17 - Victor Vitória Sala

254 42 47
                                    


O que houve comigo? 

Está tudo tão estranho, o perfume que uso é doce e enjoativo e minhas roupas tão chamativas. Não me lembro de tê-las em meu guarda roupas. São aquelas que Nero comprou???

Será que estive hospitalizado? Sinto tudo tão desorganizado em minha volta que levo bons minutos para entender que estou em meu apartamento. É ainda mais esquisito perceber que estou arrumado como se fosse para ir a uma festa.

Porque tenho pequenos surtos e perdas de consciência? Estou quase certo que é isso. Não é algo que eu deva ignorar. Acho que estou doido. Como pode a data de meu celular ter dado um salto tão desgovernado. Talvez tenha sonhado...

Meu telefone chama com um toque polifônico indiscreto. Isso é o tema da pantera cor-de-rosa?

— Vic. Oi lindo. Desculpe por eu não ter te atendido há dez minutos atrás.  Desci para levar o lixo e fiquei conversando...

— Gael? — estranho ele me ligar em pleno sábado à tardinha. — Eu liguei para você?

— Ué... ligou...

Minha roupa espalhafatosa sai voando pelos ares enquanto caminho para o quarto em busca de algo adequado ao meu gosto.

— Gael já que me ligou, será que posso contar uma coisa? Estou achando que me droguei ou de repente tomei alguns comprimidos e perdi a consciência porque eu não me lembro de uma porção de coisas... 

— Oh, meu anjo, também gostaria de conversar com você. Poderia ser em um lugarzinho bacana...

— Claro... — sinto-me hesitante.

— Vamos conversar como amigos problemáticos que precisam beber e dar umas risadas juntos.

— Não estou no clima, Gael.

— Ei, vamos tomar só um café então... podemos falar somente sobre isso que quer me contar.

Eu nem sei por onde começar. Preciso perguntar com cuidado para que ele não me julgue. Sei que acabei de ser largado por meu companheiro e por mais que a falta dele tenha criado um vazio denso e palpável, a questão desse lapso aterrorizante é grave e me assusta muito mais. 

Tomo um banho afim de retirar esse troço brilhante de minha pele, o gel que deixou meu cabelo igual a esses artistas que se acham lindos e perfeitos e o perfume doce que não sei como veio parar aqui em casa. Visto-me básico, nada que chamaria a atenção de quem quer que seja. Enquanto recolho coisas estranhas pela casa, enchendo mais e mais minha cabeça de curiosidade, volto-me na direção dos pensamentos absurdos que nem mesmo um "médico de loucos" ia digerir, por exemplo, penso em abdução. Mas com medo até de mim, calo tais pensamentos por vergonha. Se Nero me ouvisse, me chamaria de retardado e bem merecidamente. Porém meu amigo sendo psicólogo certamente não vai me julgar se eu expor uma ideia como essa. Eu presumo. Não entendo mais nada. 

Não querendo sair de carro com receio de perder a consciência ao dirigir, convidei Gael para vir até onde moro e quem sabe podemos descer para tomar um café do outro lado da rua onde tem uma padaria maravilhosa. Parece que muito tempo se passou, pois sinto como se não visse Gael há anos. Como sempre, ele está vestido em roupas casuais que lhe caem bem por ser esbelto com algumas curvas bem atraentes.

Que horror ter tais pensamentos quando acabei de me separar!

Gael me analisa também e vendo o enrijecimento em minha postura, sugere que desçamos até a padaria onde ficaremos mais à vontade. 

— Vic, socializar é a chave nesse momento. Vamos dar um jeito de marcar mais vezes, o que acha?

— Quero ir com calma... Gael, eu posso contar aquilo de uma vez? — ele consente — Acho que Nero tem razão, eu estou a um passo da esquizofrenia. 

Victor VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora