Não conte nada a mamãe

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— Jennie Kim 


Jennie analisou o livro como se ele fosse uma bomba relógio, observando o desenrolar de cada letra da dedicatória de Kai, depois o mapa; sempre soube que a morte de Amber era rodeada de mistérios, mas nunca pensou que Rosé fosse a chave para eles. Na verdade, ela seria a última pessoa que poderia imaginar saber algo sobre a morte dele. Até o dia na cabana.

Seria mentira dizer que não ficou um pouco feliz pela morte de Rosé. Queria que fosse de outra forma, que Lisa não tivesse culpa, queria trocar de lugar com ela e não se arrependeria nenhum pouco de sujar as mãos. Voltaria naquele dia, não para impedir a morte de Rosé, mas para fazer o serviço no lugar de Lisa.

Guardou tudo debaixo da cama e, quando voltou a se deitar, ouviu gritos ao longe. Jennie se levantou novamente e abriu a janela, tentando ver alguma coisa no escuro, mas foi diminuindo progressivamente até não restar nenhum barulho. Sentia o sangue bombear, potente em seus ouvidos. O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi em Lisa sendo pega, mas não se permitiu pensar demais sobre isso. Se deitou, puxando a coberta para tapar a cabeça.

Lisa era uma garota esperta, não seria pega.

As horas se passaram rapidamente, não conseguiu dormir e, ao abrir os olhos, o quarto já estava claro. A calmaria era perturbada pelos passarinhos cantando na janela e os funcionários chegando à mansão. O cheiro de pão assando na fornalha a encheu de fome, mas tudo foi por água abaixo quando a porta do quarto foi aberta — aberta é um termo bastante delicado, talvez arrombada seja a palavra certa —, e Kai entrou como um furacão, fechando-a num estrondo atrás de si.

Jennie se levantou, em alerta, observando-o tirar a camisa suja de sangue, com uma expressão completamente transtornada. O rosto dele estava uma bagunça. O nariz parecia deslocado e sangue coagulado deixava tudo mais inchado ainda. As maçãs do rosto estavam esfoladas e a sobrancelha esquerda havia se desprendido, caída, quase tampando o olho.

— O que aconteceu com você?

Quando estava na metade do caminho, Kai a impediu de se aproximar. Na verdade, não estava preocupada com ele, estava preocupada com Lisa.

— Eu briguei com uma vagabunda, mas dei um jeito nela. Longa história. — Ele tirou as calças, caminhando nu para o banheiro.

Vagabunda? Se fosse Lisa, ele teria usado essa ofensa? O coração de Jennie se apertou, dolorido.

— E você não chamou a polícia?

— O que a porra da polícia poderia ajudar? — Alguns pingos de sangue vazavam do nariz dele e acertavam o azulejo do banheiro. Kai entrou debaixo do chuveiro, mudando a temperatura antes de ligar. — Eles são um bando de inúteis, imprestáveis que não sabem fazer nada sem que meu pai mande!

Jennie abriu a boca, depois fechou, em choque. Kai pareceu notar o que disse e se virou, deixando a água do chuveiro descer pelas costas.

— Me desculpe, amor. Eu estou estressado com tudo e... e acabei fazendo merda.

— E falando merda — disse baixinho.

— Chame a governanta para me fazer um curativo. — A voz dele saiu abafada e baixa pelo barulho do chuveiro. Jennie ficou agradecida por não precisar atuar mais, rodou os calcanhares para voltar no quarto, porém, antes que chegasse à porta ele a chamou novamente. — Ruby... você ouviu algum barulho ontem de madrugada?

— Barulho? — Fez uma careta. — Não ouvi, tive a melhor noite de sono desde... você sabe.

Kai balançou a cabeça em afirmação, mandando-a deixá-lo sozinho.

Não conte nada a ninguémOnde histórias criam vida. Descubra agora