Vai trabalhar aqui?

— Só vou fazer o exame admissional... — eu não consegui falar muito e ele com aquele jeitão de amante canalha perto de um carneirinho, percebeu isso. Ele me cobiçou de fato. Tarado. Indecente. Gostoso. 

Victor VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora