— Lisa
— Lisa Manoban, 19 anos. Nacionalidade tailandesa. Suspeita de participação no assassinato e ocultação do cadáver de Roseanne Park.
Lisa encarou as mãos, as unhas longas e quebradas, cheias de sujeiras nas pontas. Se olhasse por muito tempo o investigador ou qualquer ponto da sala, sua cabeça doía. Ainda não tinha decidido se era pela luz incomoda, que estava prestes a queimar, ou se era pelo olhar dele. Ele, o investigador, era um forasteiro como ela, enviado especialmente para investigar o assassinato suspeito de uma garota que ainda tinha muito para viver e consequentemente, estava ali tentando tirar qualquer mínima informação de Lisa, presa naquela sala cinza e pequena, sem janelas e com cheiro de mofo.
— Lisa, por favor, eu preciso que você preste atenção no que eu estou falando — ele disse, dessa vez quase como se sentisse pena. — Você ainda não tem um advogado, sua mãe não pode pagar um. — As folhas são passadas, várias em cima da mesa de aço. — Dentre todas as suspeitas, é a que mais tem chances de ir a julgamento...
Aquele homem era jovem, usava um óculos antiquado, dos anos 70 talvez, vivia escorrendo até a ponta do nariz. Deveria malhar regularmente, os músculos saltavam pela camisa de botões listrada. Os olhos eram de um castanho claro e viviam inquietos. Lisa gostou dele porque, diferente do delegado, ele parecia se importar.
— Você está aqui há horas e eu sei que não quer ficar mais e...
— Qual o seu nome? — A pergunta saiu quebrada. Tinha tanto tempo que não se ouvia que parecia tão ou mais surpresa que o próprio investigador.
— Jackson Wang, da divisão de homicídios de Seul.
— Jackson Wang... — O sotaque fez as primeiras sílabas se tornarem mais acentuadas. — Então, Jackson, você acha que eu vou ser presa?
— Eu nunca disse isso, mas você conhece as circunstâncias.
— As circunstâncias... — repetiu, dessa vez com um sorriso debochado no rosto. — Filha de prostituta...
— Na verdade, passagem na polícia por roubo de uma pulseira da vítima.
— Como você disse, foram as circunstâncias.
Lutou contra as lágrimas para dar a melhor cara de durona, mesmo que estivesse com sede, com fome e com medo do que poderia acontecer dali em diante.
— Eu posso te ajudar, Lisa. — Ele se inclinou suavemente sobre a mesa de metal, ajeitando os óculos no rosto. — Só precisa me dizer qual foi a última vez que viu Roseanne com vida.
E deveria dizer? O que mudaria se dissesse? Poderia acabar assinando sua sentença de morte ali mesmo. Era uma garota despreparada, amedrontada e que precisava confiar num policial que conheceu a menos de 24 horas.
Apesar que "confiar" era um termo muito forte, nunca poderia confiar em quem estivesse tentando incriminá-lá, só poderia torcer para que ele não tivesse um quinto da maldade da garota morta.
— A última vez que vi Rosé foi em uma festa, na mansão do prefeito.
(12 de março de 1995 - 1 dias antes)
— O que acha que Ruby está fazendo?
— A pergunta é: o que acha que Ruby vai fazer? — Kai sussurrou. — E eu não sei a resposta pra nenhuma das duas... ei! Você não acha que está bebendo demais? — Ele puxou a garrafa de vinho das mãos da namorada, mas Jennie apenas riu, rodopiando pelo quarto.
As persianas do quarto de Kai faziam um bom trabalho em tapar qualquer resquício de luminosidade no cômodo. O quarto era tão grande e cheio de móveis expansivos que, para Lisa, a festa poderia acontecer ali dentro. Achava problemático deixar um bando de adolescentes com tanto espaço em potencial para fazerem merda, soltos e bêbados, mas a casa não era dela, muito menos a festa.
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Não conte nada a ninguém
Fanfiction(CONCLUÍDA) Em Huimang Hill nunca faz calor demais ou frio demais. Não há problemas em Huimang Hill, tudo é ornamentado com orquídeas, sol, felicidade e bons modos. Os pais de família são homens benevolentes, as mães são submissas e sorridentes, os...