Segredos Mortais

O Segredo de Lola Simón

sete meses antes de Madeline Stuart morrer

Lola Simón era filha de artistas. A mãe, Mia Simón é uma pintora mundialmente famosa e o pai Archie um roteirista de cinema. A garota nasceu na França, cercada por museus e eventos artísticos e, no entanto, nunca foi mais feliz do que quando colocou os pés na poluída e barulhenta América do Norte. Onde tudo era cinza e padronizado. Finalmente, ela não precisava ficar tapando o nariz pelo cheiro das tintas de artistas diferentes, nem ficar preocupada em ter que ajudar o pai a conseguir inspiração para um novo roteiro. Lola estava livre para se concentrar em matemática e física, em vez de pintura corporal ou a nova série que seu pai estava produzindo. E ela adorava Nova Iorque. Adorava como as pessoas não fingiam ser simpáticas e gentis, eram todos focados e diretos.

Não via a hora de se tornar uma verdadeira nova iorquina.

E foi nessa tentativa de fugir do mundo artístico que se apaixonou por um músico. Lola Simón conheceu Aspen Trevor. Tudo aconteceu muito rápido, em um momento ela tinha fugido de casa para ir a um bar e em outro momento estava perdidamente apaixonada. Tudo em Trevor lhe chamava a atenção, a maneira como ele cerrava os punhos ao ver outros caras, sua jaqueta de couro, e seu total descomprometimento com a vida. Ele não queria saber de arte, ou séries e filmes, nem mesmo matemática ou ciência. Aspen só queria viver da sua música. E Lola amava isso. Ela só não percebia que, ao fugir da maneira que os pais viviam, acaba se enamorando por uma cópia barata deles. Oh Freud, eu deveria ter uma conversa com você, ela pensou em uma noite, após ouvir o namorado falar sobre acordes por uma hora inteira. Era inevitável, estava apaixonada, tentava ser racional o tempo todo, mas quando estava com Aspen seu cérebro virava mingau de aveia. 

A mãe adorava Aspen, assim como o pai — esse gostava de dizer que o rapaz era badboy em potencial — e logo eles estavam unidos não só pelo amor, mas pelas famílias. Lola amava a mãe do namorado, Elena, ela era professora de inglês da universidade, e mesmo assim era incrivelmente centrada e nem um pouco fantasiosa. Ela também tinha conselhos amorosos melhores do que qualquer outra pessoa, e Lola sempre conseguia se resolver com Aspen.

Foi assim que sua adolescência se passou, tudo dentro dos limites, até conhecer Madeline Stuart.

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Lola estava sentada na primeira fileira para a aula de patologia, a professora Alexia ainda não tinha chegado, portanto, ela começou a analisar os novos alunos que entraram na sala. Uma garota em especial lhe chamou a atenção, estava mais calada que os outros, lendo um livro sobre biologia molecular. O óculos estava escorregando pelo nariz oleoso e o cabelo estava despenteado. Não é uma ameaça, refletiu com um sorriso, acreditava fielmente que a aparência revelava muito sobre o intelecto de alguém. Que tipo de pessoa culta se deixaria ficar num estado tão deplorável? A professora, finalmente, entrou na sala, fazendo todos se calarem rapidamente.

— Boa tarde, alunos — cumprimentou, sem sorrir. — Para informar os novos alunos, na minha aula eu não permito preguiça, desleixo, ou burrice.

Ela começou a distribuir folhas para a turma. Quando chegou perto de si, Lola passou os olhos pelo papel com curiosidade.

— Esse semestre, vocês farão um trabalho que valerá sessenta por cento da nota. Todas as informações estão na folha que entreguei, leiam com atenção, odeio perguntas idiotas.

Era uma pesquisa, onde você deveria trabalhar em cima de uma doença, não só através de seu viés biológico mas também sociocultural. Uau. A aluna nova, que Lola já tinha observado, levantou a mão.

— Sim?

— Como você fará para que não tenha alunos com trabalhos do mesmo tema?

— Eu mesma vou sortear as doenças para cada um. Qual seu nome?