Capitulo 6

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Wisty

        É como se eu estivesse nadando, meu cabelo ruivo e comprido flutua ao meu redor. Estou nadando, meus óculos de natação estão embaçados e meu tanque de oxigênio acabou de se esvaziar. Meus pulmões queimam tanto que, por um segundo, acho que vou pegar fogo, e é a primeira vez que consigo sentir isso. A menina que consegue se incendiar. Mas que Dom mais legal, né? Só que não.

        Tem um montão de gente ao meu redor, mas ninguém se parece com meu irmão. Cadê o Whit? Eu me lembro vagamente de ele me carregar por aí, mas o que aconteceu desde então? Será que ele está doente? Ou está sendo torturado em algum lugar pelos caras esqueléticos que me capturaram?

        Duas crianças olham lá de cima para mim, cutucando meu braço com uma vareta. A mais alta, uma sardentinha exibida com um dente quebrado, está respondendo ao que a outra perguntou.

        — Ela é a bruxa ruiva, bocó. Mas não é lá essas coisas pelo jeito, né?

        Tento me concentrar mesmo com toda a dor que estou sentindo e reúno todas as minhas energias para mandar um olhar penetrante e mafioso para a fedelha. Para minha satisfação, elas saem de perto de mim, morrendo de medo.

        — Ela vai nos transformar em ratos! — a sardenta grita.

        Ah, minha reputação é famosa mesmo. Não sei por quê, me dá um grande alívio saber que ainda consigo meter medo nas crianças.

        Exausta, caio no meu sono acolchoado mais uma vez.

        Quando abro os olhos de novo, já está escuro e vejo velas espalhadas em tudo quanto é canto. Todo mundo que está na sala parece meio chocado, como se tivesse acabado de receber as piores notícias do mundo. Meu coração quase sai pela boca, mas daí vejo meu irmão. Ele está do outro lado da sala, ao lado de uma menininha meio encardida, e meu alívio é tanto que quase desmaio de novo. Queria conseguir chamar a atenção dele, mas não tenho forças para me mexer.

        Um homem mais velho, com o rosto marcado e uma trança comprida caindo pelas costas, está liderando um tipo de vigília. Essas pessoas, seja lá quem forem, perderam alguém. Meu coração dói por eles; também conheço esse sentimento de perda.

        Pode acreditar.

        — Mas não vamos deixar que eles tirem tudo de nós. — O homem marcado pelo tempo olha no rosto de cada um, os olhos cheios de coragem. — Vamos cantar pela família. Vamos cantar pela esperança.

        O grupo de sobreviventes sujos e magrelos dá as mãos, e quase não há espaço suficiente para todo mundo nessa sala minúscula. A sala brilha à luz das velas, e o vidro quebrado pendurado no teto resplandece.

        De repente, começa a cantoria.Eles começam a cantar baixinho, mas, à medida que outras vozes se juntam ao coro, o volume aumenta, como as vibrações de um sino ou daquele som meio fúnebre que sai quando você passa o dedo pela borda de um copo. Do tipo que você sente bem dentro de si.

        É tão lindo que quase dá vontade de me virar para o outro lado.

        Quando percebo o que estão cantando, é como se uma flecha atingisse meu peito. “Noite... feliz.” Mesmo enterrado em tanta dor e saudade, vejo o rosto expressivo do meu pai cantando a letra dessa música na véspera do Feriado, e ouço a voz doce da minha mãe cantarolando o refrão. Um soluço fica estacionado em minha garganta enquanto acompanho a melodia familiar com um sussurro e lágrimas escorrem por minhas bochechas.

        Faço contato visual com Whit do outro lado da sala. Ele está olhando para mim como se seu coração estivesse partido, como se estivesse dizendo adeus. Para mim. Faço que não com a cabeça. Não. Não.

        A luz das velas está ficando embaçada de novo. Estou me afogando em escuridão.

        Noite... feliz.

        Mas não estou pronta para partir.

        Ainda não.

Bruxos e Bruxas - O FogoWhere stories live. Discover now