(16 de março de 1995)
— Lisa
Assim que Lisa abriu os olhos, encarando o teto alto do quarto de Kai, soube que era melhor ter continuado dormindo. A dor que tomou conta da sua cabeça fez com que pequenos pontinhos pretos dançassem pela sua visão embaçada.
A nossa mente é bastante engraçada, não é? Ela nos protege de tantas variáveis e situações, ela nos conhece mais do que achamos que a conhecemos e, naquela manhã, Lisa acordou sem saber o que sucedeu depois que Jisoo acertou Rosé na cabeça.
Se sentou na cama de Kai, passando a mão pelos fios platinados. O sono bagunçava suas ideias, os lençóis brancos se enroscavam nas suas pernas. Algo havia acontecido, sentia-se suja, como se sua mente escondesse mais do que poderia suportar saber.
A porta do banheiro foi aberta e o vapor quente saiu primeiro que Kai, escovando os dentes e sem camisa, mostrando o abdômen que trabalhou muito para ter naquelas férias. Lisa puxou o lençol até os ombros, cobrindo o sutiã de pano. Ele demorou o que pareceu uma década para perceber que ela estava acordada, com mais perguntas do que respostas na ponta da língua.
— Onde está Jennie? — perguntou ela.
Ele tirou a escova de dentes da boca.
— Veste uma roupa, vamos encontrá-la agora.
A segunda e maior dúvida de Lisa era a que tinha mais medo de perguntar. Tinha medo de todas as consequências do que fez ou não para estar seminua na cama de Kai. Deveria ouvir mais Lawan, não? Por mais que Kai fosse fora da curva, por mais que tivesse a acolhido quando chegou a Huimang Hill e a tratado como trataria uma garota comum. Kai não via Lisa como uma presa fácil por ser estrangeira e filha de uma prostituta, mas ainda sim, ele era um garoto.
— Kai — chamou Lisa. Ele se virou, acabava de calçar os sapatos. — Nós... dois...?
Não conseguiu dizer com todas as letras, um bolo na garganta a impedia de perguntar. Ele sentou na beirada da cama, os olhos castanhos e límpidos iluminados pelo Sol da manhã.
— Não. Você escolheu ficar aqui, lembra? Depois que Rosé... enfim, você não quis ir com a gente.
Lisa maneou a cabeça, confusa.
— Ir...?
Kai pareceu pensar nas palavras. Uma inquietação formava entre os dois, porque algo de errado aconteceu, porque Jennie não estava ali e Jisoo golpeou Rosé com força o suficiente para machucá-la.
— Vista suas roupas e me encontre na garagem, eu não consigo explicar, você precisa ver — respondeu Kai.
Lisa apertou com força o lençol, observando-o pegar uma camisa e sair porta afora.
✢
A primavera era sinônimo de renascimento, de começo, de retorno às aulas e novas possibilidades, mas as flores não floresceram como deveriam naquela primavera. A paisagem se encontrava inacabada, como se transparecesse cinco juventudes interrompidas. Lisa fechou o zíper da jaqueta verde que ganhou de Kai. O cheiro dele era semelhante ao cheiro de Jennie.
Inspirou fundo e fechou os olhos.
— Você não vai me dizer nada? — perguntou.
O monza estava frio. Kai sempre o esquentava antes de começar a dirigir, mas dessa vez, ele apenas arrancou com o carro e não deu uma resposta plausível para as perguntas que rondavam a cabeça de Lisa. Não por arrogância ou soberba, Kai era um garoto de palavras, ele sabia quando usá-las e quando não usá-las. A falta de uma resposta também era uma resposta.
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Não conte nada a ninguém
Fanfiction(CONCLUÍDA) Em Huimang Hill nunca faz calor demais ou frio demais. Não há problemas em Huimang Hill, tudo é ornamentado com orquídeas, sol, felicidade e bons modos. Os pais de família são homens benevolentes, as mães são submissas e sorridentes, os...