O Segredo Do Estágio

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quatro meses antes de Madeline Stuart morrer

Lola observou o rosto de Aspen enquanto ele dormia. Ele parecia sereno, com a boca entreaberta, respirando devagar. Tinha algumas sardas espalhadas pelo nariz, o que o tornava adorável. Ela desejava que os olhos de Aspen fossem calmos também, sempre parecia que estava tendo uma tempestade dentro dele quando a olhava nos olhos. E por essa razão, e apenas por essa razão, que não conseguia contar ao namorado que queria terminar. Parecia loucura, após tudo o que passou ao lado de Aspen, todas as coisas que relevou, toda a choradeira e brigas. Para, de repente, decidir que não era aquilo que ela queria. Não mais.

Levantando-se, Lola vestiu-se em silêncio e saiu do quarto. Tinha que estar no hospital Mercy West antes das sete da manhã. O estágio não era exatamente o que ela esperava, seria praticamente uma auxiliar de enfermeira, mas ao menos estaria onde a magia acontecia. Quem sabe, com sorte, pudesse ver algumas cirurgias. Assim que chegou, uma enfermeira gentil lhe mostrou a cafeteria e a pequena sala onde ela ficaria.

— É você e mais dois estagiários — informou a enfermeira, ela era baixinha e tinha rugas perto dos olhos. — Eles vão saber te explicar melhor do que eu. 

— Tudo bem — Lola guardou a bolsa atrás da porta. — E você é minha chefe?

— Ah, querida, todo mundo aqui é o seu chefe. Mas vocês reportam a Zelda, a nossa chefe da enfermagem.

— Ela... E por que ela não está aqui?

— Ah, Zelda não tem a menor paciência com estagiários.

Lola assentiu, sentando-se perto da porta. Após alguns minutos, mais dois estagiários chegaram. Um garoto alto, de cabelos escuros e que usava óculos com armação cinza — chamado Andy — e uma garota rechonchuda de cabelos enrolados, Millie. Eles pareciam cansados, mas ainda assim trataram-na com receptividade, e lhe deram o trabalho mais fácil. Apenas organizar alguns prontuários.

— Alguém tem que ir no depósito checar os remédios — disse Andy após atender o telefone. — Parece que alguns sumiram.

— Eu olho — respondeu Lola, prontamente. — Onde é?

🔪🔪🔪

Um, dois... — Lola escrevia na prancheta, enquanto fitava as prateleiras. — Três...

Eu não vou terminar isso nunca, percebeu com aflição. Soltando um suspiro, continuou a contar, não era como se ela quisesse  voltar para casa de qualquer maneira. Antes que pudesse concluir seu pensamento, a porta se abriu: 

— Ah! Que susto! — uma mulher, bem mais velha e com expressão azeda, encarou Lola: — Quem é você?

— Lola Simón. Estagiária.

— Ah, a novata. E está fazendo o que aqui?

— Disseram para eu recontar os remédios — Por que estou me sentindo tão nervosa? — Parece que alguns sumiram...

— Mas isso é ridículo! Caia fora daqui.

— Olha, eu posso me meter em um problemão com a minha chefe... 

— Queridinha — a mulher bateu os dedos no crachá — não sabe ler? 

Lola estreitou os olhos. Zelda... Zelda? A garota deu um sorriso amarelo.

— Ah, eu não...

— Poupe as palavras. Apenas saia logo daqui.

Com raiva e vergonha misturadas em seu peito, Lola saiu do depósito e voltou à sala dos estagiários. Virou-se para Andy com um olhar azedo.

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