18 - Victor Vitória Salaz

259 35 47
                                    


Quatro sessões em que eu, leigo, Victor, não sinto progresso algum. 

Nero tinha razão, conversar não adianta e eu não estou mais aberto a isso. Gael tentou quebrar barreiras minhas marcando novos encontros, porém entrei na fase em que sinto ânsia somente pela solidão. Não pretendo mais perturbar as pessoas. Se for para fazer mal, que seja a mim. Quero ficar sozinho e apenas sozinho. 

Meu próprio emprego parece-me um fardo. Me arrasto por ele. Raquel me deixa super para baixo com críticas sobre minha aparência quando jamais tive coragem de apontar seu problema com a obesidade. Acha-me exageradamente magro, fala de minhas olheiras, diz que deixo o ambiente pesado e que sou esquisito, pois há dias em que chego bem humorado demais e que causo medo nela com essas mudanças de comportamento. Quando comento que não me lembro da parte do bom humor e sarcasmo, ela revira os olhos e aos poucos se afasta de mim. Afonso às vezes me testa para encontrar meu limite e voltar com suas grosserias, sinto que ele tenha mudado, pois antes não tinha nenhum cuidado. E por último, Murilo diz-me que sente-se triste quando não sorrio. 

Sem mais ou menos, recebo um mimo de Elton, uma cesta com chocolates artesanais finos, conseguindo por isso um sorriso meu e me dando uma carona. No caminho comenta sobre supostas mensagens minhas e até mesmo narra um episódio em que eu teria desligado o telefone em sua cara. E antes de eu descer de seu carro ele pede-me desculpas por não ter aceito meu convite.

Que convite?

Não neguei, nem assumi que lembro do que se trata. Sinceramente não sei mais de muita coisa. Pareço estar perdendo o controle sobre meus atos ou minha própria mente. Não lembro de coisas comuns e acho que a psicologia não está me ajudando. Gael concorda, afinal é um bom profissional e indica-me o Guilherme, seu colega psiquiatra, que por medo e ignorância minha deixei de ir e com receio dele me cobrar que eu fosse, ignorei muitas de suas ligações.


Meu pai faleceu por aqueles tempos e algumas lágrimas riscaram minha face. O calor delas em minhas bochechas levou-me a anos no passado. Tudo o que me formou como um homem e as sequelas de coisas absorvidas além de minha capacidade de suportar. Minha mãe que vinha buscando mais contato tocou um pouco meu coração e isso aqueceu-me por um tempo. 

Então o vi... depois de anos, aquele homem nojento, tio Arlindo que manteve baixa a cabeça enquanto estranhamente me cresceu um desejo de agredi-lo e provocar nele qualquer dano físico. Meu punho fecha...

Desgraçado. Um dia vai pagar pelo que fez conosco.

Respiro, estive tonto, retorno ao estado normal e observo a família consternada. Meu perdão ao homem progenitor ficou guardado comigo. Eu pretendia dar a ele isso um dia, mas protelei demais e agora é tarde. 

Adeus, homem que não me protegeu de seu tio. 

Algo na parte mais profunda de mim não sofreu com a morte de Vanderlei Salazar e a apatia momentânea era assustadora. 

Gael me dissera que o tempo dissolve mágoas e dor. Em mim, o tempo não faz nada além de trazer novas mágoas e dores.

Como bom advogado, Dênis, conseguiu me despejar e eu preferi baixar a cabeça e acatar. Assim como baixei a cabeça por uns quarenta e poucos dias quando não mais fui procurado. Soube pelo advogado que deve ter sido instruído a me dizer, que Nero esteve na Europa e Ásia por mais de um mês em lua de mel. Em sete anos, jamais fui tão longe com ele.

Murilo, Gael, Rebeca e quem mais eu lembrei, me auxiliaram na busca por um imóvel para alugar. Minha mãe e prima queriam me acolher em suas casas. Gael disse que poderíamos dividir o aluguel, mas eu quis muito mais começar uma nova fase estando só.

Victor VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora