19 - Victor Vitória Salaza

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Gael chega em meu apartamento e eu estou para variar descabelada, mas dou um jeito passando a mão. Quem sabe o chifre do Victor baixa também. 

— Nero! Nem vou perguntar o que faz aqui, porque infelizmente me lembro.

Vitória? — Nero parece incrédulo e respira aliviado — Gael, eu não entendo mais nada. Olha, aceito ser chamado de cafajeste porque sou mesmo, mas eu não estou inventando coisas. Victor começou a se chamar de Vitória faz um tempo e ontem parecia uma criança possuída. Agora mesmo pediu leite morno com achocolatado, algo que Victor não toma. 

— Nem eu. — Me defendo, porque leite morno é uma bebida nojenta. Dependendo do leite até me interessa. E Gael me interessa ainda mais. Victor é devagar demais. Não creio que teve a chance de sair com esse homem, esse belo homem e não se permitiu uma coisa mais safada. — EI! Você tentou me comer. 

— Você não se define, uma hora é Victor e outra é Vitória e ontem disse que era uma criança!

— Uma criança também? — Gael me olha. Sempre com preocupação misturada com empatia, amabilidade e respeito. — Até para a psicologia, digo, toda essa área que estuda e acompanha comportamentos humanos, a dissociação é complexa. Mas como eu digo a você Victor, não aceite quando certas pessoas lhe digam que é esquizofrênico.

— Só falei uma vez que parecia.

— Você não tem compaixão ao fazer isso com uma pessoa que tanto gosta de você Nero? Poxa, se não quer ajudar, se afaste de vez, não atrapalhe ou use a influência que tem sobre o Victor porque ele precisa de ajuda. Victor tem amigos que o adoram e por sua culpa, não chegam mais perto. — Gael o peita e eu fico molhada.

Porra, pareço esquecer a gravidade disso às vezes.

— Baixa o tom. 

— Eu estava tentando ajudar o Victor, mesmo que ele tenha desistido porque você enche a cabeça dele de incerteza.

— Eu? Nem fiquei sabendo disso. Estava fora do país.

— Devia ter ficado lá. — Gael o enfrenta. 

— Os dois, deu dessa discussão! — reclamo e ambos me encaram. Ao Nero dirijo minha olhada felina de leoa, ao Gael um ronronado de gata manhosa. — Gael, eu sou a Vitória. E por favor, não me chame de invenção porque isso enche o saco. Eu concordo com você, Victor precisa de ajuda, muita ajuda, mas antes tem que derrubar aquela teimosia.

— Vitória? — Gael parece encantado e um pouco impressionado. — Pessoalmente nunca lidei com alguém assim. Eu imaginei um caso de transtorno dissociativo e estou quase certo que é. Não deixa de ser complexo, mas creio que está sob controle quando assume o "comando". Acho que Nero se apavorou e me chamou aqui estando tão assustado que pensei que havia algo pior.

— Ele me ameaçou! O Victor... Fala isso porque você não viu o "capeta" com uma garrafa na mão. Está lá no chão do quarto, vidro quebrado e um vinho caríssimo que Victor surrupiou, todo esparramado.

— Quem surrupiou fui eu! Pare de acusar o rapaz! E por favor, alguém me ajude com aquela desgraça de criança. Porque fui amaldiçoada para lembrar de tudo?

— Eu quero ajudar, Vitória, mas só consigo, indicando um colega e acompanhando você. Doutor Guilherme é um profissional com mais de vinte anos, atende em hospitais alguns casos críticos. Como comentei com o Victor, eu vou até certo ponto, depois é necessário aprofundar o caso. 

— Será que não se trata de possessão demoníaca? 

— Deixe de ser imbecil, Nero! Ai que homem irritante. Cala essa boca.

Victor VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora