ᴀᴜᴛᴏ ɪɴsᴜғɪᴄɪᴇɴᴛᴇ ✰ ɴᴏsʜ/sᴀʙɪʟᴇʏ/sʜɪᴠɪɴᴀ ❖ Now United

Bailey

- Oi, garoto lindo que está me vendo. Queria te falar que você nunca devia ter vivido sem a Sabina. Ela é o melhor pra você. Na verdade, o amor é o melhor pra's pessoas. Parece que o tempo passa voando! - falo com o reflexo do espelho que mostra meu corpo seminu.

Literalmente, o tempo passa voando. Parece que foi ontem que eu tive que me desculpar com a Sabina por causa do mal entendido que houve a mais ou menos um mês. UM MÊS. Desde lá, começamos a conversar bastante. Ela é uma garota legal e, finalmente, descobriu que eu não sou um riquinho mimado como ela pensava.

Minha principal prova de que não sentia apenas um sentimento carnal, foi que consegui um novo emprego pra ela. Que não tem nada de novo. Como eu fiz isso? Vou explicar já que estou num banco de Praça, em frente ao restaurante, uma hora adiantado para o meu jantar com a Sabina.

Foi assim... A lanchonete na qual Sabina trabalhava sofreu uma reforma. Porém ainda é uma lanchonete, e agora se chama Now United. Obviamente Sabina não foi contratada nesse novo estabelecimento - que não tem nada de novo pra nós -. Foi aí que eu bolei um plano, modéstia parte, infalível... Eu mandava alguém entrar lá dentro, olhar tudo e perguntar pela Sabina, o moço dizia que não sabia quem era ou que ela não trabalhava mais ali. Então a pessoa ia embora sem comprar nada. Fizemos isso umas duzentas vezes até o cara que trabalha lá perguntar quem é Sabina, passaram o contato dela e cá estamos nós, três semanas depois de ela ter sido contratada, comemorando. Só eu e ela. Together. E eu querendo desafiar a lei da fisica que diz que corpos diferentes não podem ocupar o mesmo espaço. Queria que estivéssemos united. Como um só.

Falta cinco minutos pra's oito e decido entrar no restaurante. Aqui não é muito luxuoso já que Sabina disse que isso não combinava com ela e insistiu pra que fossemos num lugar simples. Eu aceito, assim como tudo que ela me propõe. E por falar em propor, confiro mais uma vez no bolso da jaqueta se o anel que vou dar pra ela quando pedí-la em namoro ainda está lá.

Agora é um daqueles momentos que você faz e refaz uma cena na sua cabeça como se fosse um escritor produzindo uma peça de teatro. Nada pode dar errado. Não hoje.

Quando a magnífica futura-mãe-dos-meus-filhos passa pela porta do restaurante, sinto minha barriga esfriar como nunca havia sentido antes. Hoje é o melhor dia da minha vida. Comprimento-a. Ficamos num papo super gostoso e a alegria de ambos contagia qualquer um que invente de tentar estragar esse instante tão... Não tenho palavras pra descrever, juro.

Depois de o pedido ter chegado à nossa mesa, finalmente tomei vergonha na cara e decidi que esse era o melhor momento de eu pedir ela em namoro. Coloquei minha mão, gelada de medo, dentro do bolso e tirei a caixinha vermelha que continha o anel dentro, por debaixo da mesa, pra que ela não visse. Minha mãe vai gostar de saber que eu não sou mais um moleque e amadureci, e eu vou gostar de mostrar pra ela o motivo do meu amdurecimento, Sabina Hidalgo.

Respirei fundo, tomei coragem e atrapalhei a fala dela sobre como a lasanha estava esplêndida pra começar meu discurso que estive elaborando à várias madrugadas.

- Sabina, eu preciso te falar uma coisa - digo e ela assente com a cabeça. Meu coração vai explodir -. Desde que te vi pela primeira vez, a mais ou menos dois meses atrás, meu coração sempre toca num ritmo que até mesmo o maior músico de todos os tempos desconhece. É como se meu coração sentisse uma abstinência de você, então faço questão de te ligar todos os dias pela manhã pra suprir a necessidade do meu coração de ouvir tua linda e doce voz. Você deve me achar um chato por eu te perturbar todos os dias, né?

- Bailey... - ela tenta falar alguma coisa mais eu não deixo porque tenho medo que ela me faça esquecer tudo que eu planejei dizer nessa noite.

- Por favor, Sabina, apenas escute-me - peço e ela atende meu desejo -. Arghh! Mesmo que eu tente, nunca vou conseguir explicar isso que eu sinto. Até se soubessem o que o amor significa, seria difícil pra mim. Você me mostrou novas coisas e mudou meu jeito de pensar sobre praticamente tudo. Você é a escritora aqui mas eu que te tenho como uma musa inspiradora. E, sim, eu te amo mesmo com seus defeitos. Apesar de eu achar que você não tem, nenhum. Porém tenho que dizer isso porque, infelizmente, somos todos humanos e erramos - pauso,respiro um pouco e mostro a ela o anel que quero presenteà-la -. Sabina Hidalgo, você aceita namorar comigo?

Meu coração, a essa hora, estava alternando entre um samba e um hip-hop dentro da minha caixa torácica. Ela estava em silêncio. Aparentemente, meio chocada com tudo o que aconteceu agora. Não a culpo, mas me permito repetir a pergunta.

- E então, aceita namorar comigo?

Ela olha no meu rosto. Continua calada. Estou apreensivo, inquieto. Meu olhos vêem sua mão se movimentar e pegar o seu celular. Será que ela vai contar pra sua mãe antes mesmo de aceitar? Espero que seja isso. Porém não vejo animo nos seus lindos olhos castanhos.

- Alô? - ela diz no que parece ser uma ligação - Você me deve cinquenta reais, miga. Eu disse, ele ia me pedir em namoro no quarto encontro. Os homens são todos iguais. Você acredita que ele ainda teve coragem de falar de amor? Ele mal me conhece -. O tom alto e claro de sua voz invade meus ouvidos como uma bomba. O que está acontecendo?

- Sabina, do que você está falando? Eu te amo, e é sério. Eu mudei por você, e pretendo mudar mais ainda...

- Como eu imaginava, ele é só mais um humano sem maturidade alguma pra viver na sociedade atual - Ela fala bem alto, me impedindo de falar, então recolhe suas coisas e sai como se tivesse pedido um sorvete e ido embora automaticamente.

Não posso deixar de ver as pessoas olhando pra mim. Não posso deixar de soltar a lágrima que agora escorre no meu rosto. Me vejo sem chão, ao contrário do que eu imaginava, que era tirar a Sabina do chão com um abraço apertado. Agora só quero que o tempo passe e eu esqueça tudo isso.

Tudo planejado detalhadamente pra isso. Pra eu me sentir um lixo, um encosto. Pra eu voltar a me sentir um ser-humano novamente. Coisa que eu jamais sentia quando estava com a Sabina. Aliás, porque estou pensando nela? Ela não me merece, nenhuma mulher me merece. É por isso que meu pai sempre falava que não se devia confiar em gente desse tipo. Agora entendo-o.

Precisou que eu derramasse minhas lágrimas, pra eu aprender a não me misturar e, principalmente, a não confiar em ninguém.