10 - Victor Vitó

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Adam Lambert, Runnin (tem a letra traduzida, casa perfeitamente com esse capítulo)


— Cansado??? Você disse cansado? — ele repete e me analisa.

— É. Eu só perguntei porque não lembro. O que aconteceu comigo, Nero? 

— Cansado... — ele repete olhando para o lado quando sento-me em sua frente — O que foi aquela cena toda na noite passada? 

— Nero, eu não sei do que está falando. Que cena?

— Imagina o quão grave é fingir-se de louco? Isso não é algo que se deva brincar, Victor! Sabendo que esse é meu calcanhar de Aquiles, você usou essa "arma" para me ferir... Isso foi baixo! — Ele altera o tom de voz subindo vários decibéis. 

— Eu juro que não estou entendendo. Só lembro que me dizia algo... sobre o Bernardo e que ia embora.

— Certo. Depois ele se faz de bobo — Nero revira os olhos e fala sem se dirigir a mim diretamente. — Ontem gritou, esperneou, inventou uma cena de novela, hoje se faz de besta porque a realidade bateu na cara. Falei que sexta-feira eu sairia, mas acho que deveria te chutar daqui. Só escuta. Eu tenho sentimentos, coisa que você acha que só gente chorona é quem tem e só porque você é dependente demais, pode ficar um tempo aqui... mas trate de se virar nos trinta para ganhar dinheiro, porque vai pagar aluguel. Te dou três meses de isenção e depois quero dois salários.

— Mas eu não tenho condições... Mal ganho isso por mês. 

— Azar. Devia ter pensado mil vezes antes de falar aquele monte de bosta ontem.

— Nero, eu juro que não sei...

— CHEGA! — exaltado ele soca a mesa fazendo algumas coisas pularem — MERDA!

— Pare de gritar comigo... — não suporto isso e desabo como um homem derrotado na frente de um gigante insensível. Choro então convulsivamente. Confuso e com medo. Eu estou realmente sozinho. Ele me odeia agora e inventou motivos para me prejudicar...

— Me deixou preocupado, seu merda! Agora, se eu sair dessa casa, você vai fazer toda aquela palhaçada de cena para que eu me sinta culpado, para me desestabilizar, digo TENTAR me desestabilizar. Você, se fizer aquilo outra vez, eu chamo a polícia, ambulância, mando enfiar você num hospital psiquiátrico à base de sedativos. Tá me entendendo? PORRA, RESPONDE.

— Sim... — concordo amedrontado sem compreender o que houve, amargurado demais ao ver como ele reverteu as coisas a seu favor e não tenho com o que me defender. Um fio de coragem me impele a questiona-lo — Está dizendo essas coisas porque você quer me acusar de algo. Mas não fiz nada. Não me machuque mais do que já fez ao me acuar por sete anos, depois vindo pedir a separação, confessando ter me traído... teve coragem mesmo? 

— Vou trabalhar. — ele foge do assunto — Só sabe chorar nessa vida. Se eu fosse você, economizava as coisas que é acostumado a esbanjar e caía fora com dignidade. Vire essa página. 

Meus soluços entrecortam minha fala, mas ele nem termina de ouvir enquanto caminha de um lado para o outro ajeitando-se, arrumando a gravata, o cabelo e passando mais perfume. Eu de novo sinto o sufoco, a fraqueza me sacode, tenho a sensação de que posso desmaiar, mas seguro-me, pois não pretendo dar a ele motivos para outro ataque sem lógica. Ele ao sair para seu trabalho bate a porta de casa e eu por meu próprio bem, aviso a empresa sobre meu estado e utilizo o benefício do plano de saúde como raramente o fiz antes. Ainda me acho em condições de dirigir, porque não quero parecer mais indigno de tudo. 

Victor VitóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora