Capitulo 14

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Whit

        Eu me resumo a pouco mais que uma poça de sangue no chão a essas alturas, mas lanço cada grama de magia que ainda tenho contra esses brutamontes. Resmungo cantos, maldições e poemas, e me concentro ao máximo em tudo de negativo que posso encontrar.

        E é, tipo, meio... assustador.

        Sinto essa energia sombria se juntando dentro de mim, crescendo e se tornando uma força que precisa sair do meu corpo e encontrar um alvo. Termino o feitiço com um poema que sempre me pareceu particularmente macabro.

Não mais um olho brilhante — não mais uma voz sonora ou um passo ágil;
Agora o olho, a voz, as mãos, os passos de um escravo,
Hálito de bêbado, rosto carcomido, carne venérea,
Pulmões apodrecidos, estômago azedo e canceroso,
Juntas reumáticas, tripas entupidas de ódio...

        Antes que termine de pronunciar as palavras de Wallace Shipton, os leões de chácara da Nova Ordem se dobram ao meio, vomitando o almoço sobre seus coturnos brilhosos, e sangue começa a escorregar dos lábios dos cidadãos, manchando suas roupas chiques.

        — A Peste do Sangue! — resmungo por entre meus lábios inchados. — Estão todos contaminados!

        Quando a ficha cai, cidadãos e soldados, igualmente em pânico, se viram uns contra os outros rapidamente, com uma brutalidade assustadora. Saio mancando e me afasto da confusão assim que a pancadaria começa, soldados e executivos caindo uns sobre os outros como cachorros, todos tentando atingir a jugular do oponente.

        Paro por um segundo na esquina; ainda dá para ouvir os gritos que vêm do beco. A culpa por ter provocado ainda mais violência me devora; aposto que não é bem isso que as Profecias tinham em mente. Chego a pensar em voltar para lá e curar todo mundo.

        E então me lembro daquela mulher sem forma, queimada e amarrada ao poste, e meu coração endurece de novo, agora com uma compreensão nova e muito mais amarga desse mundo em que vivemos. Quero mais é que eles se destruam.

        Permito que meu disfarce desapareça enquanto ando pelas ruas. E, mesmo assim, não me sinto eu mesmo.

Bruxos e Bruxas - O FogoWhere stories live. Discover now