O Segredo Da Prisão

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dois dias após Madeline Stuart morrer

A igreja estava quase vazia, apesar dos muitos fotógrafos do lado de fora. Quem diria que Madeline Stuart, com seus milhares de seguidores, teria um funeral tão vazio? pensou Jackson, sentado no fundo. Anastásia estava ao seu lado, chorando copiosamente, como se tivesse perdido a mãe. Perto do caixão estava Dallas, sem maquiagem e com os cabelos presos num rabo de cavalo frouxo, com algumas lágrimas molhando as bochechas. Roman a abraçava por trás, sussurrando palavras em seu ouvido. Lola olhava para o chão, sentada na primeira fileira, ao lado dos pais, e longe de Aspen, Jackson não conseguia ver se ela chorava. Blaire estava perto do banheiro, seus olhos estavam secos, mas a boca estava em uma linha fina de rigidez. A porta do banheiro masculino se abriu e Aspen saiu, passando os dedos pelo nariz. Depois de todos já estarem sentados, o padre se aproximou do microfone e começou a falar todas as baboseiras que deveria se dizer naquele momento.

Nos fundos, Jackson viu um rapaz, diferente das outras pessoas, ele parecia ser o único que estava realmente triste. Ao lado do desconhecido, a professora da universidade, a senhorita Miss Brooke, também aparentava estar desolada.

— Agora, a senhorita Stuart gostaria de dizer algumas palavras — anunciou o Padre.

A mãe de Madeline se levantou, era como ver uma versão mais velha da falecida. Liana Stuart era uma mulher alta, de pele bronzeada e longos cabelos loiros, estava estrelando mais um filme de Hollywood, os jornais apostam que ganharia mais um Oscar. No entanto, naquele momento, ela parecia a mulher mais infeliz do mundo.

— Eu não... Eu não escrevi nada — disse ela, em seguida limpou a garganta. — Acho que nunca imaginei que enterraria a minha própria filha. Nenhuma mãe gostaria de estar onde eu estou, sentir o que eu sinto. Madeline era a melhor filha que eu poderia desejar...

Ao lado de Jackson, Anastásia fez um barulho engasgado, ele esperou que ela não estivesse chorando de verdade.

—... Nesse momento, olhando para esse caixão fechado — continuou Liana — eu só consigo sentir culpa. Só consigo pensar em todas as coisas que eu deveria ter feito, enquanto ela ainda estava aqui. 

Sem conseguir continuar, a mulher caiu no choro, e foi retirada da frente de todos pelo padre. Dallas se levantou com pressa, se apossando do microfone.

— Olá — começou, aflita. — Eu escrevi algumas palavras, enquanto estava no hospital, sobre minha amizade com Madeline.

— Ah, ótimo — murmurou Jackson, tudo que ele queria era sair dali.

— Eu conheci Madeline em um momento muito conturbado da minha vida — continuou Dallas. — Ela foi meu amparo, meu conforto, minha melhor amiga. Consigo me lembrar de todas as vezes que fizemos uma festa de pijama, Madeline sabia se divertir — a ruiva soltou um soluço, os olhos brilhando com lágrimas. — Ela sempre me fazia sorrir...

Jackson apertou o braço de Anastásia. Dallas parecia emotiva até demais, e por um momento ele sentiu medo do que ela fosse dizer. Porém, quando a garota limpou as lágrimas, encarando o nada, ele reconheceu aquele olhar. Era o mesmo que ela tinha naquela noite.

— Só quero que Madeline saiba, e acredito que ela esteja ouvindo, que sentiremos sua falta — Dallas fitou os amigos. — Todos nós.

🔪🔪🔪

O sol havia se escondido atrás das nuvens, e ventava, era outono e as árvores começavam a perder suas folhas. Jackson encarava enquanto o caixão de Madeline era colocado debaixo da terra, Liana continuava chorando, abraçada por Wesley Parker — ver o pai a abraçando deixava o garoto doente. O padre recitava algo da bíblia. Ao longe, um trovão soou, dando indícios que uma tempestade viria. Não poderia ir embora sem um espetáculo, não é? pensou, lembrando-se de todas as vezes que Madeline transformou situações comuns em shows.

— O pai dela, não o vejo — murmurou Lola, ao lado dele.

— Ele não veio — respondeu Dallas. — Não que eu esteja surpresa.

— Babaca — soltou Aspen, os óculos escuros escondiam seus olhos vermelhos.

— Tem menos pessoas do que pensei que teria — sussurrou Anastásia, sem olhar para eles. — Vocês lembram o que Madeline disse, antes de...

— Não — Roman interrompeu, lançando um olhar. — Não há nada para ser lembrado.

Dois homens começaram a jogar terra em cima do caixão, o choro de Liana e as folhas caindo eram os únicos sons que ouviam, e logo, Wesley Parker a levou embora.

— Não vejo Clarisse, também — disse Jackson, com certa acidez. 

— Ela não gosta de funerais — respondeu Blaire, colocando uma madeixa de cabelo atrás da orelha. — A deixa nervosa.

— A mim também, mas estou aqui, não é? — retrucou Aspen. — Todos fazemos sacrifícios.

— Você mal está aqui — rebateu Jackson. — Já deve ter cheirado um pacote inteiro de cocaína.

— Shhh — ralhou Dallas. — Querem chamar atenção?

Mantiveram-se em silêncio, em seguida, um a um, depositaram as rosas sobre o túmulo. Com isso, as pessoas começaram a ir embora, e era isso. Madeline Stuart, filha de uma atriz famosa, com milhares de seguidores, popular no colegial e na faculdade, brilhante como o sol... E nada disso importava mais. Com o tempo, ninguém mais se lembraria dela, esqueceriam seu rosto, suas palavras. Se esqueceriam dela. 

— Agora fará sucesso entre os vermes — murmurou Jackson, encarando o túmulo.

Anastásia segurou seu braço e o puxou para a saída, todos já estavam indo, era hora de partir. Dallas e Roman caminhavam atrás deles, assim como Lola, Aspen e Blaire, todos olhando para direções diferentes, menos um para os outros. Por um momento, Jackson perguntou como seria a vida deles, agora que Madeline havia morrido. Não demorou muito nesse pensamento, no fim, ele não dava a mínima para qualquer um deles. 

— Preciso de um banho — disse Anastásia, segurando o braço do namorado. — Odeio cheiro de cemitério.

— Acho que ninguém gosta, amor.

— Gente — a voz de Blaire soou amedrontada atrás deles, atraindo a sua atenção. — Os detetives.

Como se tivessem combinado, todos pararam de andar ao mesmo tempo. A detetive Garcia e seu parceiro Clark se aproximavam com passos decididos, e pela primeira vez desde o dia trinta e um de outubro, o olhar presunçoso de Jackson desapareceu. 

— Sr. Parker? — chamou a detetive, o encarando.

— Sim?

— O resultado do laboratório saiu, suas digitais foram encontradas na arma do crime.

— O que? — Anastásia gritou, com os olhos arregalados. — Não! Não é possível!

— Jackson Parker — disse Benjamin Clark, o algemando. — Você está preso pelo assassinato de Madeline Stuart...

Enquanto o policial falava, o rapaz observou a namorada ser segurada por Aspen, enquanto ela gritava com raiva. Os paparazzi tiraram fotos, Dallas e Roman encaravam a cena boquiabertos, e Lola parecia congelada. Antes que o colocassem no carro, Jackson gritou para a namorada.

— Ligue para o meu pai, Ana! Ligue para o meu pai!

Pela janela, ela a viu assentir, com lágrimas — dessa vez verdadeiras — nos olhos. Quando o carro arrancou, pôde ver o contraste das luzes da sirene no rosto de Anastásia.

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