Josh

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Tento prestar o máximo de atenção possível mas é difícil aguentar, já são duas horas de um seminário sobre como agradar um cliente com boas idéias. Estou cansado porém não posso ficar mais do que alguns segundos sem prestar atenção na aula. Na faculdade não se pode vacilar ou então você perde algum conteúdo importante e bye-bye sossego.

Krystian está do meu lado, vez ou outra encosto minha cabeça no seu ombro. Ele faz faz carinho na minha nuca porque sabe que eu odeio essas maratonas de seminários. Ele me conhece bastante.

Quando finalmente fomos liberados. Me vi sentando no chão em frente ao auditório. É bom respirar um pouco. Ar livre. Meus órgãos estão fazendo uma festa de agradecimento por devolver-lhes a vida.

- Você está bem? - Krys pergunta quando se aproxima de mim.

- Sim - respondo -. Por quê?

- Talvez eu esteja perguntando porque você está vermelho como um tomate e jogado no chão - ele brinca -. Mas só talvez, não é certeza, não!

Eu rio e estendo minha mão pra que ele me ajudasse a levantar, assim ele fez. Solto um riso quando meu corpo se choca contra o seu. Vejo ele ficar mais vermelho que eu. Krys quebra o silêncio vergonhoso.

- Quer tomar um sorvete?

Faço um sinal de assentimento coma cabeça e a saímos em direção à, agora chamada, lanchonete Now United. Perguntei pra Sabina, uma vez, se ela sabia o por que de a lanchonete ter esse nome, "agora unidos". Ela me respondeu que o chefe dela disse que o objetivo da lanchonete era reunir os amigos e que nada era melhor que isso num dia de tédio.

Com a reforma feita na lanchonete, tudo está mais bonito. Espaçoso. Eu diria até mais moderno também. O novo dono está apostando alto nesse agradável lugar, e eu gostei.

Depois que me sento na cadeira, estranhamente, confortável, vejo Heyoon do outro lado da lanchonte, ela está acompanhada da Any e a Diarra. Espero até que ninguém esteja nos vendo e então aceno pra ela, logo ela retribui.

Acho ridículo o fato dela não querer falar comigo na frente das pessoas por causa dessa personagem de boa moça que ela inventou. Tenho certeza que ninguém ligaria se ela fosse minha amiga... Ou ao menos me desse um "oi, como você está?" na frente das pessoas. Não entendo, porém respeito, eu acho.

Volto a olhar pro Krys que agora está acenando pra Sabina pra que ela viesse nos atender.

O dia hoje está frio mas ainda bonito. São Paulo tem essa incrível habilidade de sempre estar ligeiramente agradável. Agradeço muito por isso porque se meu pai me tirasse do Canadá e me jogasse em algum buraco de cidade que só chove ou que só faz sol, eu iria matar ele. Enquanto isso ele está lá com a esposa e o filhinho que ele pediu a god. Não que eu queira voltar pra lá, longe disso, mas ele podia ao menos ligar de vez em quando.

- Josh, onde você está com a cabeça? - Krys me tira desse transe no qual eu me encontrava.

- O quê? O que foi? - falo meio atrapalhado, tentando ao menos fingir que não estava pensando no meu maior problema. Minha "familia".

- Sabina perguntou o que você quer - ele repete, talvez.

- Ahn... Batata frita! - peço a primeira coisa em que penso.

- Ok, volto já, anjinhos! - Sabi diz sorridente e sai.

- No que estava pensando? - Krys me questiona.

- Sobre o porque de o céu ser azul! - falo e não posso evitar um riso de canto de boca.

- Não vem com essa, criança - ele cerra os olhos e balança a cabeça em negação -. Eu te conheço e você sabe disso!

- Será que conhece mesmo? - deixo a dúvida no ar porque ele não sabe metade da minha história mesmo sendo meu melhor amigo. Infelizmente não posso contar tudo pra todos.

- Claro que sim - ele afirma -. Sei até do peixe do Noah que você matou no mês passado.

Eu rio... de nervoso.

- Como é que você sabe disso? - pergunto incrédulo.

- Não vou contar! - ele mostra sua língua pra mim.

Acabo por perceber que por mais que eu tente mudar isso, as pessoas tem segredos. Só que algumas tem mais que outras.

Talvez eu fique até mais aliviado em saber disso. É difícil suportar o fato de que você está sempre escondendo tudo de todos.

Medo... medo... medo...

Acho que tudo não passa de medo de ser julgado. A humanidade tem isso de sempre querer parecer invisível pra's outras pessoas. Pra que elas não vejam seus medos. Suas alegrias. Suas fraquezas. Seus sonhos inimagináveis... Seus segredos.

ᴀᴜᴛᴏ ɪɴsᴜғɪᴄɪᴇɴᴛᴇ  ✰  ɴᴏsʜ/sᴀʙɪʟᴇʏ/sʜɪᴠɪɴᴀ  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora