|Capítulo 8 | II

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II.

Três anos antes

Desço do banco alto, sentindo minhas pernas estranhas. Meus pés descalços amassam o tapete felpudo da sala e ele faz um pouco de cócegas em meus dedos.

Sem pensar muito, alcanço o controle remoto e ligo a TV.

A tela abre em um jogo de futebol americano, mas eu estudo o controle por um segundo antes de conseguir abrir o menu da Netflix. Centenas de opções disponíveis rolam pela tela, mas uma em específico chama a minha atenção e eu clico.

— O que é isso? — Samwel entra na sala.

Ele carrega uma bandeja com dois pratos, copos repletos de um liquido escuro e alguns temperos.

RuPaul Drage Race.

— Esse é aquele Reality Show sobre drag queens?

Ele conhece.

— Você já assistiu?

Ele apoia a bandeja na mesa de centro e olha para mim.

— Não é exatamente o meu tipo de coisa, Tatiana. — Ri um pouco.

Eu levanto minhas sobrancelhas.

— Isso quer dizer que você não sabe o que está perdendo. É o melhor programa de drag queens da face da Terra!

Ele me olha de um jeito que diz que me acha uma idiota ou uma fofa, não consigo distinguir.

— Oh. É mesmo?

— Sim! — Me empolgo — Você precisa assistir isso! A competição é muito acirrada e as drags são tão engraçadas.

Ele ri.

— Você gosta mesmo desse programa.

— Eu amo esse programa! — Suspiro. — As maquiagens são incríveis. Eu tenho algumas competidoras preferidas, mas eu vou deixar você escolher as suas. Deixe-me escolher uma boa temporada. Sua cabeça vai explodir. Pchiiuuu...

Ele sorri tranquilamente, mas não diz nada.

Eu vasculho o menu, enquanto ele volta para pegar as nossas bebidas, e decido pela sexta temporada. Há muita disputa de interpretação e a Bianca Del Rio arrasa com seu humor sarcástico.

— Pronto. Vamos dizer olá para a Mama Ru.

— O quê? — Sua testa franze.

Eu rio, me deliciando com a ideia de apresenta-lo a algo tão legal.

— Esqueça, só assista.

Eu dou play no controle e nós nos sentamos no chão, antes de alcançamos os pratos sobre a mesa. Confetes, purpurina e vários enchimentos de seios tomam conta da tela.

Eu amo esse programa (corações, corações e beijos)!

Quinze minutos depois, Samwel termina seu prato e volta para enche-lo novamente na cozinha. Eu devoro a massa, porque isso está realmente delicioso.

— Isso aqui está ótimo, Ratatouille [1]. Eu não tinha ideia de que você cozinhava tão bem — admito. — O que mais você pode fazer com uma colher de pau?

Ele volta para o seu lugar ao meu lado, sentando alguns centímetros mais perto, tão próximo que o tecido de sua manga flerta com o meu ombro direito e o calor de seu corpo é inevitável.

Com o prato espalmado na mão, ele olha para mim de um jeito engraçado.

— Colher de pau, huh? — sorri, maliciosamente.

Por Trás das Aparências (RETIRADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora